O risco de impotência sexual, vontade de rastrear o câncer de próstata apenas com o exame de sangue e o que de fato é fator de risco para o desenvolvimento de câncer de próstata são as principais questões levadas pelos pacientes ao consultório. O cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) diz o que é mito e verdade em torno destes temas
Três entre dez casos de câncer em homens brasileiros são diagnosticados na próstata. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que o Brasil registrará 65.840 novos casos em 2021. Anualmente, são 13,6 mortes para cada 100 mil homens, quase o dobro da taxa de mortalidade registrada nos Estados Unidos (7,7 casos para cada 100 mil). Por sua vez, não são as altas taxas de incidência e mortalidade que mais afligem os brasileiros. É o medo de ficar impotente sexualmente.
Além do receio de perder a ereção, há dúvidas sobre as reais causas para o desenvolvimento do câncer de próstata, sobre como fazer o diagnóstico e os tipos de tratamento. Muitas dúvidas se tornam mitos. O cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo, esclarece as dúvidas que ele observa como sendo as mais frequentes durante as consultas médicas.
1 – O câncer de próstata é transmissível.
Mito. O câncer de próstata, assim como qualquer outro tipo de câncer, se desenvolve a partir da proliferação desordenada de nossas células, causada por mutações no código genético. Não é, portanto, transmitido de uma pessoa para outra, pois não é infecciosa ou contagiosa.
2 – O câncer de próstata é mais comum em idosos.
Verdade. O câncer de próstata é mais comum com o aumento da idade. Estima-se que seis entre dez casos registrados no mundo ocorrem em homens com 65 anos ou mais. No entanto, homens de todas as idades devem ficar atentos aos fatores de risco pessoais e conversar com seus médicos para a realização de exames que permitam a detecção precoce da doença.
3 – Com qualquer tipo de tratamento, o câncer de próstata acabará com a minha vida sexual.
Mito. Em alguns tratamentos para o câncer de próstata, como a cirurgia, os nervos que rodeiam a próstata e controlam a ereção peniana podem ser lesionados. No entanto, a extensão dessa lesão depende de uma série de fatores, como localização e tamanho do tumor e do tipo de tratamento realizado. Em números, cerca de metade dos homens com bom desempenho sexual antes do tratamento do câncer de próstata ainda terá uma boa função após o tratamento da doença. Outros homens apresentarão impotência moderada a severa, mas a maioria tem apenas uma pequena perda da função sexual, que muitas vezes volta ao normal dentro de alguns meses a um ano após o tratamento. No entanto, a idade pode ser um fator complicador e, à medida que os homens envelhecem, já têm algum comprometimento da função sexual.
4 – O fato de não ter um caso de câncer de próstata na família não impede que eu desenvolva a doença.
Verdade. Apesar do histórico familiar de câncer de próstata dobrar as chances de ter a doença, os chamados casos esporádicos (sem qualquer herança familiar) são a maioria. Estima-se que um em cada seis homens serão diagnosticados com câncer de próstata ao longo da vida. Os homens negros são 60% mais propensos a terem câncer de próstata e possuem 2,4 vezes mais chances de morrer da doença. Entretanto, o histórico familiar e genético desempenha um papel importante no risco de um homem desenvolver câncer de próstata. Um homem cujo pai teve câncer de próstata é duas vezes mais propenso a ter doença. O risco é ainda maior se o câncer foi diagnosticado em um membro da família com menos de 55 anos ou se a doença acometeu três ou mais membros da família.
5 – Não apresentar sintoma significa não ter câncer de próstata.
Mito. O câncer de próstata surge como uma doença silenciosa e indolor. Além disso, muitas vezes os sintomas podem ser confundidos ou atribuídos a outras doenças. Os sinais de câncer de próstata são frequentemente detectados pela primeira vez durante um check-up de rotina. Os sintomas mais comuns incluem necessidade frequente de urinar, dificuldade em iniciar ou interromper a micção, fluxo fraco ou interrompido de urina, dor ou ardor, dificuldade para ter uma ereção, ejaculação dolorosa, sangue na urina ou no sêmen, dor frequente e rigidez na parte inferior das costas, quadris ou coxas. Se tiver qualquer um destes sintomas, procure seu médico para diagnóstico e tratamento, se for necessário.
6 – É possível tratar e não ficar com incontinência urinária.
Verdade. Nem todos os pacientes ficarão com essa sequela. E isso é importante, pois, assim como com a função sexual, os homens também se preocupam com a incontinência urinária como uma consequência do tratamento do câncer de próstata. A maioria do homens tratados de câncer de próstata vão recuperar a continência urinaria e os pacientes mais jovens geralmente evoluem melhor e mais rapidamente. São adotadas técnicas como a reabilitação com fisioterapia do assoalho pélvico com utilização de eletroestimulação.
7 – O exame de PSA diagnostica câncer de próstata.
Mito. Os exames de PSA medem os níveis do antígeno prostático específico na próstata, não o câncer. O PSA é produzido pela próstata em resposta a uma série de alterações que possam estar presentes na próstata, incluindo uma infecção ou inflamação (prostatite), o aumento de tamanho da próstata (hiperplasia benigna da próstata) ou, possivelmente, o câncer. O exame de PSA é o primeiro passo no processo de diagnóstico para o câncer. Ele é útil para a detecção da doença em estágios iniciais, quando é possível ser tratada. Especialistas acreditam que o exame de PSA salva a vida de aproximadamente 1 em cada 39 homens que realizam o exame.
