Aumento de 14% nas internações por hepatites virais no SUS em dois anos

As internações hospitalares por hepatites virais no Sistema Único de Saúde (SUS) têm apresentado crescimento contínuo nos últimos anos. Em 2022, foram registradas 3.596 internações; em 2023, o número subiu para 3.702 e, em 2024, alcançou 4.108 — representando um aumento de aproximadamente 14% no período. Apenas nos dois primeiros meses de 2025, já foram contabilizadas 743 internações, evidenciando a persistência do problema.

De acordo com a infectologista da Santa Casa de Chavantes, Dra. Camila Real Pelloso, responsável pela Comissão de Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (CCIRAS), “as hepatites virais são inflamações do fígado causadas por diferentes agentes etiológicos, principalmente vírus, mas também podem resultar de causas não infecciosas, como consumo excessivo de álcool, uso de certos medicamentos, exposição a substâncias hepatotóxicas e doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas”.

No Brasil, os tipos mais prevalentes de hepatite viral são os causados pelos vírus A, B e C. O vírus D (Delta) tem maior prevalência na região Norte. O vírus E é menos comum, mas pode ocorrer em áreas com saneamento básico deficiente.

As hepatites B e C possuem alto potencial de cronificação. Em muitos casos, são infecções assintomáticas nas fases iniciais, o que dificulta o diagnóstico precoce. Essa ausência de sintomas permite que a doença evolua de maneira silenciosa, podendo causar fibrose hepática, cirrose, carcinoma hepatocelular e, em casos avançados, a necessidade de transplante hepático.

Estima-se que as hepatites virais sejam responsáveis por cerca de 1,4 milhão de óbitos anuais no mundo, em decorrência de infecção aguda, cirrose hepática ou câncer do fígado. A taxa de mortalidade por hepatite C é comparável à do HIV e da tuberculose, tornando-se uma preocupação global de saúde pública.

 

Transmissão, manifestações clínicas e prevenção

As vias de transmissão das hepatites virais variam conforme o tipo. A hepatite A é transmitida principalmente por via fecal-oral, por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados, sendo mais comum em áreas com saneamento básico inadequado. Nos últimos anos, a hepatite A também passou a ser considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST), especialmente pela via do sexo oral.

As hepatites B e C são transmitidas principalmente pelo contato com sangue contaminado, como no compartilhamento de seringas, agulhas ou objetos cortantes, em transfusões sanguíneas não seguras e em relações sexuais desprotegidas. A hepatite B também pode ser transmitida da mãe para o filho durante o parto. A hepatite D ocorre apenas em pessoas já infectadas pelo vírus da hepatite B e compartilha os mesmos meios de transmissão. Já a hepatite E, assim como a A, é transmitida por via fecal-oral, especialmente em locais com água contaminada e infraestrutura sanitária precária.

“Os sinais clínicos, quando presentes, incluem fadiga, febre, mal-estar, dor abdominal, náuseas, vômitos, urina escura, fezes esbranquiçadas e icterícia – coloração amarelada da pele e mucosas. Muitas dessas manifestações são inespecíficas, podendo ser confundidas com outras condições clínicas, o que reforça a necessidade de avaliação médica adequada diante de qualquer suspeita”, orienta a especialista.

Entre os principais métodos de prevenção, destacam-se o uso de preservativos nas relações sexuais, a não reutilização de seringas e agulhas, e cuidados com higiene alimentar. Além disso, há vacinas disponíveis para os vírus das hepatites A e B, consideradas formas eficazes de prevenção. Ambas fazem parte do calendário nacional de vacinação infantil e estão disponíveis gratuitamente pelo SUS.

 

Diagnóstico e tratamento

“O diagnóstico das hepatites virais é realizado por meio de exames sorológicos, que identificam antígenos e anticorpos específicos, bem como testes laboratoriais para avaliar a função hepática. Exames moleculares (PCR) podem ser utilizados para detectar a carga viral e guiar o tratamento”, explica a médica.

A hepatite A costuma apresentar curso autolimitado e não requer tratamento específico, sendo manejada com medidas de suporte. Por outro lado, as hepatites B e C dispõem de terapias antivirais eficazes. A hepatite C pode ser curada com medicamentos antivirais de ação direta (DAAs), enquanto a hepatite B pode ser controlada com antivirais de uso contínuo, reduzindo significativamente o risco de complicações hepáticas.

Em estágios avançados, com sinais de insuficiência hepática ou carcinoma hepático, pode ser necessário o transplante de fígado. “O diagnóstico precoce, aliado à ampliação do acesso à testagem e ao tratamento, permanece fundamental para melhorar os desfechos clínicos e reduzir a carga da doença”, conclui Dra. Pelloso.

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