No dia da visibilidade trans, SBM reforça a importância dos cuidados com o câncer de mama na população transgênero

Cada vez mais a transexualidade vem sendo discutida em nossa sociedade. Um público que passou décadas no anonimato, hoje, pouco a pouco, é percebido e reconhecido. A atriz transexual Marcella Maia, por exemplo, está no ar na novela “Quanto mais vida melhor”, da Rede Globo, com uma personagem cuja sexualidade não está em foco e que, inicialmente, foi cogitada para Fernanda Montenegro e Patrícia Pillar. Um motivo para se comemorar neste mês que é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), mas que também abre passagem para o debate sobre os direitos desse público e também para a importância da sua saúde. Em relação ao câncer de mama, a preocupação com a população trans é legítima e merece atenção das autoridades. O alerta é da Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) — Regional Rio de Janeiro, Dra. Maria Julia Calas, citando um estudo da Medical Center, em Amsterdam, que afirma que o risco de câncer de mama em pessoas trans é maior do que nos homens, cujo índice de casos gira em torno de 1%.

De acordo com a mastologista, a identificação de gênero é uma questão de grande impacto na saúde. “Essa população é carente de estudos satisfatórios e de significância estatística no que se refere tanto à incidência de câncer de mama quanto às possíveis formas de rastreio. Além disso, as informações de base populacional sobre até que ponto os transgêneros são submetidos a exames de mamografia são limitadas, o que acaba contribuindo para o aumento do risco”, explica.

Segundo a especialista, há também uma falta de assistência na área da saúde, que reflete anos de preconceito, violência e repressão que levaram à falta de acesso e de interesse, por parte da maioria da classe médica, por essas pessoas. “As diretrizes da Professional Association for Transgender Health sugerem que o estrogênio pode contribuir para um aumento no risco de desenvolver câncer de mama, assim como o uso da testosterona”, diz a médica, lembrando que há indicações de que o número de casos da doença seja alto devido aos processos de hormonização.

Ela explica que as mulheres trangêneros realizam a hormonioterapia com estrogênio e medicamentos anti-androgênicos para inibir a ação da testosterona. Já em homens trans, mesmo com a retirada das mamas, houve um desenvolvimento mamário prévio, sendo comum a presença de resíduo tecidual, com estímulo hormonal estrogênico normal. “Por isso, o rastreamento de câncer de mama deve ser feito em homens transgêneros com algum tecido mamário, seja ele natal ou residual após a mastectomia”, esclarece a especialista, lembrando que, embora essa discussão venha se ampliando, junto aumenta-se a transfobia. “Entre outubro de 2020 e setembro de 2021, 125 travestis e homens e mulheres trans foram assassinados no Brasil, de acordo com o projeto Transrespect versus Transphobia Worldwide (TvT), da ONG Transgender Europe (TGEU). É sob essa realidade que eles vivem, o que certamente impacta na sua busca pela saúde preventiva”, conclui.