Covid-19: riscos da vacina são menores que os benefícios para jovens e crianças

Especialista em saúde pública fala sobre a vacinação contra o coronavírus para crianças e adolescentes e ressalta a importância de manter o calendário vacinal em dia para evitar que doenças erradicadas retornem

*Por Paula Carnevale

Recentemente o Estado de S. Paulo e algumas outras regiões do País começaram a fase de vacinação contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, tendo início com indígenas, quilombolas e pessoas com comorbidades. Antes mesmo da vacina ser aprovada, iniciou-se uma polêmica em relação à segurança e eficácia da vacinação para esta faixa etária. Afinal, o imunizante produz algum efeito adverso grave que contraindique sua aplicação?

No caso do coronavírus, os primeiros estudos de eficácia e segurança das vacinas foram dirigidos aos adultos e idosos, uma vez que o adoecimento por formas graves da doença e óbitos eram mais frequentes nessa faixa etária, principalmente nos idosos e nos adultos com doenças associadas (em especial doenças cardíacas, diabetes, obesidade e hipertensão). A vacinação desta população, no Brasil e no mundo, se mostrou segura e eficaz, reduzindo a transmissão da Covid-19, bem como os índices de adoecimento e morte pela doença. Sempre é importante ressaltar que uma vacina, no entanto, só é disponibilizada para a população após rigorosos estudos laboratoriais e clínicos, que garantam sua segurança.

Os imunizantes atualmente disponíveis para crianças de 5 a 11 anos possuem uma dose reduzida que é, comprovadamente, segura para os pequenos. No Brasil, o mais recente imunizante autorizado para uso em jovens é o desenvolvido pela Pfizer, que já possuía registro para uso em população com mais de 16 anos e recebeu autorização da ANVISA para uso em crianças e adolescentes de 12 a 15 anos e, posteriormente, crianças de 5 a 11 anos. A vacinação de jovens e crianças tem se mostrado segura em diversos países. Não há dúvidas de que os benefícios da vacinação suplantam os riscos e protegem nossas crianças.

Calendário em dia

É importante destacar também que as crianças devem estar com seu calendário vacinal atualizado. Infelizmente as coberturas vacinais para doenças preveníveis caíram muito em relação aos anos anteriores, tanto no País como no Estado e corremos o risco de voltar a identificar casos de doenças que há muito tempo não víamos devido ao sucesso da imunização. Sarampo, varicela, rubéola, coqueluche são exemplos de doenças que eram comuns, as chamadas “doenças próprias da infância”. Não vamos esperar que retornem! É de extrema importância que mães, pais e cuidadores chequem a carteirinha de vacinação e protejam seus filhos. A Covid-19 não é o único perigo que circula por aí e a vacina é o caminho para uma infância e vida saudáveis.

O PNI

O Programa de Imunização do Estado de São Paulo foi inaugurado em 1968, ano em que a primeira norma técnica foi publicada, uniformizando o esquema de vacinação para as crianças menores de cinco anos e indicando a vacinação de gestantes para a profilaxia de tétano neonatal. Nesses mais de 50 anos de programa, inúmeras atualizações e incorporações de vacinas foram realizadas, ampliando-se a disponibilização de vacinas e os públicos-alvo, que hoje incluem adolescentes, adultos e idosos. Em 1973, o Programa Nacional de Imunização (PNI) foi criado, com a responsabilidade de estabelecer a política nacional de imunização, levando à comprovada redução da morte e adoecimento por doenças preveníveis. Laboratórios brasileiros, a Fiocruz e o Instituto Butantã, tem expertise na produção de vacinas. O PNI é um dos maiores programas de vacinação do mundo, reconhecido internacionalmente.

*Paula Carnevale é docente do curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi em São José dos Campos. É infectologias e especialista em Saúde Pública.