Exames para a detecção precoce do câncer de próstata: Especialista tira dúvidas

Com relação ao estudo apresentado por cientistas alemães no Congresso Anual da Associação Europeia de Urologia, de que o exame digital retal – também chamado de toque – não seria o melhor para detectar o câncer de próstata em estágio inicial, o médico professor titular de Clínica Médica e Medicina Laboratorial da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC/ML), Dr. Adagmar Andriolo, esclarece que o exame digital retal continua sendo um importante recurso adotado pelos médicos urologistas para o diagnóstico da doença.

O especialista – referência no tema – esclarece que exames laboratoriais, como a medida da concentração do antígeno prostático específico total (PSA, do inglês Prostate-Specific Antigen), os cálculos da relação PSA livre sobre Total, do PHI (do inglês Prostate Health Index) e outros, são complementares. Um não exclui o outro, portanto, os dois recursos devem ser realizados. Adicionalmente, existem métodos de imagem e de anatomia patológica que auxiliam ou confirmam o diagnóstico.

Para a suspeita e posterior diagnóstico do câncer da próstata, vários aspectos devem ser considerados e, por essa razão, a consulta com o urologista se faz muito necessária. Dentre esses aspectos, ressalta-se a idade do paciente, seu histórico pessoal e familiar, características anatômicas da glândula, dentre outros.

“Por exemplo, indivíduos com mais de 50 anos de idade possuem risco maior de apresentarem esse tipo de câncer, assim como aqueles com história familiar na qual parentes de primeiro grau tenham tido câncer antes dos 50 anos (ainda que, do ponto de vista legal, parentes de primeiro grau sejam apenas pais e filhos, para essa avaliação, devem ser incluídos irmãos e tios paternos). Para esses indivíduos está indicada uma avaliação mais detalhada, além do exame digital e medida do PSA total. Entendemos que há resistência das pessoas e muitos preferem fazer apenas o PSA, mas essa não é a recomendação médica, uma vez que existe a possibilidade de resultados falso positivos e falso negativos”, detalha o médico professor Adagmar Andriolo.

Diante de evidências de tumores, o exame digital retal também é usado para direcionar a biópsia, caso necessário, com a finalidade de reduzir o risco de resultado falso negativo. O médico lembra que o exame de próstata não precisa, obrigatoriamente, ser anual, pode ser realizado mais espaçadamente, a critério do urologista, baseado no risco individual.

“A idade de 50 anos para o primeiro exame digital retal e eventual medida da concentração do PSA é apenas para pessoas sem parentes próximos com câncer. Se a pessoa teve um irmão que apresentou o tumor antes dos 45 anos, o ideal é que ele comece a investigar também nessa mesma idade ou até um pouco antes”, diz.

Alguns anos atrás, discutiu-se muito a validade da realização do exame de PSA como triagem populacional, tendo sido contraindicado por entidades científicas internacionais. “Essa decisão se baseou no fato de que muitos pacientes eram indicados para realizar biópsia a partir de níveis alterados de PSA e os resultados eram negativos para a presença de câncer. A supressão total desse recurso de medida do PSA, no entanto, fez com que um grande número de pacientes fosse diagnosticado em fases mais avançadas da doença, quando o tratamento é menos efetivo. A partir dessa constatação, as recomendações foram revistas e, no momento, o exame de PSA deve ser solicitado após avaliação adequada do risco do indivíduo e conscientização a respeito de suas limitações”, explica Andriolo.