Processos inflamatórios podem agravar depressão, indica estudo

Mais de 280 milhões de pessoas convivem com a depressão no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)1. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 12,3% da população já recebeu diagnóstico da doença2, que figura entre as principais causas de incapacidade global. Agora, um estudo publicado na revista Pharmacological Research3 chama atenção para um aspecto ainda pouco explorado: a relação entre o transtorno depressivo maior e processos inflamatórios no organismo.

 

“O que sabemos hoje é que existe uma relação complexa entre depressão e inflamação”, afirma o psiquiatra Eric Cretaz, do Hospital Sírio-Libanês. “Pacientes deprimidos podem apresentar níveis mais elevados de interleucinas inflamatórias do que pessoas sem depressão. Além disso, processos inflamatórios podem gerar sintomas muito semelhantes aos da depressão, como fadiga, alterações de sono, apetite e energia”.

 

A pesquisa, conduzida por cientistas do Harbin Institute of Technology, na China, aponta que aproximadamente um terço dos pacientes diagnosticados apresenta níveis elevados de marcadores inflamatórios no sangue, como interleucina-6, TNF-α e proteína C-reativa. Os autores também destacam que estratégias anti-inflamatórias, que variam desde o uso de medicamentos a práticas de atividade física, vêm sendo investigadas como possíveis aliadas no tratamento.

 

Segundo o especialista, esses fatores podem desencadear um ciclo vicioso, já que hábitos como má alimentação, sono irregular e sedentarismo prejudicam a imunidade e agravam os sintomas depressivos. “É importante ressaltar, contudo, que essas alterações não estão presentes em todos os pacientes. Ainda não existe um exame, como o de sangue, por exemplo, capaz de diagnosticar depressão”, reforça.

 

Outro ponto relevante é a resposta ao tratamento. “Pacientes com níveis mais altos de interleucinas inflamatórias tendem a responder de forma menos satisfatória aos antidepressivos. Há algumas evidências de que esses medicamentos possam reduzir discretamente os níveis desses marcadores, mas o impacto prático é pequeno”, explica Cretaz. Ele lembra que pesquisas vêm explorando o uso de anti-inflamatórios e imunobiológicos, que podem beneficiar um subgrupo de pacientes, embora não apresentem efeito para todos os casos.

 

Neste contexto, mudanças no estilo de vida continuam sendo apontadas como ferramentas eficazes para reduzir os impactos da depressão. “Medidas como controle de peso, prática regular de atividade física, boa higiene do sono e alimentação equilibrada têm impacto significativo tanto no controle de doenças inflamatórias quanto na depressão. Quando associadas ao tratamento farmacológico e à psicoterapia, ampliam muito as chances de melhora”, conclui o psiquiatra.

 

 

Referências


1 WHO. Depression Disorder. Acesso em 13/08/2025. Disponível em: Link

2 Ministério da Saúde. Pesquisa Vigitel 2023. Acesso em 13/08/2025. Disponível em: Link

3 Pharmacological Research. Inflamed” depression: A review of the interactions between depression and

inflammation and current anti-inflammatory strategies for depression. Acesso em: 03/09/2025. Disponível em: Link