Pesquisa nacional, publicada no britânico The Lancet, concluiu que cerca de metade dos casos de demência no país poderiam ser evitados, por meio de cuidados no dia a dia Iniciativas de saúde pública para prevenção da doença poderiam reduzir mais de 300 mil novos casos de demência até 2050 no Brasil

Setembro é o mês de conscientização do Alzheimer, que é parte de uma campanha internacional da Alzheimer’s Disease International – ADI (em português, Doença de Alzheimer Internacional), e tem o intuito de aumentar a conscientização e diminuir o estigma acerca da patologia. No Brasil, a data foi instituída pelo Ministério da Saúde em 2008 e, desde então, associações médicas e a sociedade em geral mobilizam-se para ampliar o conhecimento acerca das demências relacionadas ao envelhecimento da população. A novidade é que metade dos casos de doenças do tipo poderiam ser evitados com políticas públicas e atenção a fatores de risco evitáveis.

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva, que se manifesta pela perda cognitiva, principalmente da memória. Como 99% dos tratamentos para o Alzheimer falham na regressão da doença1, o foco deve ser a prevenção. Um novo estudo publicado no The Lancet demonstrou que mais de 50% dos casos de demência no país poderiam ser evitados por meio de medidas preventivas de alguns dos fatores de risco evitáveis ligados à patologia.

“A boa notícia é que agora temos alvos bem definidos para evitar o desenvolvimento da doença na população. Com atividades físicas, cuidados com a alimentação e com a saúde mental, podemos evitar até metade de todos casos de demência que venham a se desenvolver”, explica Dr. Wyllians Borelli, um dos autores do estudo, pesquisador do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (RS) e diretor científico da hygia saúde – startup dedicada aos cuidados de saúde preventiva.

De acordo com o doutor, para o estudo, foram considerados ao todo dez fatores de risco evitáveis para demência, entre eles nível de escolaridade, perda auditiva, sedentarismo, hipertensão, diabetes, tabagismo, obesidade, consumo de álcool, depressão e isolamento social. “Detectamos que a perda auditiva (14,2%), o sedentarismo (11,2%) e a hipertensão (10,4%) compõem os fatores com maior potencial de prevenção dos casos de demência”, explica.

Estima-se que, nos próximos anos, o mundo todo terá um grande número de casos de demência, porém, nos países de alta renda, essas taxas se mostram decrescentes, provavelmente por conta de um controle mais rigoroso na saúde da população2. Por outro lado, somente os países de baixa e média renda representam cerca de dois terços da população mundial que sofre de demência2-3. Apesar de o Brasil ser considerado um país de renda média alta, com um sistema unificado de saúde, uma parcela significativa da população adulta ainda está exposta a vários fatores de risco de demência4.

“Com base nisso e nos resultados do nosso estudo, concluímos que iniciativas de saúde pública com foco na prevenção dos principais fatores de risco, como ações de conscientização ou estímulos para medição da pressão arterial, poderiam reduzir mais de 300 mil novos casos de demência até 2050 no Brasil”, finaliza o doutor.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há 55 milhões de pessoas com demência, incluindo o Alzheimer, em todo o mundo. Só no Brasil, são 1,2 milhão de casos, a maioria sem diagnóstico confirmado.

Referências

  1. Alzheimer’s Research Terapy, 2014: https://alzres.biomedcentral.com/articles/10.1186/alzrt269
  2. World Alzheimer Report 2018 – O estado da arte da pesquisa em demência – novas fronteiras: https://apo.org.au/sites/default/files/resource-files/2018-09/apo-nid260056.pdf
  3. Mukadam N. Sommerlad A. Huntley J. Livingston G. | Frações atribuíveis à população para fatores de risco de demência em países de baixa e média renda: uma análise usando dados de pesquisa transversal. Lancet Glob Health. 2019; 7: e596-e603
  4. Nitrini R., Barbosa M.T., Brucki S.M.D., Yassuda M.S., Caramelli P. J Globo Saúde, 2022. Tendências e desafios atuais no manejo e pesquisa da demência na América Latina: https://doi.org/10.7189/jogh.10.010362