Considerada sistêmica, infecção pode causar inflamação nos rins e quadros de insuficiência renal aguda
Hospital dobrou o número de equipamentos para diálise contínua desde o início da pandemia
Com o aumento dos casos confirmados de Covid-19 e o avanço do número de internações, outro índice que vêm apresentando crescimento significativo é o de pacientes que necessitam ser submetidos à hemodiálise durante sua permanência na UTI.
No HCor, hospital multiespecialista em São Paulo, 26% dos internados com Covid-19 em suas Unidades de Terapia Intensiva estão sob prescrição do procedimento – tanto em máquinas contínuas quanto em equipamentos tradicionais.
“Pacientes mais críticos, com insuficiência renal aguda e instabilidade hemodinâmica (pressão arterial persistentemente anormal ou instável), estão em diálise contínua. Já os que apresentam comprometimento renal com pressão estável, seguem com a diálise tradicional, com protocolo específico para o quadro”, relata Leda Lotaif, líder médica da Nefrologia do HCor.
No hospital, a demanda por esse tipo de procedimento subiu, o que fez com que a instituição dobrasse a quantidade de equipamentos para diálise contínua desde o início da pandemia.
“No começo, tínhamos oito máquinas contínuas, depois fomos para dez. Agora, estamos com 15 equipamentos para esse tipo de terapia”, comenta a médica, que enfatiza o fato de que a instituição já prevê receber mais quatro máquinas nos próximos dias.
A Covid-19 e os rins
Considerada uma doença sistêmica, a Covid-19 também tem demonstrado o acometimento dos rins. Um dos motivos levantados pelos especialistas é que a “tempestade” inflamatória (uma reposta exagerada do sistema imune na tentativa de combater o vírus) possa também afetar os órgãos causando inflamação, a chamada nefrite.
Também existe a possibilidade de ação direta do vírus nos rins, as alterações causadas pela trombose e os efeitos hemodinâmicos – relacionados por medicamentos eventualmente necessários no tratamento e até a ventilação mecânica – que podem prejudicar a função dos órgãos e levar a quadros de insuficiência renal aguda.
“São quadros ligados às complicações que advêm da Covid-19, já que ela leva à infecção secundária, à sepse de origem pulmonar bacteriana, entre outros”, esclarece Leda.
A insuficiência renal é caracterizada pelo comprometimento da função dos rins, com o inchaço devido à retenção de líquido, náuseas, falta de ar, fadiga e déficit de urina. Nesses pacientes, a hemodiálise é necessária para equilíbrio hídrico, e dos eletrólitos e das toxinas do sangue.
O procedimento funciona como uma substituição artificial dos rins: o equipamento recebe o sangue do paciente por um acesso vascular, que é exposto à solução de diálise (dialisato) por meio de uma membrana semipermeável, retirando o líquido e as toxinas em excesso e devolvendo o sangue limpo para o paciente.
Acompanhamento pós-alta
Outra preocupação das equipes de saúde é com a necessidade de acompanhamento pós-alta desses pacientes. Isso porque a ocorrência de quadros de insuficiência renal aguda é sabidamente um fator de risco para o desenvolvimento – no futuro – de doenças renais crônicas.
“Todos os pacientes que precisaram ser submetidos à hemodiálise durante a internação por Covid-19 precisarão ser acompanhados por um nefrologista depois da sua recuperação. Em alguns deles, já na alta hospitalar, identificamos algum grau de insuficiência crônica”, ressalta Leda.