Turismo médico, com 430 mil visitantes anuais, impulsiona economia paulistana

A capital paulista consolida-se como o principal polo de turismo médico-hospitalar do Brasil, atraindo pacientes de todas as regiões do País e do exterior em busca de tratamentos de alta complexidade e atendimento de excelência. De acordo com estudo inédito da São Paulo Negócios, agência de atração de investimentos e internacionalização das empresas do município, o segmento movimenta R$ 33,3 bilhões por ano na economia local, com impacto direto e indireto sobre diversos setores da economia, como comércio, hotelaria, transporte e serviços especializados.
O estudo foi realizado no âmbito do projeto Avança Tech, que abrange uma escuta ativa com empresas do universo do turismo médico-hospitalar, com recorte específico para hospitais, agências de viagens e hotéis. Objetivo é mapear os desafios, identificar oportunidades e elaborar estratégias para o desenvolvimento do setor na cidade.
O levantamento revela que cerca de 12% dos turistas que visitam a cidade vêm em busca de atendimento médico. São aproximadamente 420 mil pacientes ao ano, nacionais e estrangeiros, que gastam em média mil dólares e US$ 9 mil, respectivamente, durante a estadia. Os principais impactos econômicos, com base em dados de 2024, são os seguintes: R$ 99,4 milhões em faturamento para as empresas da cidade, geração de 861 empregos e R$ 24,2 milhões em renda para a população e arrecadação de R$ 4,3 milhões em impostos.
O estudo utilizou a metodologia de Matriz Insumo-Produto da Universidade de São Paulo (NEREUS-USP) para medir o efeito multiplicador do turismo médico, mostrando que o setor gera aumento de faturamento para o comércio (R$ 16,3 milhões), atividades imobiliárias (R$ 13,2 milhões) e intermediação financeira, seguros e previdência complementar (R$ 12,3 milhões), além de ganhos relevantes para a saúde privada (R$ 4 milhões anuais).
Para 2030, as projeções são promissoras: R$ 211,2 milhões em faturamento para as empresas da cidade, representando aumento de 112,47% em relação a 2024; geração de 1.829 empregos e R$ 54,1 milhões em renda para a população; e arrecadação de R$ 9,1 milhões em impostos.
Em 2030, o turismo médico proporcionará aumento de faturamento de R$ 34,7 milhões para o comércio, R$ 28,04 milhões para atividades imobiliárias e R$ 26,06 milhões para intermediação financeira, seguros e previdência complementar. Os ganhos da saúde privada alcançarão R$ 8,3 milhões. “Como mostram os números, trata-se de um segmento de alto valor agregado, que movimenta a economia local, estimula a inovação em saúde e fortalece a imagem de São Paulo como centro global de excelência médica”, enfatiza Alessandra Andrade.
A capital concentra 54% dos hospitais brasileiros com acreditação internacional da Joint Commission International (JCI), símbolo de qualidade e segurança no atendimento. São 27 unidades certificadas, dentre elas instituições como Albert Einstein, Sírio-Libanês, AC Camargo e Rede D’Or.
Essas instituições integram uma rede de serviços médicos e hospitalares complementados por hotéis, seguradoras, agências de viagem e empresas de concierge especializadas em atendimento a pacientes e acompanhantes. Com a demanda crescente, surgiram soluções sob medida, como serviços de home e hotel care, transporte, nutrição personalizada, intérpretes e assessoria completa para estrangeiros.

 

Brasil

O País, cujo turismo médico deverá movimentar US$ 13 bilhões até 2030, segundo o estudo da São Paulo Negócios, ocupa a sexta posição dentre os destinos mais bem avaliados das Américas no ranking do Medical Tourism Index 2021, atrás apenas de Canadá, Costa Rica, República Dominicana, Argentina e Colômbia. O bom desempenho brasileiro explica-se por fatores como a qualificação dos profissionais, a infraestrutura hospitalar de ponta e o baixo custo dos procedimentos em comparação aos Estados Unidos e à Europa. Em algumas especialidades, os preços chegam a ser seis vezes menores que os praticados em centros norte-americanos.
Com mais de 50 hospitais credenciados pela JCI, 54% deles no município de São Paulo. o Brasil lidera a América Latina em número de instituições reconhecidas internacionalmente. Também é o segundo do mundo em cirurgias estéticas, com 3,3 milhões de procedimentos anuais, dos quais 480 mil (14,2%) são realizados em pacientes estrangeiros, especialmente vindos da Argentina, Estados Unidos e França. Além da cirurgia plástica, destacam-se os tratamentos odontológicos, bariátricos e de reprodução humana.
Além disso, o Brasil oferece certos procedimentos e técnicas inovadoras que são difíceis de encontrar em outros lugares, especialmente, na área de redesignação sexual, reprodução e saúde da mulher. Ademais, apresenta custo mais baixo dos procedimentos, às vezes até cinco ou seis vezes mais barato do que nos Estados Unidos. A combinação desses fatores contribui para o crescimento da indústria do turismo médico no País (Global Health Intelligence, 2024).
Estima-se que, em 2019, o Brasil recebeu cerca de 250 mil pacientes de outros países, sendo um destino popular para turismo médico de pessoas da América do Sul, países africanos lusófonos e de brasileiros que moram em outros países. Mesmo pacientes de nações com bom sistema público de saúde, como Inglaterra e Canadá, buscam tratamentos no Brasil, por conta da facilidade e rapidez no atendimento. Esses visitantes ficam, em média, 22 dias no País e gastam entre US$ 3 mil e US$ 15 mil.
Apesar desses diferenciais competitivos, o Brasil tem alguns desafios no setor de turismo médico-hospitalar, pois ainda perde espaço para outros países, como Singapura, Costa Rica, Turquia, Tailândia, Malásia e Índia. Estes são considerados os principais destinos de turismo médico, de acordo com a organização Patients Beyond Borders.

 

Panorama mundial

O turismo médico-hospitalar cresce em ritmo acelerado no mundo. Segundo o relatório Global Medical Tourism Market 2025-2029, da Technavio, o setor movimentou US$ 35,3 bilhões em 2024, tendo crescido 138,5% em relação aos US$ 14,8 bilhões registrados em 2019, antes da pandemia.
O montante do ano passado representou apenas 0,03% do PIB global, mas o movimento deverá alcançar US$ 168,1 bilhões até 2029, uma expansão total de 377%, ao ritmo de 75% na média anual. Em 2025, o faturamento mundial está estimado em US$ 45 bilhões, com crescimento de 27,5% em relação a 2024. Os tratamentos cardiovasculares lideram as preferências, movimentando US$ 14,5 bilhões, seguidos dos estéticos (US$ 11,6 bilhões), de fertilidade (US$ 6,4 bilhões) e ortopédicos (US$ 5,2 bilhões).
A América do Norte, a Ásia Oriental e a Oceania concentram 62,5% do mercado mundial, enquanto a América do Sul responde por apenas 2,2%. Ainda assim, o continente latino-americano, especialmente o Brasil, emerge como novo destino competitivo, combinando excelência médica, hospitalidade e custo acessível.
O desafio, segundo o relatório, é transformar essa vantagem comparativa em estratégia estruturada de promoção internacional. A São Paulo Negócios aposta em parcerias entre hotéis, hospitais e agências de turismo, além de campanhas globais que posicionem a capital paulista como referência em saúde e bem-estar. Com infraestrutura médica de padrão internacional e ambiente urbano multicultural, São Paulo tem tudo para consolidar-se como epicentro do turismo médico no hemisfério sul.