Médico especialista em medicina do sono fala sobre os riscos que os pequenos correm com a ingestão demasiada
Um estudo americano, publicado no último mês na revista médica JAMA Network, apontou a quantidade de melatonina presente em gomas do produto. Pesquisadores demonstraram que antes da pandemia da COVID-19, a melatonina era usada por cerca de 1,3% das crianças americanas.
Apesar da falta de evidências de eficácia do uso da melatonina para induzir o sono e repouso em crianças saudáveis, o consumo aumentou durante a pandemia.
Os pedidos de análise de ingestão de melatonina pediátrica para Centros de Controle de Sangue e Intoxicação, dos EUA, aumentaram em 530% de 2012 a 2021.
Os produtos de melatonina não são aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), dos EUA. Eles são vendidos sem receita médica como suplementos dietéticos ou alimentos, assim como acontece aqui no Brasil.
Esse estudo avaliou a quantidade real de melatonina comparando-a com as quantidades declaradas nos rótulos de 30 marcas de goma, em 2021, compradas on-line.
25 produtos foram analisados e a quantidade variou de 1,3 mg a 13,1 mg por porção.
Naqueles que tinham a melatonina, a quantidade variou de 74% a 347% da quantidade rotulada. 22 dos 25 produtos (88%) foram rotulados incorretamente, e apenas três produtos (12%) continham uma quantidade de melatonina que estava dentro de ±10% da quantidade declarada.
A maioria das gomas de melatonina foi rotulada incorretamente, com produtos excedendo a quantidade declarada de melatonina.
Um estudo canadense publicado na mesma revista teve resultados semelhantes: a análise de 16 marcas canadenses de melatonina descobriu que a dose real em cada produto variou de 17% a 478% da quantidade declarada.
Para o Dr. Gleison Marinho Guimarães, especialista em medicina do sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), a administração de apenas 0,1 mg a 0,3 mg de melatonina a adultos jovens pode aumentar as concentrações plasmáticas para a faixa noturna normal.
“Já para as crianças, consumir gomas de melatonina encontradas facilmente nas gôndolas de farmácias pode expor os pequenos à quantidades entre 40 e 130 vezes maiores do que as sugeridas. Por isso, é preciso informar aos pais que o uso pediátrico de gomas de melatonina pode resultar na ingestão de quantidades imprevisíveis. O produto pode trazer malefícios, como sonolência durante o dia, déficit de atenção e concentração, além de ajudar na desregulação do relógio biológico, se ingerido em horários desordenados”, explica o Dr. Gleison.
O médico reitera que durante o período do estudo, crianças de até cinco anos de idade foram as que tiveram consequências mais sérias de intoxicação.
“Dessas, cinco precisaram ser colocadas em ventilação e duas vieram a óbito. Por isso, afirmo que a melatonina deve ser tratada como um medicamento, mantendo-a fora do alcance de crianças”, finaliza.
Gleison Marinho Guimarães: Médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS). Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Certificado de área de atuação em Medicina do Sono pela SBPT/AMB/CFM. Mestre em Clínica Médica/Pneumologia pela UFRJ. Membro da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society (ERS). Diretor do Instituto do Sono de Macaé (SONNO) e Dr. Gleison Guimarães: Clínica de Medicina Respiratória e Vacinas. Coordenador do Departamento de Medicina do sono da SBPT (2015-2016). Atuou como coordenador de Políticas Públicas sobre Drogas no município de Macaé (2013) e pela Fundação Educacional de Macaé (Funemac), gestora da Cidade Universitária (FeMASS, UFF, UFRJ e UERJ) até 2016. Pneumologista do ambulatório do Centro de Especialidades Dona Alba Corral (Macaé-RJ). Professor assistente de Pneumologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé.