Especialista no assunto acredita que a doença ainda tem que ser muito falada para acabar com o preconceito
Após a entrada de uma participante com vitiligo no Big Brother Brasil, o assunto veio à tona novamente, trazendo um debate sobre aceitação e preconceito. A doença autoimune que provoca manchas brancas na pele atinge um milhão de pessoas no Brasil, mas a causa ainda é incerta.
“Existem inúmeras teorias para explicar o surgimento do vitiligo. A que tem mais evidências científicas é que seja uma doença autoimune em que os melanócitos, células que produzem o pigmento que dão cor à pele, são agredidos e destruídos por células e anticorpos produzidos pelo próprio organismo. Fatores genéticos e ambientais também participam da ocorrência da doença”, explica a dermatologista Daniela Antelo, doutora em Fototerapia e Vitiligo pela UFRJ e diretora médica do Centro de Tratamento do Vitiligo.
Apesar de a doença ser de conhecimento da maioria das pessoas, ainda existem muitas dúvidas que cercam o tema. A seguir, a dermatologista Daniela Antelo esclarece as principais inverdades ditas sobre o assunto. Confira:
Vitiligo é contagioso
Vitiligo não é contagioso e isso deve ser amplamente divulgado para a redução do preconceito relacionado à doença. Não há motivos para ter receios no contato físico de pessoas que sofrem com essa condição.
Vitiligo é psicológico
Não é simplesmente psicológico, mas fatores psicológicos podem desencadear o início da doença e contribuir para o surgimento de novas lesões. O início do quadro geralmente é atribuído a eventos específicos ou momentos de “crise” na vida dos pacientes, como perda de emprego, separação dos pais, morte na família, doença grave. O acompanhamento psicológico contribui no tratamento, fortalece a autoestima e confiança.
Vitiligo tem cura
É uma doença crônica e, assim como todas elas, tais como alergia, asma, psoríase, hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, não tem cura, mas sim tratamento. Em alguns casos, as manchas podem realmente sumir e não retornarem pelo resto da vista.
Se eu tenho vitiligo, meu filho vai ter também
Mito. Não necessariamente isso vai acontecer. Vitiligo tem caráter genético e podem existir casos na família, mas isto não quer dizer que seu filho ou filha está pré-determinado ao vitiligo. Certamente, ao surgir uma mancha clara em um parente de primeiro grau, convém que ele procure um dermatologista para examinar a lesão o quanto antes.
Se eu tenho vitiligo quer dizer que existem mais chances de desenvolver câncer de pele
Alguns dados estatísticos mostram até o inverso. Embora seja razoável supor que haja maior sensibilidade da pele à luz solar, não necessariamente há maior risco de câncer de pele. De qualquer modo, convém evitar exposição direta e prolongada ao sol e queimadura com vermelhidão e ardência.
Se tenho vitiligo, nunca terei melasma
A coexistência de vitiligo – manchas claras – e melasma – manchas escuras causadas pelo sol – no rosto do mesmo paciente é intrigante, mas não descartada. Na pele com vitiligo há ausência de malanócitos e a poucos milímetros ou centímetros de distância há melanócitos cheios de melanina. Normalmente pacientes com melasma costumam ter boa resposta ao tratamento do vitiligo.
Daniela Antelo: Dermatologista do Centro de Tratamento do Vitiligo. Formada em Medicina, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e com Residência Médica em Dermatologia, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Dedica-se ao estudo desta doença desde 2003, quando iniciou sua dissertação sobre o tema. Concluiu Mestrado e Doutorado sobre Fototerapia e Vitiligo, na UFRJ. Tem diversos trabalhos apresentados sobre vitiligo em Congressos Dermatológicos e publicados na literatura médica. Professora Adjunta de Dermatologia da UERJ e atualmente membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da American Academy of Dermatology (AAD). Associada a Global Vitiligo Foundation.