Segundo CEO do laboratório Mendelics, existem ao menos 50 mil casos de câncer não diagnosticados desde 2020

Após dois anos de pandemia do coronavírus, a preocupação com o câncer só aumentou, pois os laboratórios notaram que o número de exames para o diagnóstico de câncer caiu pela metade. Nos pacientes já diagnosticados, a interrupção do tratamento foi predominante. Para se ter uma ideia, o caso de abandono de pacientes com câncer de mama acompanhados pelo SUS chegou a 75% nas principais capitais.

Segundo estimativa do INCA – Instituto Nacional de Câncer, o Brasil deve chegar à marca de 625 mil novos casos de câncer por ano entre 2020 e 2022. Com estes dados, especialistas como David Schlesinger, médico geneticista e CEO do laboratório Mendelics, temem pelo aumento de casos avançados de câncer no país nos próximos anos.

O médico responde, abaixo, as principais dúvidas sobre o assunto:

Houve queda no diagnóstico de câncer por conta da pandemia? Quanto?

R: Sim. Em 2020, os exames de diagnóstico de alguns tipos de câncer caíram 75%. Por isso, estima-se que ao menos 50 mil casos de câncer deixaram de ser diagnosticados.

Existe o real perigo de uma epidemia de casos avançados de câncer no Brasil?

R: Sim. Quanto mais tempo se leva para diagnosticar a doença, mais ela avança. O câncer é uma doença silenciosa e pode levar meses para apresentar sintomas. No Brasil, a maior parte dos casos são diagnosticados tardiamente, quando a doença já está em estado avançado. No caso do câncer de pulmão, por exemplo, o diagnóstico tardio chega a 80% dos casos. Com a pandemia, esse cenário piorou significativamente. Somente os exames preventivos e diagnóstico precoce podem reverter esse cenário.

Quais os principais efeitos que podem ser causados pela não realização ou realização tardia dos exames?

R: O diagnóstico tardio diminui as chances de cura. A taxa de mortalidade por câncer aumenta conforme o tempo de atraso no diagnóstico e, consequentemente, do tratamento. Intervenções cirúrgicas, quimio e radioterapias têm maiores chances de serem bem sucedidas se feitas logo no início da doença.

O que é câncer hereditário e quando procurar por exames para detecção deste tipo da doença?

R: Os cânceres hereditários ocorrem quando o indivíduo herda mutações genéticas que aumentam o risco de desenvolver a doença. Indivíduos com muitos casos de câncer na família, principalmente casos precoces (abaixo dos 50 anos), têm mais chances de possuir alterações genéticas que causam câncer familial (hereditário) e devem procurar acompanhamento médico para investigar essa possibilidade. O exame genético pode determinar quais mutações foram herdadas e quais tipos de câncer a pessoa está mais propensa a desenvolver. Com essa informação, o médico pode orientar o paciente sobre mudanças de hábitos  e oferecer acompanhamento personalizado para prevenção e detecção precoce de câncer.

Quais os tipos de câncer hereditário existentes? E quais tipos de exames podem ser realizados?

R: Existem mais de 50 síndromes de câncer hereditário documentadas. Essas síndromes estão associadas a alterações em diversos genes e podem ser identificadas por testes genéticos. Na Mendelics, oferecemos mais de 30 exames para identificação de câncer hereditário, sendo os principais o Painel de Câncer de Mama e Ovário Hereditários, o Painel de Câncer Colorretal Hereditário, o Painel de Câncer de Próstata Hereditário e os Painéis de Câncer Hereditário.

Como é realizado o exame e quando ele deve ser realizado?

R: Como as alterações genéticas associadas ao câncer hereditário são passadas de uma geração para outra e estão presentes desde o nascimento, elas estão em todas as células do corpo. Por isso, o exame pode ser feito a partir de uma amostra de mucosa bucal ou sangue. O médico pode indicar o exame genético para verificar, de forma preventiva, se o paciente tem um risco aumentado de desenvolver câncer ou para diagnosticar, em pacientes que já desenvolveram a doença, se trata-se de um câncer hereditário.

Como os exames genéticos podem ajudar no combate ao câncer?

R: O exame pode ser feito de maneira preventiva com indicação médica, mesmo que a doença não tenha se manifestado, para verificar se há um risco aumentado de desenvolver câncer em pessoas com histórico familiar, por exemplo. Dessa forma, o paciente pode ter um acompanhamento médico personalizado voltado para prevenção e diagnóstico precoce, caso a doença venha a se desenvolver. Além disso, o exame genético também é útil para o diagnóstico de câncer hereditário de pacientes que já desenvolveram a doença, pois esta informação auxilia na definição do melhor tratamento e possibilita ações preventivas de seus familiares.