Doença tem sido diagnosticada cada vez mais na população mais jovem; diagnóstico precoce aumenta a chance de cura

São Paulo, setembro de 2020 – Os cânceres de próstata e de mama são muito lembrados pela população por serem frequentes, mas pouco se fala sobre o terceiro tipo mais comum: o câncer colorretal. Essa doença engloba os tumores malignos que acometem tanto o cólon (intestino grosso) quanto o reto, parte final do órgão. Para alertar a população sobre o tema, foi instituído o Setembro Verde, mês de conscientização desse tipo de câncer, que tem 40 mil novos casos por ano, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (I nca ) .

Ricardo Carvalho, oncologista clínico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo , afirma que no Brasil são 20 novos casos a cada 100 mil habitantes. “Na última estimativa mundial, em 2018, tivemos um milhão e oitocentos mil novos casos de câncer colorretal em todo o mundo. Embora tenhamos observado nos últimos anos uma queda no número de casos novos e na mortalidade na população geral, a situação é diferente entre os mais jovens: está havendo um aumento no número de casos novos e na mortalidade nessa população. E estamos falamos de um tipo de câncer que pode ser diagnosticado precocemente, por meio de exames de rastreamento como a colonoscopia, e que é curável na imensa maioria das vezes”, alerta o médico. Segundo ele, por esses e outros fatores é necessário focar no diagnóstico precoce e nas mudanças de hábitos e estilo de vida para que haja diminuição no surgimento de novos casos e uma taxa de cura cada vez maior.

Fatores de risco como obesidade, sedentarismo, tabagismo, idade avançada e doenças como a retocolite ulcerativa estão ligados à doença. “Uma dieta com elevado consumo de carnes vermelhas, embutidos e enlatados e pobre em fibras, frutas, vegetais e cálcio também são fatores de risco conhecidos e podem contribuir para o desenvolvimento do tumor”, alerta o especialista. Há também fatores hereditários, mas esses são responsáveis pela minoria dos cânceres de cólon e reto.

Os sintomas variam muito e dependerão do estágio em que a doença se encontra, mas é importante ficar atento em relação ao aparecimento de sangue nas fezes ou alteração persistente na consistência habitual. “Ao notar qualquer mudança nesse sentido é necessário procurar um médico. Perda de peso, dor e aumento do volume do abdômen também são sinais que merecem atenção. Entretanto, quando a doença está na fase inicial o indivíduo pode não apresentar nenhum sintoma”, ressalta o oncologista.

O diagnóstico é feito por meio de um exame endoscópico como a colonoscopia, que possibilita a visualização de todo o intestino grosso, e eventual biópsia de uma lesão suspeita. “É um exame simples, acessível e que pode ser encontrado nos serviços de saúde”, comenta o médico.

As principais sociedades médicas do mundo recomendam a realização da colonoscopia como exame de rastreamento para todas as pessoas acima dos 45 anos de idade. Indivíduos com familiares de primeiro grau com câncer colorretal devem realizar o exame mais precocemente, geralmente 10 anos antes da idade que o familiar tinha quando ocorreu o diagnóstico. “Por exemplo, se a mãe de uma pessoa teve câncer colorretal aos 52 anos, essa pessoa deverá realizar o primeiro exame aos 42 anos. A depender do resultado do exame, o intervalo para um novo exame pode variar entre um e três anos”, afirma.

Prevenção e tratamento

A taxa de cura desse tipo de câncer gira em torno de 70%, ou seja, sete em cada dez pacientes que recebem diagnóstico são curados. No entanto, a chance de cura para tumores detectados em estágios iniciais pode chegar a 90 ou 95%. “O tratamento varia dependendo do estágio da doença, podendo ser desde a retirada de um pólipo ou a realização de cirurgia para remoção de uma região do intestino comprometida pelo tumor. Em alguns casos se faz necessário a realização de quimioterapia ou radioterapia”, explica Ricardo Carvalho.

O tratamento do câncer de cólon tem tido importantes avanços na última década. No Asco Annual Meeting 2020, o maior congresso mundial de oncologia, foi apresentado um estudo que mudou a conduta em pacientes com câncer de cólon metastático. “A pesquisa demonstrou que a imunoterapia, um tipo de tratamento menos tóxico, é mais efetiva que a quimioterapia convencional em casos selecionados”, ressalta o especialista. Mas ele lembra também que a melhor forma de prevenir esse tipo de câncer é combater o sedentarismo e cuidar melhor da alimentação, evitando o consumo exagerado de carne vermelha e álcool e mantendo uma dieta rica em frutas, verduras e fibras.