A gestão financeira das empresas em tempos de mar agitado

Ivan Carlos de Lima* 

Há um pensamento de que “mar calmo nunca fez bom marinheiro”, e isso é uma grande verdade. Normalmente, o marinheiro, ao adentrar em águas profundas, parte a bordo de uma embarcação com equipamentos de segurança e de orientação. Alguns servirão para apoiá-lo na travessia e outros para guiá-lo. No mundo dos negócios não é diferente. É em tempos de mares agitados e ondas gigantescas, como as que estamos enfrentando agora, com a pandemia de Covid-19, que se prova o valor da boa gestão financeira.

A boa gestão financeira de uma empresa passa por análises mensais relativas aos resultados dos negócios, avaliando a estrutura de custos, capitais, endividamento, liquidez, prazos médios de recebimento e pagamento, lucratividade, ponto de equilíbrio etc.  Todas essas informações podem e devem ser obtidas por meio da contabilidade, que serve como uma bússola para guiar o gestor financeiro. Esta bússola tem condições de sinalizar se a gestão financeira e econômica do negócio está seguindo na direção correta.

A contabilidade, por intermédio de seus números, pode trazer indicadores vitais para a condução dos negócios. Estes indicadores desempenham o mesmo papel que os exames de imagem amplamente utilizados na medicina moderna, por exemplo, que permitem aos médicos visualizarem o interior do corpo, detectando anomalias e auxiliado no diagnóstico para cura da doença.

O termo “indicadores” refere-se a elementos extraídos com o objetivo de apontar ou mostrar algo. Em uma empresa, os indicadores são diversos: financeiros, econômicos, métricas de vendas, produção, estoque, custos, entre outros. Dentre os diversos indicadores econômico-financeiros, podemos destacar cinco, quais sejam: margem de contribuição; margem de lucro; custos; lucratividade; e geração de caixa. Os indicadores aqui referidos demonstram:

  • Margem de contribuição: indicador financeiro mais importante, pois é justamente ele que vai dizer para o gestor quanto sobra da receita das vendas depois do desconto dos custos diretos (aqueles relacionados à geração da receita) para pagar os custos fixos, as despesas e, eventualmente, ter lucro;  
  • Margem de lucro: esse indicador está diretamente associado à gestão de custos e demonstra se a venda está gerando ganhos na última linha ou não. Ao calcular a margem dos produtos e serviços, o gestor consegue identificar se está sobrando lucro para o sócio depois de pagar todos os custos e as despesas da empresa;
  • Custos: os custos são aqueles gastos envolvidos diretamente na produção do negócio. Em um hospital, por exemplo, são os gastos diretamente ligados à prestação de serviços, tais como: medicamentos, gastos com equipe envolvida na prestação de serviços, energia elétrica, entre outros. Essencialmente, custos são variáveis, pois estão atrelados à produção. Ou seja, se a produção do hospital cresce, o custo, consequentemente, crescerá.  É comum se pensar que os custos e as despesas são sinônimos. Todavia, não é bem assim. Despesas são, essencialmente, fixas. Não variam de acordo com o volume produzido e, principalmente, não reduzem à medida que a produção cai, o que, muitas vezes, gera problemas no equilíbrio econômico-financeiro da empresa. Podemos trazer como exemplo de despesa os gastos com a equipe administrativa, além de aluguel, água, internet, contas telefônicas e serviços de terceiros;
  • Lucratividade: esse indicador demonstra a eficiência operacional do negócio. Indica qual percentual das receitas sobra de lucro no final do mês;
  • Geração de caixa: esse indicador, muito parecido com o de lucratividade, demonstra qual montante em reais está sendo “guardado” ao final do mês, ou seja, partindo das receitas, descontando todos os custos e as despesas, quanto sobra de caixa ao final de um período. Gerar e economizar caixa pode ser a diferença entre a falência e a sobrevivência de um negócio, pois é ele que vai permitir a criação de um fundo de reserva para momentos de crise ou de dificuldades financeiras.

Normalmente, os indicadores aqui referidos são utilizados para sinalizar o destino do empreendimento: estamos indo bem ou não? Em tempos de mares agitados, como nestes dias de pandemia de Covid-19, além do acompanhamento destes indicadores, outras medidas podem e devem ser adotadas, tendo em vista que tanto as grandes empresas quanto as pequenas e médias serão fortemente impactadas.

Para tentar amenizar os impactos econômicos e financeiros que serão causados pela Covid-19, as pequenas e médias empresas podem montar seus comitês de monitoramento visando acompanhar a situação, tanto no cenário micro quanto no macroeconômico. Este comitê pode ser composto pelos sócios do negócio, pela área financeira e pelos recursos humanos. 

Vivemos dias de mares agitados, ondas bravias, e acredito que, da mesma forma que a área médica, com seus profissionais da saúde, vem enfrentando, com garra e honra, o novo coronavírus, os gestores financeiros precisam se munir de informações confiáveis, obtidas por meio de suas contabilidades, para enfrentamento da crise com a gestão financeira de seus negócios, administrando, assim, o fluxo de caixa das empresas, demonstrando a competência e a habilidade necessárias para conduzir seus empreendimentos a um porto seguro, assumindo a posição de capitães da embarcação e fazendo jus ao ditado “mar calmo nunca fez bom marinheiro”.  

* Ivan Carlos de Lima é graduado em Ciências Contábeis e em Ciências Jurídicas pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Pós-graduado, com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (Ibet). É sócio do Grupo KBL Contabilidade, uma empresa que oferece serviços especializados nas áreas de contabilidade empresarial e assessoria jurídica tributária.