Ciência amplia possibilidades de parentalidade para casais LGBTQIAP+

Junho é o mês do orgulho LGBTQIAP+, e com ele ganha força um debate essencial: o direito de formar uma família. Enquanto a diversidade de arranjos familiares se torna cada vez mais visível na sociedade, a ciência tem desempenhado um papel fundamental na construção de caminhos seguros, éticos e afetivos para que pessoas LGBTQIAP+ possam realizar o sonho da parentalidade.
Segundo a ginecologista e especialista em reprodução humana Dra. Tamires França, membro da AMCR (Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil), há hoje diversas possibilidades para casais homoafetivos. “Casais formados por duas pessoas com útero e ovários podem recorrer à inseminação intrauterina com sêmen de doador ou à fertilização in vitro (FIV), inclusive com o método ROPA, no qual uma das parceiras doa os óvulos e a outra realiza a gestação”, explica.
Já no caso de casais formados por duas pessoas com testículos, é necessário contar com uma doadora de óvulos e uma barriga solidária. “Foi o caminho escolhido por Paulo Gustavo e Thales Bretas. Esse tipo de formação familiar se torna possível graças à ciência e ao avanço da legislação e da ética médica”, completa a médica.
Apesar dos avanços técnicos, os desafios enfrentados por casais LGBTQIAP+ vão além dos aspectos biológicos. “Ainda há barreiras emocionais, preconceito em serviços de saúde e desinformação sobre os direitos desses casais. Para muitos, o caminho é permeado por inseguranças, o que torna essencial contar com equipes preparadas e acolhedoras”, afirma a Dra. Tamires.
Nos últimos anos, a medicina reprodutiva deu saltos importantes: técnicas como a criopreservação de gametas, a maturação in vitro de óvulos e o aperfeiçoamento da fertilização ampliaram significativamente as possibilidades de parentalidade. “Pessoas trans, por exemplo, podem preservar seus gametas antes da hormonização. São avanços que promovem equidade no acesso à saúde reprodutiva”, diz.
Além do cuidado clínico, o suporte psicológico também é fundamental, especialmente para casais que enfrentam o chamado “estresse de minoria”. “A reprodução é um processo emocionalmente intenso, e esse peso pode ser ainda maior quando se enfrenta o preconceito. É nosso dever, como profissionais, reafirmar que toda forma de família é legítima e que o afeto é o que constrói o vínculo parental”, ressalta a ginecologista.
A médica também faz um alerta sobre o risco de práticas alternativas, como inseminações caseiras. “É compreensível que muitas pessoas busquem soluções fora do sistema de saúde, mas isso pode trazer sérios riscos. Sempre orientamos que busquem profissionais especializados, além de suporte jurídico e emocional”, aconselha.
Para a Dra. Tamires, a medicina reprodutiva é uma aliada na transformação social. “Ela permite que famílias diversas existam, sejam reconhecidas e respeitadas. Ao tornar possível a realização do desejo de ter filhos, a medicina ajuda a construir um mundo onde o amor e o cuidado são os verdadeiros pilares da parentalidade”, reflete.
A AMCR reforça que inclusão, ética e ciência caminham juntas quando o tema é reprodução humana. No mês do orgulho, o lembrete é claro: todos têm o direito de sonhar e realizar o desejo de formar uma família — com afeto, respeito e suporte profissional adequado.