“O Vitiligo não dói, não coça, não arde e não apresenta nenhum risco real à integridade física do paciente. O que, na maioria das vezes, acontece é um quadro onde o doente sofre um abalo em sua autoimagem, e essa sim pode ser uma enorme fonte de sofrimento”, sinaliza o psicólogo Leonardo Alves, ao comentar sobre o Dia Mundial de Combate ao Vitiligo, instituído no próximo dia 25 de junho.
No Brasil, mais de um milhão de pessoas manifestam essa condição, segundo dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Já a Fundação de Pesquisa em Vitiligo (Vitiligo Research Foundation) afirma que a prevalência média da doença é de 0,5% a 2% da população mundial.
Apesar de negligenciado por muitos, o problema ainda é um estigma. “É correto dizer que os sintomas psicológicos são os que mais afetam quem sofre com a doença. A vida da pessoa passa a girar em torno das manchas e os sentimentos mais comuns são: angústia, fobia social e depressão”, justifica o psicólogo do Centro de Tratamento do Vitiligo, no Rio de Janeiro.
Embora não provoque o adoecimento físico, o vitiligo atinge diretamente a autoestima dos pacientes, que se tornam mais ansiosos. Um número considerável de casos é desencadeado em associação direta a uma situação de estresse intenso.
“Por experiência pessoal no trato com essas pessoas, elas se estressam com as manchas e isso pode fazer com que as mesmas aumentem de tamanho, entrando em um ciclo vicioso. Há uma constante preocupação em não se afligir com o vitiligo para que ele não aumente. Evidentemente isso não funciona, e gera quadros de ansiedade constantes”, explica Alves.
Para os psicólogos que trabalham com o problema, se torna evidente que cada vez que uma mancha nova aparece, o estado do indivíduo se altera profundamente.
“Em um trabalho cubano foi constatado que 70% dos pacientes se referem a um evento estressante antes do início da doença. Foi sugerido que o estresse eleva os níveis de hormônios neuroendócrinos, altera o nível de neuropeptídeos e neurotransmissores no sistema nervoso central, além de afetar a imunidade. Estes poderiam levar ao início ou exacerbação da doença”, esclarece o especialista.
Quando pensamos nos seus impactos no mercado de trabalho, apesar de ter mudado bastante, ainda temos muitos exemplos de prejuízos por conta dele.
“Por vezes, o empregador evita contratar pessoas com vitiligo pela simples desinformação. Por outro lado, os próprios doentes agem de forma mais contida, receosa, o que para algumas atividades profissionais pode ser prejudicial. Na prática, o que aparece nos relatos é que a doença ainda é mal vista no mercado de trabalho, existe preconceito e dificuldades, principalmente nas profissões que exigem exposição ao público”, relata.
Para fortalecer o psicológico, é importante reforçar a autoestima dos pacientes em médio prazo, com abordagens que possam vir a relativizar a relação do doente com as próprias manchas.
“Qualquer que seja a abordagem utilizada, o acompanhamento psicológico contribui no acolhimento do sofrimento do paciente. É importante oferecer condições de focar no futuro e envolver-se plenamente no próprio tratamento. Apresentar ferramentas para administrar os enfrentamentos sociais que a doença pode trazer. E, principalmente, dar a chance do paciente falar e elaborar seus sentimentos de modo franco e genuíno, permitindo que suas emoções se expressem por seu discurso e não por manchas em sua pele. É com informação correta e embasada que o preconceito vai acabando. É uma reação comum e esperada do comportamento humano temer o que desconhece. Quanto mais falarmos e desmistificarmos a questão do vitiligo, naturalmente, menos ele será temido e evitado”, informa o especialista.
Nos últimos anos, o tratamento de vitiligo avançou em novas formas de fototerapia, não sendo necessária a medicação oral. Para combater a doença autoimune, o Centro de Tratamento do Vitiligo trouxe para o Brasil a tecnologia Exciplex. O aparelho equilibra o sistema imunológico local e induz à morte de células T, que atacam os melanócitos da pele.
“Em quase 20 anos de experiência no tratamento da doença, essa é a primeira tecnologia que trata o vitiligo com maior velocidade, sem a necessidade de expor todo o corpo, atuando somente na lesão, podendo ser associado à outra terapia”, pontua a dermatologista Daniela Antelo.
A Food and Drug Administration (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, aprovou, no último ano, o primeiro medicamento em creme específico para tratar esta condição, ainda não disponível no Brasil, mas com promessas de melhorar o manejo da doença. “Além disso, há o próprio avanço na cirurgia do vitiligo, que proporciona uma melhora das manchas naqueles pacientes com lesões refratárias a outras formas de tratamento”, finaliza Daniela.