Cansaço que não passa? Pode ser anemia: entenda

Junho Laranja é o mês de alerta para doenças do sangue, entre elas a anemia, uma condição muitas vezes negligenciada, mas com grande impacto na saúde global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia afeta cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo, o equivalente a quase 30% da população. No Brasil, o cenário preocupa: cerca de 29% das mulheres adultas vivem com algum grau de anemia, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
“Apesar de muito comum, a anemia ainda é subestimada. Muitos pacientes convivem com sintomas como cansaço excessivo, fraqueza, queda de cabelo e tontura, sem imaginar que estão com uma deficiência de ferro no sangue, substância essencial para levar oxigênio aos tecidos do corpo”, explica a Alessandra Rascovski endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma.
A forma mais prevalente é a anemia ferropriva, causada pela deficiência de ferro, responsável por cerca de 90% dos casos. Mulheres em idade fértil, gestantes, crianças em fase de crescimento, adolescentes, idosos e pessoas que fizeram cirurgia bariátrica são os grupos mais vulneráveis.
“Nosso corpo precisa de ferro para produzir os glóbulos vermelhos. Quando há deficiência, o transporte de oxigênio fica comprometido e isso impacta diretamente na disposição física, na concentração e até na imunidade”, afirma a endocrinologista Bárbara Scalon, também da Atma Soma.
Diagnóstico e investigação da causa

O diagnóstico da anemia é feito por meio de exame de sangue (hemograma completo), mas importante lembrar que a deficiência de ferro já pode estar presente antes da anemia. Valores de hemoglobina abaixo de 12g/dL em mulheres e de 13g/dL em homens já indicam um quadro anêmico. “Mas identificar a causa é tão importante quanto confirmar o diagnóstico. A anemia pode ter origem em deficiências nutricionais, sangramentos crônicos, doenças da tireoide, rins, fígado ou até ser sinal de doenças mais graves”, alerta Rascovski.
Mais do que fadiga e palidez, a condição pode ter repercussões profundas na saúde em geral. Em crianças, prejudica o desenvolvimento cognitivo e motor. Em mulheres, pode reduzir a produtividade e até interferir na produção de leite no pós-parto. Em idosos, agrava quadros de fragilidade e risco de quedas.
Segundo Scalon, o risco é ainda maior quando a anemia se torna crônica ou severa. “Pode haver queda de pressão, taquicardia, dificuldade de concentração, além de maior suscetibilidade a infecções. Em casos extremos, pode ser necessário transfusão de sangue”.
Prevenção: alimentação é chave

A boa notícia é que a maioria dos casos de anemia pode ser evitada ou revertida com mudanças simples na alimentação. Carnes vermelhas, vísceras (como fígado), vegetais verde-escuros, leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico), nozes, castanhas, ovos e grãos integrais são fontes ricas em ferro.
“Para melhorar a absorção do ferro de origem vegetal, é fundamental associar esses alimentos a fontes de vitamina C, como laranja, limão, abacaxi ou acerola. Por outro lado, o consumo excessivo de leite e derivados nas refeições pode atrapalhar a absorção do ferro”, orienta a diretora clínica da Atma Soma.
Já a suplementação com ferro pode ser necessária em algumas fases da vida, como na adolescência, na gravidez ou após cirurgias. “Mas o uso deve ser sempre orientado por um médico, após exames que indiquem a real necessidade. O excesso de ferro também pode causar problemas”, complementa Scalon.
Conscientizar é cuidar

Durante o Junho Laranja, a campanha de conscientização sobre a anemia tem como objetivo principal dar visibilidade a condição, que pode comprometer seriamente a saúde e o bem-estar. Mais do que alertar sobre os riscos, o mês também convida a população a prestar atenção aos sinais do corpo, buscar diagnóstico precoce e adotar atitudes de prevenção e tratamento eficazes.
“A anemia não é normal, nem algo com o qual se deve conviver. Muitas pessoas se acostumam com o cansaço, a falta de disposição ou a palidez, sem perceber que estão vivendo com um quadro clínico que pode e deve ser tratado. É um sinal de que algo no organismo precisa de atenção e cuidado”, conclui Alessandra Rascovski.