Avanços nos testes genéticos transformam diagnóstico e tratamento do câncer infantil

Medicina de precisão impulsiona terapias mais eficazes e seguras para crianças

*Por Luiz Gustavo Ferreira Côrtes

O câncer infantil compreende um grupo diverso de doenças caracterizadas pela proliferação descontrolada de células anormais, que podem surgir em diferentes partes do corpo. Entre os tipos mais comuns em crianças e adolescentes estão as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas. Outros tipos incluem o neuroblastoma, o tumor de Wilms, o retinoblastoma, os tumores germinativos, o osteossarcoma e os sarcomas, cada um afetando áreas específicas como o sistema nervoso periférico, os rins, os ossos ou os tecidos moles.

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, o câncer já é a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, representando 8% dos óbitos nessa faixa etária. No entanto, os avanços no tratamento nas últimas décadas têm sido notáveis, alcançando índices de cura próximos a 80%. Além disso, a maioria dos pacientes tratados adequadamente apresenta boa qualidade de vida após a recuperação.

Os testes genéticos moleculares estão revolucionando a abordagem do câncer infantil, oferecendo diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados. Por meio de tecnologias como o sequenciamento de nova geração (NGS), é possível identificar alterações genéticas subjacentes às neoplasias, permitindo intervenções mais eficazes e menos agressivas.

No caso das leucemias, o uso desses testes ajuda a prever o prognóstico e a adaptar o tratamento ao perfil molecular do paciente, como ocorre com a leucemia linfoblástica aguda (LLA). Alterações genéticas específicas, como a fusão BCR-ABL, têm sido alvo de terapias inovadoras que aumentam as taxas de remissão e reduzem a toxicidade.

Tumores sólidos, como os gliomas e o neuroblastoma, também se beneficiam desses avanços. Em gliomas pediátricos, a identificação de mutações como a do gene H3F3A tem direcionado estratégias mais precisas. Já no neuroblastoma, fatores como a amplificação do oncogene MYCN têm orientado tratamentos adaptados, incluindo inibidores de ALK.

Além disso, os testes genéticos têm impulsionado o desenvolvimento de terapias como as células CAR-T, que mobilizam o sistema imunológico do próprio paciente contra células cancerígenas, mostrando-se promissoras para leucemias resistentes.

No Brasil, desafios como o custo e o acesso ainda limitam a disseminação dessas inovações. No entanto, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) desempenha um papel crucial na difusão dessas tecnologias, promovendo um futuro mais promissor para crianças com câncer por meio da medicina de precisão.

*Luiz Gustavo Ferreira Côrtes é médico patologista clínico, cirúrgico e molecular, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).