Gracco Alvin*

Acredita-se que a infecção pelo novo coronavírus tenha chegado ao Rio de Janeiro durante o Carnaval de 2020. Após as festas, começamos a verificar um maior atendimento nas urgências e emergências de síndromes gripais. As internações hospitalares aconteciam, principalmente, nas classes A e B, sobretudo de pacientes que vinham dos Estados Unidos e da Europa. Foi o início da pandemia no Rio.

Em abril de 2020, com a suspensão das cirurgias e dos exames eletivos, os leitos hospitalares ficaram todos destinados ao tratamento da Covid-19. A taxa de contágio cresceu rapidamente, chegando a níveis de R.O = 3.0, ou seja, cada pessoa transmitia o vírus para mais três indivíduos.

Em maio, a taxa de ocupação dos hospitais privados já chegava a 97%, e estávamos em colapso de atendimentos dos novos casos. Os hospitais de campanha não estavam finalizados, na sua grande maioria. As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) eram utilizadas para internação de pacientes graves, algumas vezes intubados. A transferência de pacientes para cidades vizinhas, como Niterói , São Gonçalo, Volta Redonda e Petrópolis, era uma constante. O vírus interiorizou-se e seguiu para as pequenas cidades do estado.

Junho foi um mês difícil. A espera por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e Enfermaria era grande, e os hospitais privados atendiam a uma demanda acima do esperado. Os profissionais de saúde estavam no limite da exaustão. Além do absenteísmo dos profissionais devido à doença, faltavam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), medicamentos, anestésicos, e a inflação na saúde atingiu níveis impraticáveis, variando de 40% a 300% em alguns itens.

O declínio financeiro das instituições hospitalares foi inevitável, e passamos o mês de julho ainda com muitos óbitos, apesar da diminuição das internações e da estabilização do atendimento. Neste fluxo, agosto foi mais ameno e voltamos com as cirurgias eletivas, separando leitos Covid de leitos não Covid (hospitais com áreas Covid free). A expertise no tratamento diminuía a mortalidade, e as complicações dos pacientes eram menores.

Iniciamos a reabertura econômica, mas o Grito de Independência, no dia 7 de setembro, trouxe aumento do contágio e ampliação no número de casos e internações. A população estava cansada do isolamento, e a explosão de festas, os bares cheios e a aglomeração levaram-nos a um crescimento gradativo nos números de internações. A necessidade da população de sair e interagir entre si era grande, e a ansiedade de todos para um retorno ao antigo normal elevou os encontros e diminuiu o distanciamento, causando esquecimento de medidas preventivas.

Os feriados ensolarados de novembro trouxeram números sombrios e tristes de contágio, explosão de atendimentos nas emergências, ocupação de leitos para Covid e um novo aumento no número de mortos. Diante deste cenário, chegamos em dezembro cercados de doenças negligenciadas durante a pandemia que precisam ser tratadas, taxas altas de contágio, insuficiência de leitos e aceleração nos números da doença.

Ultrapassamos as 180 mil mortes no Brasil. As vacinas batem à nossa porta e esperamos que, até o final de 2021, todos os brasileiros estejam imunes e vacinados. Para isso, precisamos nos organizar tanto na aquisição quanto na logística da vacinação.

As festas natalinas devem ser restritas a pequenos grupos, e que o verão sirva mais de ensinamento quanto às medidas preventivas do que de grandes celebrações. Precisamos de união para enfrentar o futuro e atravessar esta passagem com resignação, inteligência e planejamento. Pouparemos vidas e poderemos, finalmente, comemorar. 

* Diretor da Associação de Hospitais do Estado do Rio de Janeiro (AHERJ) e diretor executivo da Faturhelp Consultoria em Saúde.