Vacina HPV quadrivalente do SUS é eficiente para a prevenção contra a doença

Estudo POP- Brasil II, liderado pelo Hospital Moinhos de Vento via Proadi-SUS, confirma eficácia da vacina da rede pública

A infecção por papilomavírus humano (HPV) continua sendo expressiva no Brasil. A doença é um dos principais causadores do câncer de colo uterino, mas pode ser prevenida. Desde 2014, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza, para meninas e meninos de 9 a 14 anos, a vacina HPV quadrivalente.

Se antes não havia evidências, na população brasileira, da eficácia do imunizante, nem se haveria necessidade de trocar a vacina quadrivalente para a nonavalente (que abrange mais tipos de infecção), disponível na rede privada, com a finalização do estudo POP- Brasil 2, liderado pelo Hospital Moinhos de Vento, o país tem dados para se basear.

O estudo buscava identificar a prevalência de HPV em pessoas de 16 a 25 anos (com vida sexual iniciada) em dois recortes de tempo diferentes, a fim de comparar as taxas de infecção e a eficácia da vacina HPV quadrivalente.

“Houve um grande passo na inovação metodológica que fica de legado para a ciência e de avanço para os próximos projetos”, celebrou a coordenadora-geral de vigilância das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) do Ministério da Saúde, Pâmela Cristina Gaspar.

A pesquisa inédita, que aconteceu em todas as regiões do Brasil e no Distrito Federal, foi realizada a pedido do Ministério da Saúde, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS).

“Os resultados demonstraram que a vacina é um dos principais ativos em relação à prevenção de infecções associadas ao câncer de colo uterino”, explicou Eliana Wendland, coordenadora principal do projeto e médica epidemiologista do Moinhos.

Os trabalhos começaram no triênio 2015-2017, quando foram atualizados dados sobre a taxa de infecção, com base em 8.077 coletas válidas. Na segunda fase, que corresponde ao triênio vigente, de 2020-2023, houve nova coleta de dados, 11.982 amostras, para comparar os níveis de contaminação.

“Os dados da primeira fase serviram para direcionar as políticas públicas no combate ao HPV, olhando os estados onde a prevalência se mostrou mais acentuada. A segunda fase é absolutamente fundamental, ela demonstra o impacto da vacina com base em dados concretos. Isso norteará o caminho que o país vai tomar na política de vacinação”, enfatizou a representante do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde e pediatra responsável pela Vacina HPV, Ana Goretti Maranhão.

Os dados finais demonstraram que, entre os não vacinados, a prevalência de HPV geral e de HPV de alto risco (para câncer uterino) no período de comparação (2016-2017 e 2021-2023) atingiu 58,6 % da população jovem de 15 a 26 anos.

A taxa de infecção de HPV de alto risco variou de 39,8% na região Sul a 63,5% na região Norte, porém essas diferenças não foram estatisticamente significativas.

“No entanto, quando avaliamos os tipos presentes na vacina quadrivalente, distribuída de forma gratuita no SUS, notamos que houve diminuição importante da prevalência, não somente nos vacinados, mas também nos não vacinados”, enfatiza Eliana.

Comparando-se os dados da população não vacinada do primeiro estudo com a população total do segundo estudo (vacinados e não vacinados), observa-se uma diminuição importante dos tipos de HPV contidos na vacina quadrivalente – de 15,6% para 7,9%.

Quando compara-se os dados dos não vacinados com os vacinados, essa diminuição é ainda maior – de 15,6% para 3,6%. Os tipos de HPV contidos na vacina nonavalente também apresentaram uma redução importante nas taxas de infecção – de 30,2% para 24,7%.

No comparativo, constatou-se que a taxa de infecção caiu pela metade entre as pessoas imunizadas e participantes da coleta da primeira etapa do estudo. Outro destaque é que a queda é observada entre os não vacinados, confirmando o impacto da vacinação nas taxas de infecção gerais.

Essa também é a primeira vez que há informações em nível nacional sobre as taxas de infecção por HPV na região anal. A taxa de infecção é semelhante à genital, atingindo 52,1% da população, sendo maior nas mulheres (63,2%) do que nos homens (36,8%). “Um dos resultados que nos surpreendeu foi observar taxas de infecção tão muito elevadas nas mulheres, muito semelhantes às taxas de infecção genital, sem associação com sexo anal. Os dados mostram um novo cenário e a necessidade de discussão sobre rastreamento de câncer anal em jovens”, destaca Eliana.

A vacina quadrivalente também apresentou impacto nas taxas de infecção anal. Os vacinados apresentam taxas de infecção menores (3,1%) do que os não vacinados (10,9%) dos tipos presentes na vacina quadrivalente.

A informação dá melhores condições ao SUS para ampliar a conscientização, buscando cumprir a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) — até 2023, espera-se que 90% das meninas sejam totalmente vacinadas contra HPV aos 15 anos; 70% das mulheres submetidas a um teste de rastreamento de alta performance aos 35 e aos 45 anos; e 90% das mulheres identificadas com lesões precursoras e câncer recebendo tratamento.

POP-Brasil fase II

O último triênio do POP-Brasil II contou com 450 profissionais de saúde, em sua maioria enfermeiras, somando 206 Unidades Básicas de Saúde (UBS), que realizam a coleta de dados em unidades básicas de saúde de todas as regiões do Brasil.

Ao todo, foram incluídos 12.790 jovens de 16 a 25 anos em 26 capitais do Brasil. Os participantes responderam a um questionário sobre aspectos sociodemográficos, hábitos de vida, consumo de álcool e drogas, conhecimento de HPV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), histórico vacinal de HPV e comportamento sexual.

“Para além dos dados coletados, a pesquisa levou diagnóstico para quem participou do projeto. O teste de biologia molecular e tipagem de HPV ainda não está disponível no SUS, mas os mais de 12 mil voluntários puderam acessar seus resultados”, destacou Pâmela Cristina Gaspar

Ainda, foram coletadas amostras genitais e anais para avaliar a prevalência de HPV, gonorreia, clamídia e outras IST, e amostras de sangue para avaliar a imunogenicidade da vacina do HPV.

Relevância dos dados alcançados

Eliana Wendland, coordenadora principal do POP-Brasil e médica epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento Crédito: Cassius Souza

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