Exposição ao fumo passivo está ligada a aumento do risco de câncer de pulmão em não fumantes e evidencia a importância de políticas de saúde pública para reduzir esse impacto

O tabagismo passivo é uma preocupação global de saúde pública, com impactos significativos em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1,3 milhão de mortes anuais são atribuíveis à inalação involuntária de fumaça do tabaco por pessoas que não fumam. No Brasil, apesar dos avanços nas políticas de controle do tabaco, a estimativa é de que 7,9% da população adulta seja exposta ao fumo passivo em casa, e 8,4% em locais de trabalho, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/2019). Entre os gêneros, a proporção é maior entre as mulheres em casa (8,1%) e os homens no trabalho (10,4%).

Um estudo publicado em fevereiro no Jornal de Oncologia Torácica, realizado pelo Centro Nacional de Câncer do Japão, revelou uma ligação entre a exposição ao fumo passivo e o aumento do risco de câncer de pulmão em não fumantes. A pesquisa analisou amostras de DNA de 291 mulheres não fumantes, das quais 213 foram expostas ao fumo passivo, e 122 mulheres fumantes. Segundo Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas, há evidências crescentes que sugerem um aumento nos casos de câncer de pulmão em mulheres que nunca fumaram. “Esse fenômeno é frequentemente associado à exposição ao tabagismo passivo, poluição do ar, radônio (gás que não tem cor nem sabor) e outras substâncias químicas presentes no ambiente. Estudos também indicam que certas características genéticas podem aumentar a suscetibilidade ao câncer de pulmão em não fumantes, tornando esse grupo uma preocupação importante para a saúde pública”, afirma o médico.

Os resultados do estudo, intitulado Mutagênese Induzida Pelo Tabagismo Passivo como Promotora da Carcinogênese Pulmonar, mostraram que pessoas que não fumam, mas são expostas à fumaça do cigarro, têm mutações genéticas diferentes daquelas encontradas em fumantes. Essas mutações estão relacionadas a uma proteína chamada APOBEC3B, que pode promover a sobrevivência das células cancerígenas e reduzir a eficácia dos medicamentos contra o câncer. “Isso sugere que o fumo passivo poderia aumentar o risco de câncer de pulmão de maneira semelhante ao tabagismo ativo”, explica Carlos Gil.

A exposição ao fumo passivo está associada a uma série de doenças, incluindo câncer de pulmão, doenças cardiovasculares e respiratórias, impactando negativamente a qualidade de vida e aumentando os custos com saúde. “A compreensão dos efeitos do tabagismo passivo pode favorecer a implementação de políticas de saúde pública mais eficazes, aumentar a conscientização sobre os perigos do fumo passivo, incentivar mais fumantes a parar, evitar que jovens comecem a fumar e contribuir para a redução das doenças e mortes causadas pelo tabagismo passivo”, diz o especialista

Relatório da OMS destaca avanços e desafios no combate ao tabagismo global

nono relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2023, sobre a epidemia global de tabaco destaca o progresso feito pelos países desde 2008, quando foi introduzido o pacote técnico MPOWER. Esse pacote foi projetado para ajudar os países a implementar medidas de redução do tabagismo de acordo com a Convenção-Quadro da OMS sobre o Controle do Tabaco (CQCT). Os dados são de que 5,6 bilhões de pessoas, 71% da população mundial, estão atualmente protegidas por pelo menos uma política de boas práticas em controle de tabaco, cinco vezes mais do que em 2007.

Embora muitos países tenham avançado na luta contra o tabagismo, é necessário acelerar os esforços para proteger mais pessoas dos danos do tabagismo e do fumo passivo. O relatório destaca que todos os países, independentemente dos níveis de renda, podem reduzir a demanda por tabaco, obter grandes vitórias para a saúde pública e economizar bilhões de dólares em custos de produtividade e saúde.

As seis estratégias fundamentais da CQCT da OMS são enfatizadas, incluindo monitorar o uso do tabaco e as políticas de prevenção, proteger as pessoas da fumaça do tabaco, oferecer ajuda para parar de fumar, alertar sobre os perigos do tabaco, aplicar proibições de publicidade, promoção e patrocínio de tabaco, e aumentar os impostos sobre o tabaco.

Segundo Carlos Gil, a implementação de espaços públicos livres de fumo é uma das medidas eficazes de controle do tabaco para ajudar os países a conter a epidemia de tabagismo. “Esses espaços não apenas protegem as pessoas do fumo passivo, mas também desencorajam o hábito de fumar, ajudam os fumantes a parar e evitam que os jovens comecem a fumar”, diz.