Ano novo, vida nova, mil planos para 2022, esse seria um recomeço perfeito para o início de janeiro, se não fosse a falta de motivação.
Sensação de vazio, tristeza e o sentimento de estagnação em meio à pandemia que ainda se faz presente, além de uma rotina estressante, são sintomas recorrentes no dia a dia de muitas pessoas.
“Alguns declaram que se vive uma de onda de desânimo. Muitos buscam, de forma ininterrupta, alguma satisfação, mesmo que seja passageira. Já outros, se esforçam para ‘levantar o astral’, mas se deparam com um lugar duro em que a falta de vontade impera”, pontua a psiquiatra Maria Francisca Mauro, Mestre em Psiquiatria pelo PROPSAM/IPUB/UFRJ.
Antes da pandemia já eram quase 19 milhões de brasileiros convivendo com ansiedade e depressão, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), e parece que o quadro agravou.
A pergunta que fica é: como identificar que eu sofro desse desânimo generalizado?
Para a especialista, quando a piada perder a graça, o entorno parecer desinteressante e permanecer estranho a si mesmo, é necessário se questionar.
“Se mesmo após uma noite de sono você acordar cansado e ficar enrolando para levantar da cama; se as coisas que antes te davam prazer, perderam a graça; se acha melhor evitar encontrar pessoas, pois não conseguirá manter uma conversa e não terá o que falar; se qualquer tarefa mental ou algum compromisso que tenha já desencadeia um grande medo e acha que não vai conseguir; se está pensando que algo vai dar errado e se sempre acha que não deu o suficiente quando as pessoas falam que o que fez foi o certo, é preciso ficar atenta”, esclarece a médica vinculada à Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
É normal que essas pessoas, mesmo com muito esforço, não consigam entregar as atividades diárias, permanecendo de forma passiva na cama, jogando ou navegando nas redes sociais, por exemplo. Sua cabeça encontra-se em um bloqueio para conseguir aprender algum conteúdo ou desenvolver um raciocínio.
“Isso determina uma intensa angústia que o deixa em conflito e acaba paralisando-o por completo, gerando um ciclo vicioso de falta ao trabalho, atrasos e até mentiras para encobrir este seu momento difícil”, pontua Maria Francisca.
Questione-se se essas sensações e percepções estão contínuas, ou apenas de forma isolada.
“Caso ocorram uma vez ao mês, ou de forma apenas ocasional, você precisa tentar identificar se tem algo que desencadeia essas dificuldades. Se suas respostas forem positivas e também todo este desconforto emocional estiver constante, é preciso procurar ajuda”, comenta a especialista.
A seguir, a psiquiatra sugere alternativas para uma mudança de ânimo. Confira:
Etapa de reflexão: tentar sozinho refletir se consegue resolver aquele problema que está o atormentando. Neste momento é hora de criar uma racionalização do que está acontecendo para que possa tentar ver se o mesmo é real ou mais uma tortura mental que não faz muito sentido na realidade.
Etapa de autocuidado: buscar recursos de suporte emocional que influenciarão no seu estado ou coisas que você sabe que vão melhorar o seu ânimo. Exemplos: sair para dar uma volta, entrar em contato com a natureza, conversar com algum amigo ou familiar, cozinhar, ouvir alguma música que tenha uma conexão emocional, meditar, tirar uma soneca ou fazer uma atividade física. Essas funções podem ajudar muito nesse momento.
“Tente pausar as atividades mais estressantes e respirar fora dessa pressão externa para que possa encontrar um equilíbrio e tentar colocar em perspectiva o que está te fazendo sofrer”, sinaliza a especialista.
Etapa de compreensão: por mais difícil que a situação que esteja atravessando seja, busque entender que esses impasses, muitas vezes, precisam ser pausados para que você consiga passar com maior serenidade. Tente compreender que mesmo que a dor emocional seja terrível e desesperadora, ela precisa ser amparada e encaminhada para que você consiga suportá-la e resolvê-la da melhor forma.
Etapa de comunicação: busque a ajuda de amigos, familiares, professores, colegas ou alguém que possa compartilhar esta dificuldade para receber apoio. Caso não tenha esta pessoa, considere que existem profissionais habilitados da saúde mental aptos a oferecer este amparo. É importante destacar que a etapa um, muitas vezes não anula a etapa dois, ou seja, em certos casos se faz essencial um profissional da saúde para auxiliar o seu caso.
. Psiquiatra Maria Francisca Mauro: Mestre em Psiquiatria pelo PROPSAM/IPUB/UFRJ. Psiquiatra associada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), doutoranda em psiquiatria e saúde mental pelo PROPSAM/IPUB/UFRJ, representante discente da pós-graduação do IPUB/UFRJ junto à comunidade acadêmica geral da UFRJ e do IPUB. Desde 2008 atua como psiquiatra clínica e tem experiência em pacientes com quadros graves, como depressão, ansiedade, alterações de comportamento alimentar, transtorno bipolar do humor, esquizofrenia e quadros psiquiátricos ainda em investigação para definição diagnóstica. Participou da equipe de interconsulta psiquiátrica dos hospitais Clínica São Vicente, Pro-Cardíaco e São Lucas.