Saúde mental infantil: especialistas apontam como identificar sinais de transtornos e promover gestão emocional com crianças

Segundo relatório da Unicef, um em cada sete crianças ou adolescentes sofre de algum transtorno mental

Diferente do que algumas pessoas pensam, transtornos mentais não são um problema exclusivo dos adultos. Crianças também são vítimas dessas doenças silenciosas, principalmente após a pandemia, quando sofreram com o isolamento social, o fechamento das escolas e o bombardeio de informações. Segundo as estatísticas mais recentes da Unicef, uma em cada sete crianças ou adolescentes sofre de algum transtorno mental.

“O isolamento social mudou a rotina de todos, mas para as crianças as consequências da diminuição das interações sociais foram ainda mais severas, pois esse é o período do desenvolvimento em que elas estão iniciando a criação de vínculos, principalmente na escola”, explica o psicólogo Gabriel Lucena, da Telavita, clínica digital de saúde mental, especializado em Terapia Cognitivo Comportamental e em Saúde Mental.

Segundo Lucena, o afastamento das salas de aula e de outros espaços de convivência, entre outros fatores, como o alarde gerado pela transmissão do vírus da Covid 19, contribuíram para desencadear quadros de ansiedade elevada, medos e traumas.

“Mesmo com as aulas remotas, muitas crianças não tiveram as interações sociais necessárias e adequadas para o período de desenvolvimento em que se encontravam. Além disso, houve um aumento excessivo do uso de dispositivos tecnológicos, um fator que também influencia bastante a saúde mental e emocional”, explica o psicólogo.

Como detectar possíveis transtornos

O especialista da Telavita aponta algumas dicas básicas que ajudam a perceber os primeiros sinais dos transtornos infantis. “A principal dica é observar seus filhos, mudanças repentinas de humor, choro ou agressividade frequente. Com isso, é importante demonstrar abertura para conversar e se colocar presente, adotando uma postura de compreensão e afeto”.

Lucena ainda destaca a importância dos pais buscarem ajuda e fazerem um acompanhamento para si próprios, para que possam lidar com essas questões da melhor forma e contribuir para a melhora dos filhos. “É interessante buscar ajuda para si e para o filho, pois além de ser natural encontrar dificuldades na paternidade e na maternidade, é saudável e demonstra cuidado consigo e com o outro”.

Educação Infantil

As escolas também são uma preocupação em relação à saúde mental, já que esse é o ambiente onde as crianças passam a maior parte do dia. Em média, 96% dos pais gostariam de serviços para acompanhar a saúde mental dos filhos nas escolas, segundo levantamento da Peterson, empresa mundial de aprendizado. O estudo aponta ainda que o brasileiro se preocupa com questões psicológicas mais do que a média global.

Pensando nisso, Pedro Gigante, co-fundador do SuperAutor, projeto pedagógico que transforma crianças em autores de livros infantis, apoiando o letramento e a alfabetização, aponta algumas dicas para ajudar pais e responsáveis a fazer uma gestão emocional com as crianças. Confira:

Ajude as crianças a questionarem seus sentimentos: tire alguns minutos do dia para escutar as crianças e entender suas emoções. Seja mais ouvinte do que orador. Isso as deixam mais tranquilas e seguras para conversar. O diálogo ajudará a criança a entender de forma mais clara seus sentimentos antes de tomar decisões e a perceber de que forma essas emoções surgem, ou seja, quais são os pensamentos ou gatilhos que dão origem a elas.

Promova mudanças sempre que necessário: quando as crianças estão muito ansiosas e agitadas, é interessante dar uma pausa e mudar as condições do momento. Quando for necessário, leve-as para dar uma caminhada, mudar o foco para outra atividade ou explorar áreas externas e arejadas.

Respire fundo com a turma: pare e respire fundo com os pequenos. Você perceberá o quanto a respiração centrada é deixada de lado no dia a dia, tanto pelas crianças, quanto pelos adultos. Essa é uma das técnicas mais usadas em gestão emocional. Com a respiração, podemos centralizar o pensamento no momento presente, promovendo calma, clareza, redução da ansiedade e do estresse. Além disso, a respiração auxilia no relaxamento dos músculos, gerando bem-estar. “Explique para a criança a importância desse hábito para a saúde física e mental e como ele pode ser usado como recurso nas horas difíceis”, sugere o especialista.

Ajude as crianças a perceberem o próprio tom de voz: crianças precisam saber como agir e de que forma se posicionar verbalmente nas diversas situações da vida. É importante incentivar uma auto análise do tom de voz em momentos corriqueiros. Isso porque a nossa entonação influencia bastante na forma como os conflitos são conduzidos. “Uma palavra branda em momentos de tensão pode evitar muitos problemas e uma palavra firme e assertiva, em alguns momentos, pode gerar benefícios enormes”, explica Gigante.

Ofereça atividades para as crianças se expressarem: a arte sempre foi um instrumento valioso na gestão emocional. Muitas pessoas encontram refúgio no mundo artístico, onde podem se expressar e elaborar sentimentos de forma mais concreta. Por isso, aposte em atividades que incentivem as crianças a expressarem suas emoções de forma saudável, como o SuperAutor, que permite que elas escrevam e ilustrem histórias e montem seus próprios livros, podendo colocar em forma de arte seus pensamentos, criatividade e imaginação, em casa ou na escola.