O aumento foi registrado no Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG). O comparativo é entre os meses de janeiro de 2023 e 2024.

O Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), que fica no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), em Curitiba, registrou um aumento de 214% no número de hepatectomias e pancreatectomias neste início de 2024. As cirurgias são para retiradas parciais do fígado e pâncreas, em geral indicadas para pacientes com câncer ou metástase nestes órgãos.

Isso acende o alerta para o aumento crescente dos casos de câncer nestas partes do corpo. Os números vêm crescendo tão rápido que, pela primeira vez, em 2023, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) incluiu estas neoplasias em suas estatísticas. Como é recente, os dados ainda estão em processamento. Mas o Inca estima que 2,7% dos homens brasileiros foram diagnosticados com câncer de fígado em 2023. Ou seja, foram aproximadamente 6.390 casos, o que coloca a doença em 10º lugar no ranking de cânceres em homens.

Já para as mulheres, 2,3% das brasileiras podem ter sido diagnosticadas com câncer de pâncreas em 2023. É o 9º lugar no ranking de neoplasias que mais afetam as mulheres, com estimados 5.690 casos no ano passado.

Em relação às hepatectomias, o DataSUS, base de dados Ministério da Saúde, aponta os números crescentes do procedimento ao longo dos anos. Veja o ano e a quantidade de hepatectomias (dados de 2023 ainda em tabulação pelo Ministério e que podem sofrer alteração):

2020 – 887

2021 – 951 => aumento de 7,2%

2022 – 968 => aumento de 1,7%

2023 – 1.098 => aumento de 13,4%

Cirurgias no CIGHEP

O médico Eduardo Ramos, cirurgião especializado em fígado e pâncreas, percebe o crescimento dos casos de cânceres como reflexo do aumento das cirurgias realizadas por ele e por sua equipe no Cighep.

“No início de 2023 (num período de 22 dias, entre 18 de janeiro e 8 de fevereiro), foram sete cirurgias de fígado e pâncreas. Já em 2024 (no período de 21 dias, entre 18 de fevereiro e 7 de janeiro), a quantidade saltou para 15 procedimentos. Ou seja, um aumento de 214% na comparação dos períodos”, afirmou o cirurgião Eduardo Ramos, do Cighep.

Veja a estatística das cirurgias de fígado e pâncreas:

  • 9 hepatectomias (retirada parcial do fígado)
  • 4 pancreatectomias (retirada parcial do pâncreas)
  • 1 transplante hepático (substituição total do fígado)
  • 1 de vias biliares (retirada parcial das vias biliares)

Casos recentes

De acordo com o cirurgião Eduardo Ramos, as hepatectomias foram por diversas causas, sendo todas doenças malignas, que é metástase de tumor de cólon para o fígado, colangiocarcinoma e hepatocarcinoma. “Em relação às pancreatectomias, também, quase todas por câncer. O adenocarcinoma foi a indicação mais comum, mesmo com invasões de vasos, que se chama invasão vascular”, explica o cirurgião Eduardo Ramos.

O eletrotécnico aposentado Emídio Rosset, 65 anos, é um dos pacientes que passaram por cirurgia em janeiro com o Dr. Eduardo. Ele mora na cidade de Ariquemes, em Rondônia. Depois de um procedimento na próstata em 2014, por causa de um câncer, ele passou a fazer exames semestrais de acompanhamento. Em 2023, um destes exames, foi descoberto um câncer de fígado. Então ele decidiu vir a Curitiba para a cirurgia.

“Fiz a hepatectomia por cirurgia robótica no HNSG. O procedimento menos invasivo causou menos dor e está promovendo uma recuperação mais rápida”, conta. Foram 12 horas de cirurgia, três dias na UTI e mais cinco no quarto hospital, além de outros 15 dias com dreno em casa. E Emídio alerta: “Eu não sentia dor, não sentia nada. Descobri por causa de um exame de rotina. Por isso eu digo que as pessoas não devem ignorar os exames rotineiros, devem sempre buscar o médico”, alertou ele.

Quem também passou pelo Cighep foi a dona de casa Joceli Rodrigues Freitas Barros, 42 anos. Ela fazia o acompanhamento médico por um problema na vesícula quando descobriu um câncer no fígado. “A cirurgia foi tranquila. E o pós-operatório foi mais ainda. As pessoas até se admiram de eu estar me movimentando desse jeito, pelo tamanho do procedimento”, disse Joceli.

Aumento dos casos de câncer

Quando somam-se todas as cirurgias do Cighep em 2023, a estatística acende o alerta para os casos de câncer de fígado e pâncreas. Foram 82 ressecções (retirada parcial de fígado, pâncreas ou vias biliares), mais de uma por semana, o que representa um aumento de 13,4% de cirurgias no HNSG, comparado a 2022. Deste total, 23 cirurgias foram robóticas (total de 52 ressecções, já que cada pedaço retirado do mesmo órgão conta como uma ressecção diferente). Foram aproximadamente duas por mês.

Nas cirurgias ocorreram dois óbitos, uma quantidade considerada baixa nesta área clínica (2,4%), visto que as operações em fígado e pâncreas são complexas e o risco é alto. O número baixo, aponta o cirurgião Eduardo Ramos, é graças ao tratamento multidisciplinar e à estrutura hospitalar do HNSG.

Também foram feitas 44 pancreatectomias, o que incluiu 20 whipples (retirada apenas da cabeça do pâncreas, da parte final da via biliar e da vesícula biliar).

Em quase cinco anos de atuação, o Cighep já soma 300 pancreatectomias e 800 ressecções de fígado, pâncreas e vias biliares.

Sobre o Cighep

O Cighep foi criado em 2019, por médicos do HNSG, com o objetivo de trazer um atendimento ainda mais especializado a pacientes na área de gastroenterologia clínica e cirúrgica. A equipe se reúne semanalmente para discutir os casos complexos e trazer um diagnóstico preciso e multidisciplinar. O atendimento clínico engloba: gastroenterologia geral, doença inflamatória intestinal e as doenças do fígado, incluindo o transplante hepático. Há exames de endoscopia, radiologia intervencionista e diagnóstica, patologia, unidade de terapia intensiva, além de centro cirúrgico equipado com cirurgia laparoscópica e robótica.

Conheça o Cighep .