Por Dr. Samuel Okazaki (Clínico e Cirurgião do Aparelho digestivo)*

Você, provavelmente, já deve ter conhecido alguém que recebeu o diagnóstico de cálculos biliares, também conhecidos por pedras da vesícula biliar. Esta condição é relativamente comum em adultos, com uma predominância no sexo feminino, e que atinge cerca de 20 a 30% da população brasileira.

Muitos casos são assintomáticos e diagnosticados em exames de rotina, e outros passam totalmente despercebidos, sendo descobertos quando alguma complicação surge de forma aguda.

Cálculo Biliar

É também conhecido tecnicamente como Colecistopatia calculosa, colelitíase ou, simplesmente, pedras na vesícula biliar. Antes de entendermos o que é, devemos compreender mais sobre o órgão em que ela ocorre.
Parte do processo de digestão, a vesícula biliar é um órgão pequeno, com a forma de uma bexiga murcha, localizado abaixo do fígado, na parte superior direita do abdome. Ela armazena e concentra a bile – substância produzida pelo fígado, responsável pela digestão, principalmente de gorduras no intestino. A bile é composta por vários elementos, entre eles o colesterol, um dos responsáveis por grande parte da formação de cálculos (pedras).

Os cálculos biliares são depósitos de material sólido (em sua maioria cristais de colesterol) e podem variar de quantidade e tamanho, o que causa diferentes sintomas ou complicações, sendo as principais: a inflamação aguda da vesícula biliar (Colecistite aguda); e a migração das pedras pelos ductos biliares e consequente inflamação aguda do pâncreas (Pancreatite aguda). Tais complicações são emergenciais e necessitam de cuidados médicos imediatos.

Estima-se que 30 a 50% das pessoas com diagnóstico de colelitíase poderão ter complicações, caso não sejam tratadas adequadamente.

Causas e fatores de risco

As causas da formação de pedras na vesícula ainda não são totalmente esclarecidas. Dentre os fatores que podem aumentar o risco de se tê-las destacamos: ser do sexo feminino; ter mais de 60 anos; sobrepeso e obesidade; gravidez; histórico familiar de pedras na vesícula; diabetes; elevação do LDL (colesterol ruim) e diminuição do HDL (colesterol bom); hipertensão arterial; perda de peso rápida; dieta rica em gorduras e açúcares; tabagismo; sedentarismo; uso prolongado de anticoncepcionais e uso de medicamentos que contêm estrógeno.

Mas é importante ressaltar que o diagnóstico não ocorre exclusivamente em pessoas com os fatores mencionados acima, elas apenas possuem um risco maior. Mesmo quem possui bons hábitos alimentares, saudáveis e sem outros problemas de saúde também podem sofrer desta patologia.

Sintomas e diagnóstico

Os cálculos biliares podem permanecer assintomáticos por muito tempo. Quando são sintomáticos, podem causar desde um leve desconforto abdominal e intolerância a alimentos gordurosos, até dores de forte intensidade no lado superior direito do abdome (que podem irradiar para as costas), náuseas, vômitos, febre e icterícia (pele e olhos amarelados).
Em caso de suspeita, o diagnóstico pode ser feito por meio do exame de ultrassonografia abdominal. Em casos raros de microlitíase, ou seja, pedras muito pequenas, pode ser necessária a realização de um ultrassom por endoscopia (ecoendoscopia).

Tratamento

O tratamento preconizado e definitivo é a cirurgia para a remoção da vesícula biliar (colecistectomia). Mesmo nos casos assintomáticos ela é indicada para prevenir sintomas ou complicações, como a pancreatite. O procedimento é realizado por meio de métodos minimamente invasivos (laparoscópica ou robótica) e requer poucos dias de internação hospitalar. O método é seguro e a recuperação costuma ser rápida, com o retorno às atividades profissionais e físicas poucos dias após o procedimento.

E a vida sem a vesícula biliar?

O corpo humano é capaz de se adaptar bem à retirada da vesícula biliar. Nos primeiros dias, após a remoção, é recomendável uma dieta com pouca gordura e balanceada. Contudo, a grande maioria das pessoas leva uma vida normal após a cirurgia, sem nenhum prejuízo à saúde e sem a necessidade de nenhum tipo de tratamento ou reposição específicos.

*O Dr. Samuel Okazaki ingressou no curso de medicina da UNIFESP em 1999. Desde o início esteve engajado com atividades ligadas à cirurgia geral e do aparelho digestivo. Fez residência médica em Cirurgia Geral e Cirurgia do Aparelho Digestivo na UNIFESP, da qual ainda é médico assistente da disciplina de Gastrocirurgia. É especializado em cirurgia minimamente invasiva — Laparoscopia e em cirurgia robótica através da Intuitive Surgical — da Vinci Surgical System. Atualmente, faz parte do corpo clínico dos hospitais Israelita Albert Einstein, Vila Nova Star, São Luiz entre outros renomados, atuando não só na parte assistencial, mas também em grupos científicos de tais instituições.