Gastrite, bruxismo e até herpes zoster tiveram aumento de casos durante a pandemia

Retomada de hábitos saudáveis e cuidados com a saúde mental são vistas como medidas de contenção

A pandemia do coronavírus trouxe consequências que vão além da infecção por Covid-19 e as sequelas deixadas pelo vírus, atingindo tanto a saúde mental quanto a física.

Para boa parte das pessoas, as mudanças de hábitos durante esse período levaram à ansiedade e ao medo, aumentando consideravelmente a exposição a situações estressoras.

“A saúde mental das pessoas com certeza foi muito afetada e, nesse sentido, além de quadros ansiosos e depressivos, os impactos na parte física também se fazem presentes”, comenta Silvia Cury, psicóloga e gerente de saúde mental do Hcor.

Não à toa, os “diagnósticos da pandemia” vieram à tona, pois muitos quadros clínicos têm como fator de risco para o desenvolvimento o estresse. “De uma simples prisão de ventre à ocorrência de infartos e AVCs, várias doenças sabidamente têm relação com o estresse”, ressalta.

Listamos abaixo alguns os casos que tiveram registro de aumento durante a pandemia já notificados.

Má qualidade do sono e bruxismo

Logo no início da pandemia, uma pesquisa da UFRGS em parceria com a Fiocruz destacou que mais da metade dos brasileiros perceberam alterações significativas na qualidade do sono, como insônia ou mesmo sonhos estranhos e perturbadores. Outro estudo realizado entre profissionais de saúde conduzido pela Associação Brasileira de Medicina do Sono mostrou aumento significativo de novos casos de insônia e uso de hipnóticos.

“Nosso sono é muito dependente de rotinas bem definidas, algo que a pandemia virou do avesso. Quando isso se perde, pode haver insônia ou outros distúrbios”, explica Pedro Genta, pneumologista do Serviço de Medicina do Sono do Hcor e Presidente da Associação Brasileira de Medicina do Sono.

Além da insônia, uma publicação do periódico científico Journal of Clinical Medicine concluiu que pioras no bem-estar mental desencadeadas pela pandemia foram associadas a um agravamento dos sintomas do bruxismo e da disfunção temporomandibular (DTM).

Gastrite e síndrome do intestino irritável

Já nos consultórios de gastroenterologistas, a pandemia desencadeou o aumento de casos de gastrite e síndrome do intestino irritável (SII) neste último ano.

Um levantamento epidemiológico do Hcor, realizado no primeiro semestre deste ano, apontou um crescimento de 15% nas internações de pacientes com um desses dois diagnósticos. A análise utiliza dados de 2019 em comparação ao ano de 2020.

Segundo o cirurgião do aparelho digestivo da instituição, André Siqueira, as questões emocionais podem ser vistas como o principal fator para essa crescente de casos. Além disso, o especialista não descarta que a mudança na alimentação da população também tenha contribuído para esse movimento. “Os hábitos alimentares das pessoas durante o isolamento foram impactos significativamente, sem falar nos relatos de pessoas que passaram a consumir bebidas alcoólicas mais frequentemente – ou até diariamente”, destaca.

A gastrite se caracteriza pela inflamação da camada interna do estômago, podendo ocorrer edema e até erosões. O quadro pode apresentar sinais como indigestão, queimação, vômitos ou dores abdominais. Já a síndrome do intestino irritável é caracterizada por episódios de desconforto abdominal, dor, diarreia e prisão de ventre, presentes pelo menos durante 12 semanas, consecutivas ou não.

Herpes zoster

Um estudo da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) apontou que o número de casos de herpes zoster, doença que causa lesões na pele e dor, teve alta na média de casos de 35,4%.

Nos consultórios, de acordo com Rosiane Boabaid, dermatologista do Hcor, os especialistas também notaram o aumento de queixas nesse sentido. “Sabemos que o fator emocional interfere na imunidade, e esse é um dos caminhos para tentarmos explicar a reativação desse vírus. Esse crescimento pode ter relação com estresse, ansiedade, medo, isolamento social”, pontua.

Conhecida popularmente como cobreiro, a herpes zoster é caracterizada por dor, lesões de base vermelha e vesículas, que são espécies de bolhas d’água. Além de incômoda, a doença pode causar graves sequelas, afetando terminações nervosas nos olhos, no ouvido, na face, e causando paralisia, perda auditiva e visual.

Retomada dos cuidados com a saúde física e mental

Com o avanço da vacinação e a retomada das atividades, os especialistas reforçam a importância do retorno aos consultórios médicos, para a realização de exames de rotina, além da necessidade de a população voltar a adotar um estilo de vida mais saudável.

Alimentação balanceada e prática de exercícios são fundamentais para os cuidados com a saúde física. Por outro lado, para combater o estresse, a recomendação é reservar alguns momentos do dia para relaxar e investir em boas noites de sono.

Aqueles que sintam impactos em sua saúde mental e tenham oportunidade também devem procurar apoio psicológico e em terapias alternativas.