A prevalência da doença aumenta com a idade e está associada a doenças cardíacas estruturais, como hipertensão e diabetes, com início por volta dos 40 anos e pico de incidência entre 70 e 80 anos

A falta de atividade física, colesterol alto, diabetes, obesidade, estresse, consumo excessivo de álcool e tabagismo são alguns dos fatores que contribuem para o surgimento de arritmias cardíacas, uma doença que mata mais de 300 mil pessoas por ano no país. As arritmias são caracterizadas por alterações do batimento do coração, seja acelerado (taquicardia) ou mais lento (bradiarritmias). Em condições normais, o coração bate de 50 a 100 vezes por minuto, com o estímulo para a contração iniciando nos átrios e seguindo até os ventrículos. “As arritmias podem se originar em qualquer lugar do trajeto do estímulo elétrico e isso muda a característica de sintomas, tratamento e chance de acometimentos mais graves”, explica o José Tarcísio Medeiros de Vasconcelos, cardiologista e eletrofisiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos principais hubs de saúde de excelência do país.

O coração humano é composto por quatro câmaras: duas superiores, os átrios, que recebem o sangue; e duas inferiores, os ventrículos, que bombeiam o sangue para fora do coração. O processo de bombeamento é coordenado por células que emitem estímulos elétricos de forma ordenada. “São essas células que, ao apresentarem alterações, desenvolvem arritmias”, afirma o especialista.

O médico destaca que a fibrilação atrial, uma forma de taquiarritmia em que a atividade elétrica se torna completamente desorganizada, é uma das mais frequentemente diagnosticadas. Isso compromete a contração dos ventrículos, tornando o batimento do coração, além de acelerado, desorganizado e descompassado. Durante a fibrilação atrial, os átrios tentam contrair em uma velocidade tão rápida que passam apenas a tremer ao invés de contrair. “Os principais sintomas do paciente que apresenta fibrilação atrial são palpitações, falta de ar, e a sensação de que o coração está batendo desordenadamente”, alerta Vasconcelos.

A fibrilação atrial é a principal causa de internação por arritmias, representando cerca de 33% dos casos. A prevalência dessa condição aumenta com a idade e está associada a doenças cardíacas estruturais, como hipertensão e diabetes, com início por volta dos 40 anos e pico de incidência entre 70 e 80 anos. Entre os pacientes mais jovens, os homens são mais afetados; contudo, após os 75 anos, as mulheres passam a ter uma incidência maior.

Tratamento
O tratamento das arritmias engloba desde o tratamento medicamentoso até procedimentos como ablação – técnica que serve para destruir o tecido doente -, e o implante de marca-passo definitivo ou cardiodesfribiladores.

No caso das bradiarritmias, o tratamento geralmente envolve o implante de marca-passo, um dispositivo que envia estímulos elétricos ao coração para manter um ritmo adequado. Atualmente já é possível implantar marca-passos sem oseletrodos (leadless pacemaker), que são menores e colocados diretamente no coração, reduzindo o risco de infecção e de fratura dos cabos eletrodos. “A BP é pioneira na implantação desse tipo de marcapasso no Brasil, que é considerado na cardiologia como uma tecnologia revolucionária”, afirma o médico. A instituição foi, inclusive, responsável pela implantação do menor marcapasso do mundo, o Micra, da Medtronic, em 2021.

Já os cardiodesfibriladores implantáveis são dispositivos utilizados no tratamento das taquiarritmias malignas. Pacientes com taquicardias ventriculares, que é uma disfunção do músculo do coração, podem precisar de um cardiodesfibrilador para reverter uma arritmia com um choque elétrico dentro do coração e, assim, evitar uma parada cardíaca.

Por último, também pode-se tratar outras taquiarritmias com ablação percutânea, que consiste em levar um cateter até o coração, por dentro das veias, e realizar a cauterização do foco que está gerando a taquicardia. Para muitos pacientes, particularmente aqueles que sofrem de anormalidades congênitas, a ablação percutânea pode representar a cura das taquiarritmias. “A BP foi um dos primeiros hospitais do mundo e o primeiro do Brasil a fazer esse tratamento a partir de 1988”, finaliza o especialista.