8 – O exame de PSA não dispensa o exame de toque retal.
Verdade. O exame de PSA é mais eficaz quando é feito concomitante ao toque retal e quando se leva em consideração também a avalição dos fatores de risco do paciente.
9 – Ter um PSA alto é certeza de diagnóstico de câncer de próstata.
Mito. Os níveis do PSA podem ser úteis no diagnóstico do câncer de próstata, mas eles são apenas uma peça do quebra-cabeça. Assim como um valor alto não significa necessariamente que um homem tenha a doença, um valor baixo não significa não ter a doença. Para ter um quadro mais completo da saúde da sua próstata, é necessário realizar: o PSA, o exame de toque retal e a biópsia da próstata. O toque retal permite que o médico determine se existe alguma alteração anatômica da próstata, por exemplo, aumento de tamanho, já a biópsia mostra se as células possuem alterações compatíveis com a doença.
10 – O aumento do tamanho da glândula prostática não significa que haja câncer de próstata.
Verdade. O aumento da próstata e o câncer de próstata são coisas diferentes. Os sinais e sintomas do aumento do tamanho da glândula incluem dificuldade de esvaziar completamente a bexiga, necessidade frequente de urinar durante a noite e incontinência urinária. O aumento da próstata acontece com a maioria dos homens à medida que envelhecem e esta condição não aumenta o risco de câncer de próstata.
11 – O exame PSA beneficia principalmente os homens acima de 65 anos.
Mito. Apesar do PSA ser realizado principalmente em pessoas com mais de 65 anos, os homens que realmente se beneficiam do exame são os mais jovens. Se esses homens mais jovens realizarem o PSA e a biópsia, o diagnóstico precoce da doença garante grandes chances de cura.
12 – A atividade física ajuda a prevenir o câncer de próstata.
Verdade. A atividade física atua na prevenção do câncer ao ser um elemento contra o sobrepeso ou diferentes graus de obesidade. Isso porque a obesidade desregula múltiplas vias hormonais, estando associada à altos níveis de insulina, baixos níveis de adiponectina (hormônio proteico que modula vários processos metabólicos, incluindo a regulação da glicemia o catabolismo de ácidos graxos), baixos níveis de testosterona, altos níveis de citocinas inflamatórias (que afetam a resposta imune) e cada um destes fatores podem ser determinantes para a progressão do câncer.
13 – Apenas a atividade física de alto rendimento cumpre esse papel de prevenção.
Mito. Se você fizer exercícios de intensidade leve ou moderada durante 150 minutos por semana já será um importante hábito preventivo. É fundamental também associar a prática de esportes a uma dieta saudável.
14 – O câncer de próstata é uma doença de crescimento lento, mas isso não garante que devo não me preocupar.
Verdade. Existem diferentes tipos de câncer de próstata, alguns de crescimento muito lento e outros mais agressivos. Uma vez confirmado o diagnóstico de câncer na próstata pelo patologista, o médico tem condições de caracterizar o potencial de agressividade do tumor e indicar o melhor tratamento com base em vários fatores, incluindo a idade do paciente e seu estado de saúde geral. Os pacientes precisam entender a complexidade da doença e tomar decisões em relação a seu tratamento em conjunto com seu médico.
15 – Todos os casos de câncer de próstata necessitam de tratamento.
Mito. Nem todos os tipos de câncer de próstata requerem tratamento imediato. O tratamento do câncer de próstata depende da idade, do estadiamento do tumor, da quantidade de células cancerígenas presentes no tecido da biópsia, dos sinais e sintomas apresentados e do estado de saúde geral do paciente. Homens diagnosticados com câncer de próstata devem conversar com seu médico sobre a necessidade de tratamento. Alguns homens podem necessitar de tratamento ativo, que pode incluir: cirurgia ou radioterapia, e outros podem fazer o que se denomina vigilância ativa. A vigilância ativa é quando o médico monitora o paciente e a evolução (ou não) da doença ao longo do tempo, intervindo quando necessário. Antes de iniciar qualquer tratamento, converse com o seu médico sobre os riscos e benefícios para que você possa tomar uma decisão de qualidade sobre o que é melhor para seu caso.
16 – Buscar uma segunda opinião médica é uma opção válida.
Verdade. Você deve se sentir livre para pedir uma segunda opinião sobre seu diagnóstico, tratamento ou ambos. Inclusive, seu médico pode recomendar outro médico para dar uma segunda opinião e em nenhum caso significa que você está duvidando ou desconfiando do seu médico. Lembre-se que é um direito seu saber o que é o melhor para você.
17 – A vasectomia causa câncer de próstata.
Mito. Estudos recentes mostram que a vasectomia não é um fator de risco para o câncer de próstata.
18 – O câncer de próstata tem cura.
Verdade. Quanto mais precoce for o diagnóstico, maior é a chance de cura. Diagnosticar a doença em fase inicial possibilita que o tratamento tenha êxito em 9 entre 10 casos. Isso aliado a uma terapia individualizada com ênfase em redução de sequelas e complicações com o máximo de resultados.