Cardiologistas e parlamentares cobram combram ação para políticas públicas para a saúde do coração

A dificuldade de acesso a especialistas, a incorporação de novas tecnologias no SUS e a necessidade de formação médica qualificada marcaram as discussões do II Fórum do Coração, realizado ontem (14), em Brasília, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) na capital federal. O evento reuniu médicos, parlamentares e autoridades para debater políticas públicas que possam reduzir as mortes por doenças cardiovasculares — ainda a principal causa de óbitos no país. Aconteceu na data em que se comemora o Dia do Cardiologista.
“Temos o desafio de oferecer desde o básico, como medicamentos de baixo custo que salvam vidas, até o acesso a tecnologias de ponta, sempre com inteligência para mitigar custos e ampliar a cobertura”, disse o presidente da SBC, Paulo Caramori, na abertura.
Para o conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM) Eduardo Monteiro de Jesus, a agenda é urgente: “O tema ‘Coração em Foco’ é de extrema importância para a saúde pública diante dos altos índices de mortalidade cardiovascular. Precisamos buscar soluções inovadoras e eficazes para melhorar a assistência no Brasil.”
Formação médica em xeque
A qualidade da formação do cardiologista foi um dos pontos mais sensíveis. O deputado Luis Ovando (PP-MS) criticou propostas que encurtem a residência: “Sou totalmente contra. Se já encaminhamos pacientes demais por questões simples, reduzir o tempo de formação só vai agravar. Vamos transformar médicos em triadores.”

O senador Hiran Gonçalves (PP-RR) defendeu a aproximação das sociedades médicas com o Parlamento para influenciar decisões como a incorporação de tecnologias no SUS. “A Conitec só incorporou a cirurgia robótica para câncer de próstata após forte pressão política. Se não estivermos próximos das estruturas que decidem, vamos perpetuar desigualdades.”
O presidente da Associação Médica Brasileira, César Eduardo Fernandes, foi direto: “Não podemos formar especialistas como commodity. O título não basta; é preciso comprovar competência e atualização periódica. Hoje, ninguém me avalia desde 1978. Está certo isso?”.
Judicialização sob novas regras
O ministro do STJ Luiz Alberto Gurgel de Faria defendeu critérios técnicos na concessão de medicamentos e procedimentos via Justiça. “O objetivo é acabar com decisões contraditórias e basear o acesso em evidências, não em achismos. O cobertor é curto, e o sistema precisa de previsibilidade”.
A judicialização, segundo ele, será cada vez mais balizada por decisões do STF e pela atuação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), que define o que entra ou não no SUS.
Gargalos e distorções
Casos de medicamentos baratos, mas não incorporados ao SUS, geraram indignação. “Um anticoagulante que custava R$ 300 hoje sai por R$ 30. Não ter isso no sistema e gastar R$ 100 mil numa internação por trombose é uma distorção gritante”, afirmou o cardiologista Gerson Luiz Roos.
Também foi criticada a falta de medicamentos básicos para insuficiência cardíaca na atenção primária. “Sem qualificação dos médicos e sem oferta desses fármacos, a judicialização vai continuar”, disse Renault Ribeiro Jr., conselheiro da SBC.
Chamado à ação
No encerramento, o Senador Hiran Gonçalves (PP-RR) fez um apontou: “Se quisermos reduzir mortes, precisamos de política séria de prevenção e controle de doenças crônicas, com educação em saúde maciça. Isso diminui custos, internações e sofrimento.”
Para Luis Ovando, o recado é claro: “Resgatar o fundamento da medicina é indispensável. Nada substitui a relação médico-paciente.”
Foi apontada no Fórum a necessidade da criação de documento com propostas legislativas e administrativas para qualificar a formação, melhorar o acesso e reduzir desigualdades regionais na cardiologia.