Nutróloga Esthela Oliveira explica como as altas taxas de gordura no organismo podem ser o principal fator de risco entre pacientes jovens contaminados

Estudos realizados desde os primeiros casos de Covid-19 no mundo, identificados no final do ano passado, alertavam para os principais fatores de risco da doença: diabetes, hipertensão, doenças cardíacas ou respiratórias e idade elevada. No último mês, porém, novas pesquisas apontaram que a obesidade pode ser uma condição ainda mais determinante para casos graves em pessoas jovens. “Ao contrário do que se imaginava no início da pandemia, a necessidade de ventilação mecânica, um indicador de gravidade, está muito relacionada ao alto Índice de Massa Corpórea (IMC)”, explica a nutróloga Dra. Esthela Oliveira .

Um paper publicado pelo Instituto francês Lille Pasteur analisou esta relação comentada pela médica entre o IMC e a necessidade de intubação em 124 pacientes internados em terapia intensiva por Covid-19 em um centro hospitalar francês. Entre eles, 85 pessoas evoluíram de forma grave e necessitaram de ventilação mecânica, sendo que, deste grupo, 85% pertenciam ao grupo com IMC acima de 35, determinando obesidade severa.

Outra pesquisa, realizada pela Universidade de Nova York, por sua vez, analisou informações sobre 4.103 pacientes da cidade. Entre eles, 44,6% eram cardíacos, 39,8%, obesos, e 31,8%, diabéticos. Com o decorrer da observação, os autores perceberam que o IMC alto era o problema crônico que mais resultava em internação e necessidade de ventilação mecânica.

De acordo com os dois grupos de pesquisadores, entre pacientes idosos, as complicações de saúde resultantes da idade elevada ainda são os fatores de risco mais frequentes. Para os mais jovens, no entanto, a obesidade foi identificada como a condição que mais está relacionada ao agravamento de casos de infecção por Covid-19. “É comum o excesso de peso estar associado a outras doenças metabólicas como diabetes e hipertensão arterial , fatores que são identificados, desde o início da pandemia, como causadores da forma mais grave do novo coronavírus”, esclarece a nutróloga.

Apesar desta relação entre o IMC e doenças crônicas, o acúmulo de gordura já é, em si, uma condição agravante dos casos de infecção. “A obesidade resulta em uma inflamação sistêmica do organismo, que prejudica o processo imunológico do corpo. Assim, em pessoas com excesso de peso, o vírus tende a ter mais facilidade para se replicar, levando a formas mais graves da doença”, explica Dra. Esthela. Além disso, a médica completa que o excesso de gordura que reveste o tórax e a maior gordura abdominal de pacientes com IMC alto reduzem a capacidade pulmonar, prejudicando a respiração – fator de risco que também está associado à gravidade de infecções por Covid-19.

No Brasil, esta condição merece atenção especial, uma vez que o número de brasileiros obesos cresce a cada ano. De acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada pelo Ministério da Saúde no ano passado, quase 20% da população brasileira apresenta obesidade.