Diabéticos precisam redobrar os cuidados com a Covid-19

O Brasil tem passado por uma nova onda de Covid 19 que tem culminado no aumento de número de casos nos hospitais. O fato, por si só já é um grande transtorno, pois corrermos o risco de novas variantes surgirem, dificultando a ação das vacinas. Porém, o vírus tem sido um vilão ainda mais severo para os diabéticos. A endocrinologista especialista em Diabetes e ex-coordenadora do projeto de obesidade e cirurgia Bariátrica do Hospital Sírio Libanês, Denise Iezzi, chama atenção para a elevação do número de pacientes que desenvolveram ou tiveram o agravamento do diabetes em decorrência da inflamação e perda de células beta do pâncreas, responsáveis por produzir insulina, bem como resistência a sua ação , ocasionada pelo Coronavírus (e que tem forte resistência à insulina). Como resultado final, surgem novos casos e a cetoacidose (descompensação aguda grave do diabetes).

Segundo a especialista, o número de pacientes neste perfil tem aumentado significativamente desde o início da pandemia, em 2020. “O perfil mais frequente tem sido o dos pacientes que têm o Diabetes tipo 2, leve ou moderado, e que usavam apenas uma ou duas medicações para controle, mas após contrair a Covid-19, esses pacientes passaram a ter extrema dificuldade em controlar a doença e com grande labilidade”, revela. Esta labilidade, segundo a Denise Iezzi, se manifesta por uma glicemia que se eleva e resiste ao efeito da insulina no fígado, aumentando abruptamente após as refeições, principalmente se forem ricas em carboidrato.

Já os diabéticos de tipo 1 também podem apresentar primo-descompensação com cetoacidose. “Esse tipo de caso clínico tem sido bem frequente também. O paciente pode apresentar pancreatite ou uma piora importante do controle glicêmico, pelos mesmos mecanismos, principalmente se o histórico de controle for ruim. Ou seja, passam a manifestar resistência à insulina do DM2”, alerta.

Outro risco, que também tem sido comum em decorrência da inflamação do pâncreas, é a labilidade glicêmica extrema ou o efeito “Brittle”. “Ocorre geralmente durante o sono, quando há o aumento dos hormônios chamados de estresse ou contrarreguladores, como o Cortisol, Hormônio de Crescimento, Glucagon, a Noradrenalina e a Adrenalina, causando o que chamamos de Fenômeno do Alvorecer. Ao mesmo tempo, existe a destruição da reserva de produção de insulina pela infecção do pâncreas nas células beta que a produzem, fazendo com que esse pico seja mais alto”, finaliza a especialista.

Esse tema, inclusive, foi fruto de um estudo recente publicado na revista britânica Nature, o que torna o assunto ainda mais relevante. Com a possibilidade de novas variantes surgirem e sem a previsibilidade de quão fortes seriam, o Brasil, que conta com quase 17 milhões de diabéticos, passa a ver sua população diabética em grande risco. Passamos, também, como já se discute nos EUA, a ter um grande problema de saúde pública para o controle do diabetes no pós Covid, que mesmo leve predispõe a todas essas alterações conforme estudos retrospectivos preliminares.