Em 31 de maio, é celebrado o Dia Mundial sem Tabaco, uma forma de chamar a atenção para um hábito muito agressivo à saúde. O tabagismo é uma das principais causas de morte evitáveis no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco é responsável por mais de 8 milhões de mortes por ano. Destas, mais de 7 milhões são resultantes do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,2 milhão são devido à exposição ao fumo passivo.

Fora isso, grande parte dos problemas ocasionados pelo tabaco está atrelada às doenças cardiovasculares, como ataque cardíaco, problemas de má circulação ocasionando acidente vascular cerebral (AVC), câncer de pele, entre outros.

“Por elevar a pressão arterial e a frequência cardíaca, o cigarro está entre os principais fatores que causam as doenças cardiovasculares, já que suas substâncias tóxicas agridem o endotélio – parede de células que recobre os vasos sanguíneos. Ao danificar essa estrutura, aumenta o risco de causar infarto ou AVC”, explica o cardiologista intervencionista do Instituto do Coração de Taguatinga – ICTCor, Ernesto Osterne.

Outro dano acontece no mecanismo de contração e relaxamento do coração. Os efeitos do fumo geram maior dificuldade no bombear, comprometendo a circulação do sangue pelo corpo. Um único cigarro é capaz de contrair todos os vasos sanguíneos. O fumo também acelera um processo conhecido como oxidação do colesterol, favorecendo a formação da placa de aterosclerose, que é o estopim para o infarto.

Riscos à circulação sanguínea

Segundo o médico angiologista e cirurgião vascular Rodolpho Reis, o tabagismo causa uma série de problemas na circulação do corpo, sendo um fator de risco significativo para o desenvolvimento de trombose, placas nas artérias e até piorar as varizes. As substâncias químicas presentes no cigarro, como o monóxido de carbono e os radicais livres, causam danos ao endotélio, o revestimento interno dos vasos sanguíneos. Esse dano promove a formação de placas e a aderência de plaquetas, facilitando a formação de coágulos. Além disso, o tabagismo aumenta a reatividade das plaquetas, tornando-as mais propensas a se agregarem, o que eleva o risco de trombose.

O fumo também altera o equilíbrio dos fatores de coagulação no sangue, aumentando a concentração de fibrinogênio e outros fatores, tornando o sangue mais “pegajoso”. O monóxido de carbono presente no cigarro reduz a capacidade do sangue de transportar oxigênio, levando a uma baixa oxigenação que pode danificar os tecidos e aumentar o risco de formação de coágulos. Essa substância provoca uma resposta inflamatória no corpo, e a inflamação crônica pode danificar os vasos sanguíneos, contribuindo para a formação de trombos.

“É interessante entender que, além dos efeitos sobre a trombose, o tabagismo também contribui para o desenvolvimento de varizes e outras doenças venosas devido aos seus efeitos negativos na circulação sanguínea. O fumo causa disfunção endotelial, prejudicando a produção de óxido nítrico, que ajuda a relaxar os vasos sanguíneos e prevenir a agregação plaquetária. Com essa disfunção, os vasos ficam mais propensos à formação de coágulos e ao desenvolvimento de varizes, pois a circulação inadequada do sangue nas veias das pernas pode levar ao acúmulo de sangue e à dilatação dessas veias”, explica o angiologista.

Efeitos do tabagismo na pele

Para a dermatologista Paula Luz Stocco, entre os diversos agravantes, o fumo contribui ainda para que a pele envelheça em pouco tempo, causando diversas outras alterações e problemas, principalmente no rosto, que apresenta uma camada mais fina que as demais áreas. O cigarro pode causar rugas, manchas, opacidade e até mesmo alteração de cor. Além disso, deixa o rosto do fumante mais propício a apresentar flacidez, porque a nicotina destrói e atrapalha diretamente a produção de colágeno e elastina.

“As feições podem apresentar marcas de expressões como se fossem vincos, linhas nos cantos dos olhos e ao redor dos lábios, ossos ressaltados, lábios arroxeados e bochechas aprofundadas, entre outros efeitos causados pela repetição do movimento de tragar que, com o tempo, reduz a elasticidade e a força da região”, alerta a dermatologista.

Fora isso, o hábito também é um dos principais causadores de queda de cabelo, já que os fios caem porque a nicotina se aloja nas paredes das veias, diminuindo a circulação do sangue e impedindo que nutrientes importantes que mantêm os cabelos saudáveis e bonitos cheguem até a raiz. O problema pode ser intenso, com queda acentuada de fios e até sinais de calvície.

Fumante passivo

Quem convive com um fumante também corre o risco de ter doenças atreladas ao tabaco, pois, segundo diversos estudos, conviver com quem fuma pode aumentar em até duas vezes o risco de câncer.

Para quem deseja parar de fumar, existem vários tratamentos eficazes para ajudar. A Terapia de Reposição de Nicotina (TRN) usa adesivos, gomas, pastilhas, inaladores e sprays nasais para reduzir os sintomas de abstinência. Medicamentos como bupropiona e vareniclina ajudam a diminuir os desejos e os efeitos da abstinência.

A terapia comportamental com conselheiros ou terapeutas identifica e lida com os gatilhos para fumar. Programas de suporte, grupos de apoio, linhas telefônicas e aplicativos oferecem encorajamento e estratégias práticas.

Terapias alternativas, como terapia bioenergética, acupuntura e hipnose, também podem ser úteis. Adotar hábitos saudáveis, como dieta equilibrada e exercício regular, ajuda a controlar os desejos e melhora o bem-estar. Combinar essas abordagens aumenta as chances de sucesso, e consultar um profissional de saúde é fundamental para escolher a melhor estratégia.

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