Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) consultou médicos de 23 estados e do Distrito Federal

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) divulgou o resultado de uma pesquisa realizada com médicos psiquiatras de 23 estados e do Distrito Federal, que identificou a realidade dos atendimentos psiquiátricos durante a pandemia de Covid-19 em todo o país. O levantamento revelou que 47,9% dos psiquiatras entrevistados perceberam aumento em seus atendimentos após o início da pandemia. Entre eles, seis a cada dez constataram que o número de consultas cresceu até 25%.

A pesquisa também teve como objetivo identificar os atendimentos a pacientes novos, que apresentaram recaída após o tratamento já finalizado ou o agravamento de quadros psiquiátricos em pacientes que ainda estão em tratamento. Os resultados mostram que 67,8% responderam que receberam pacientes novos após o início da pandemia, pessoas que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos antes.

Outros 69,3% dos psiquiatras informaram que atenderam pacientes que já haviam recebido alta médica e tiveram recidiva de seus sintomas, que retornaram ao consultório ou fizeram novo contato para atendimento. Além disso, 89,2% dos médicos entrevistados destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido à pandemia de Covid-19. 

O aumento da sintomatologia ansiosa e de quadros de depressão, ansiedade e transtorno de pânico, bem como de alterações significativas no sono, também foi destacado pelos participantes da pesquisa. Entre o grupo que não percebeu aumento nos atendimentos durante a pandemia, 44,6% do total de entrevistados, uma questão discursiva apontou o movimento contrário: a queda no número de atendimentos. Nos principais motivos listados, figuraram a interrupção do tratamento por parte do paciente devido ao medo de contaminação, a queda no atendimento aos grupos de risco e as restrições de circulação impostas por algumas localidades. 

MONITORAMENTO
O presidente da ABP, Antônio Geraldo da Silva, destaca a importância de se monitorar o atendimento psiquiátrico durante a pandemia para traçar estratégias de cuidado à saúde mental da população. “Essa pesquisa identificou dois cenários preocupantes como consequência de uma única possibilidade. O aumento dos atendimentos foi motivado, em sua maioria, pelo agravamento dos transtornos ou o desenvolvimento de novas patologias psiquiátricas devido ao medo da Covid-19. Entretanto, a redução dos atendimentos àqueles que assim identificaram também se deve ao medo da contaminação e às estratégias para evitar o contágio”, identifica o psiquiatra. 

“O monitoramento da saúde mental de pacientes já em tratamento ou em remissão, bem como da população em geral, é fundamental neste momento. O estresse é uma reação normal que nos ocorre quando temos que ajustar nosso organismo frente à mudança”, explica o presidente. “Quando saímos de nossa homeostase, ou seja, o nosso modo usual de funcionamento, cognitivo, comportamental e emocional, temos que usar nossos mais nobres recursos para adaptação. É nesse sentido que muitas pessoas, ao não conseguirem fazer esse ajuste, adoecem e necessitam de atendimento especializado. É de se supor que, num momento de grande mudança e necessidade de adaptação, sintomas de ansiedade, depressão e relacionados ao trauma aumentem e precisem de uma abordagem imediata.”

Para ele, já era certo que a pandemia de Covid-19 traria sérios impactos nos atendimentos e na saúde mental da população. A necessidade, agora, é de adaptação. “Mesmo antes da pesquisa, já sabíamos que uma pandemia destas proporções traria consequências graves à saúde mental de todos. Agora, temos uma ideia da realidade dos atendimentos psiquiátricos no país e os pontos aos quais precisaremos nos dedicar para garantir um atendimento em saúde mental de qualidade para toda a população, mesmo em tempos de Covid-19”, conclui.