Por César Griebeler*

As facilidades e conveniências proporcionadas pela rápida implementação de inovações tecnológicas foram colocadas à prova pela pandemia, que trouxe desafios singulares, especialmente no que diz respeito à saúde e ao bem-estar. Na prática, a emergência acelerou a implementação de tecnologias de ponta tanto na ciência quanto no cotidiano do atendimento ao cliente, como sistemas inteligentes de resposta interativa por meio de voz, chatbots e soluções na nuvem, ou seja, sob demanda. 

De acordo com um estudo realizado pela Harris Poll, 45% dos médicos afirmam que a pandemia acelerou o ritmo de adoção de tecnologias por sua organização. Mais de 3 em cada 5 médicos (62%) responderam que a pandemia forçou sua empresa ou entidade de saúde a fazer atualizações de tecnologia que normalmente levariam anos. Além disso, 48% dos médicos confessaram que gostariam de ter acesso a recursos de telessaúde nos próximos cinco anos, como mostrou uma enquete realizada pela revista HealthTech em 2021. Antes da pandemia, cerca de metade dos médicos (53%) havia dito que a abordagem de sua organização de saúde para a adoção de tecnologia seria melhor descrita como “neutra” (ou seja, estariam dispostos a experimentar novas tecnologias apenas se o produto estivesse no mercado por um tempo ou sob recomendação de terceiros).

Não é por acaso que, desde o início da COVID-19, o investimento em computação em nuvem saltou 49% em relação ao período pré-pandemia, como mostra relatório da ISG Providers Lens, totalizando US$ 450 bilhões. Para este ano, a expectativa é de que o investimento nos serviços em nuvem aumente 20%. O mercado global de nuvem computacional dedicado ao segmento de healthcare deverá movimentar cerca de US$ 71 bilhões até 2027, segundo a Mordor Intelligence, e vem se manifestando por meio da crescente demanda de atenção e cuidados específicos de saúde. 

Torrentes de benefícios, melhorias e avanços

A alta disponibilidade de recursos garantida pelo armazenamento de dados e a enorme capacidade de computação da nuvem habilitam novos horizontes para a saúde e o bem-estar. Para atender as expectativas de pessoas empoderadas pela digitalização, mais conectadas e exigentes, e assim se manterem competitivas, as empresas estão progressivamente aprimorando seus canais de contato, implementando soluções mais avançadas, que dependem diretamente de serviços em nuvem, como é o caso da Inteligência Artificial (I.A.), que se destacou em 61% das empresas pesquisadas em um mapeamento feito pela GoContact.

O uso de dispositivos médicos, acesso a serviços remotos e rastreadores de atividade física e sono, por exemplo, contribuem para a sensação de melhor cuidado de si mesmo. Essa é a opinião de 79% de 7.500 consumidores de 6 países pesquisados pela McKinsey. Além disso, segundo um levantamento feito pela PwC Consultoria, 91% dos entrevistados utilizaram atendimento virtual por vídeo ao longo dos dois últimos anos e fariam isso novamente, demonstrando que essa solução deve seguir se consolidando.

De acordo com uma pesquisa feita pelo Home Health Care News (HHCN), em parceira com o Homecare Homebase, a telemedicina/telessaúde e a análise preditiva foi indicada por 35% dos 386 profissionais de saúde e home care entrevistados como prioridade no investimento em tecnologia em 2022. A conclusão do levantamento é que os cuidados de saúde estão inegavelmente migrando para o lar, com mais de 71% dos participantes afirmando que planejam buscar modelos de atendimento domiciliar pela primeira vez este ano. 

Um estudo piloto recente também revelou que pacientes recém-saídos do hospital, especialmente os idosos, têm melhores experiências com custos mais baixos por meio do atendimento especializado em casa. Publicada pelo Journal of Applied Gerontology,  a pesquisa feita pelo hospital Brigham and Women, em Boston, nos Estados Unidos, sinaliza que desde o custo dos cuidados até a segurança e a experiência podem ser melhorados mudando o local de atendimento para a casa do paciente. 

Por facilitar os processos de integração e correlação das informações, além da entrega de serviços diferenciados de alto valor agregado, as soluções em nuvem terão um papel cada vez mais fundamental no cuidado à saúde e ao bem-estar. No Brasil, 830 empresas de home care geram mais da metade da receita anual (57,5%) por internações domiciliares e 42% por atendimentos domiciliares, totalizando R$ 10,6 bilhões, segundo o censo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e o NEAD, em 2020. 

Neste ambiente, migrar para a cloud deixa de ser uma questão de custo e passa a ser o habilitador de novas soluções de jornada do paciente na nova dinâmica do mercado. A nuvem é o próximo passo natural para que o setor de saúde siga com ainda mais força em seu protagonismo na evolução tecnológica.

*César Griebeler é vice-presidente de Tecnologia da Pulsati