Um novo tratamento acaba de mudar o panorama do câncer gástrico avançado HER2-positivo. Os resultados do estudo internacional de fase 3 DESTINY-Gastric04, apresentados neste fim de semana no congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2025), confirmaram que o uso do medicamento trastuzumabe deruxtecana como segunda linha de tratamento traz benefícios significativos em relação ao padrão anterior.
A pesquisa demonstrou que pacientes tratados com o medicamento viveram, em média, 3,3 meses a mais do que aqueles que receberam a combinação de paclitaxel e ramucirumabe, opção tradicional até então. Além disso, houve melhora em outros desfechos importantes, como controle da doença e resposta ao tratamento.
“Esses resultados consolidam o trastuzumabe deruxtecana como o novo padrão ouro de tratamento em segunda linha para pacientes com câncer gástrico metastático HER2-positivo”, afirma o oncologista Fábio Franke, líder nacional de pesquisa clínica da Oncoclínicas. “É um avanço expressivo para uma doença que, infelizmente, ainda tem prognóstico bastante reservado em estágio avançado”.
Franke, que participou do comitê científico do estudo e é coautor da publicação, destaca ainda a importância da presença brasileira em pesquisas que definem o futuro da oncologia no mundo. “Participar da condução e publicação desse estudo mostra a força da pesquisa clínica nacional e o impacto direto que isso pode ter na vida de pacientes aqui no Brasil”, diz.
O que é o câncer gástrico HER2-positivo?
O câncer gástrico avançado (ou de junção gastroesofágica) é uma doença agressiva, com taxa de sobrevida em cinco anos de cerca de 7%, segundo a American Cancer Society. Cerca de 15% dos tumores apresentam a proteína HER2, que favorece o crescimento das células cancerígenas e pode ser alvo de terapias específicas.
Trastuzumabe deruxtecana é um anticorpo conjugado: uma espécie de “cavalo de Troia” da medicina. Ele se liga à proteína HER2 na superfície das células tumorais e libera diretamente um quimioterápico potente no interior dessas células, aumentando a eficácia e reduzindo os danos aos tecidos saudáveis.
Entenda o estudo DESTINY-Gastric04
O estudo envolveu 494 pacientes com câncer gástrico ou de junção gastroesofágica HER2-positivo, que haviam apresentado progressão da doença após o tratamento inicial com terapia baseada em trastuzumabe. Eles foram divididos em dois grupos: um recebeu trastuzumabe deruxtecana, e o outro, a combinação padrão de ramucirumabe com paclitaxel.
Os resultados mostraram:
– Sobrevida global: 14,7 meses no grupo trastuzumabe deruxtecana, contra 11,4 meses no grupo padrão.
– Redução do risco de morte: 30% menor com trastuzumabe deruxtecana.
– Controle da doença: 91,9% dos pacientes tiveram estabilização ou redução do tumor com trastuzumabe deruxtecana, contra 75,9% no grupo controle.
– Taxa de resposta objetiva (encolhimento do tumor): 44,3% no grupo trastuzumabe deruxtecana, contra 29,1% com o tratamento padrão.
Embora os efeitos colaterais tenham sido frequentes, como fadiga, náuseas e queda da imunidade, os especialistas consideram o perfil de segurança aceitável, especialmente frente aos benefícios em sobrevida.
O que vem pela frente?
Com base nesses resultados, o uso de trastuzumabe deruxtecana deve ser incorporado em diretrizes internacionais como segunda linha preferencial para pacientes com câncer gástrico HER2-positivo metastático. Além disso, novos estudos estão em andamento para avaliar o medicamento como tratamento de primeira linha, o que pode trazer ainda mais esperança para esses pacientes.
“A oncologia vem avançando de forma acelerada graças à pesquisa clínica. Esse estudo é mais uma prova de como a ciência pode mudar a vida real dos pacientes”, conclui Fábio Franke.