Estudos apontam que álcool na amamentação pode interferir no sono do bebê

Médica com especialização em pediatria e em sono infantil, Ana Jannuzzi, explica a associação

Uma atualização em um compilado de estudos sobre álcool e amamentação, publicado em janeiro deste ano pela PubliMed, aponta que o consumo de álcool por mães lactantes pode afetar o sono do bebê e até o seu comportamento. Em um dos experimentos, foi analisado que bebês que foram amamentados imediatamente ou uma hora após suas mães consumirem bebida alcoólica, ou ao receberem leite materno com álcool (ambos os ensaios com 0,3% de álcool), tiveram mais dificuldade para dormir.  Para a médica com especialização em pediatria e sono infantil, Ana Jannuzzi, o consumo de álcool e a amamentação não são incompatíveis, mas é preciso cautela. “Não há definido o que é um padrão seguro de consumo de álcool durante a lactação. Inclusive, a Associação Internacional de Pediatria menciona que não há um nível seguro. O consumo de álcool em grandes quantidades durante a amamentação pode causar sonolência, atraso no crescimento e diminuição do ganho de peso dos bebês”, comenta a Dra. Ana Jannuzzi.

Ainda de acordo com a atualização de estudos, um experimento com bebês que ingeriram leite materno com presença de álcool, dormiam menos, choraram mais e se assustavam mais do que depois de consumir leite sem álcool. Para a médica e mãe de duas pequenas, o álcool pode sim afetar o sono do bebê, mas também é preciso levar em conta outros fatores externos. “Essa associação entre o sono dos bebês e consumo de álcool está correta, mas outros fatores também devem ser observados, como por exemplo, se a mãe que consumiu álcool está amamentando este bebê em um local com barulho. É importante esclarecer que as pesquisas que tratam sobre o tema são realizadas em ambientes controlados, onde essas outras variáveis não estão presentes, por isso, não se trata de uma associação exata”, ressalta Jannuzzi.

Ainda de acordo a médica carioca e especialista em sono infantil, mães que procuram ingerir cerveja para aumentar a produção de leite, devem ficar atentas aos riscos da prática. “O consumo de cerveja por parte das lactantes pode até aumentar a produção de leite, já que há o aumento da prolactina (hormônico responsável por estimular a produção), mas isso não justifica um consumo regular e em grandes quantidades, pois essa ingestão é muito prejudicial para o bebê. O mesmo cuidado deve ocorrer com o consumo de cervejas sem álcool. Algumas marcas não são zero alcoólicas, tendo 0,4% do ingrediente na sua composição – o que em grandes quantidades pode fazer diferença no sono e no comportamento do bebê”, argumenta a médica. O crescimento do consumo de álcool por mães com filhos menores de 5 anos, foi, inclusive, tema de uma pesquisa realizada pela organização sem fins lucrativos RTI International, em parceria com Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA. O estudo, divulgado no ano passado, mostrou que desde o início da pandemia, até novembro de 2020, o consumo de bebidas alcoólicas nesse grupo aumentou 323%.

Para minimizar as dúvidas sobre o assunto, a Dra. Ana Jannuzzi indica ainda que as mães consultem a tabela que sugere o tempo de intervalo ideal entre a ingestão de bebidas alcoólicas e a amamentação “Existem várias tabelas que indicam quanto tempo as mães devem esperar, após ingestão de álcool, para amamentar ou fazer a retirada de leite. Outro ponto importante é saber que a médio e longo prazo, o consumo de álcool pode acarretar obesidade infantil, então as mães precisam ter cautela quanto a ingestão nessa fase”, alerta a médica com especialização em pediatria.

Sobre a Dra. Ana Jannuzzi:

Ana Jannuzzi é médica, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com especialização em pediatria pela Universidade Cândido Mendes. Mãe de duas pequenas (1 ano e 3 anos de idade), a carioca ainda é a autora do best-seller “O ano de Ouro”, obra com mais de 7 mil exemplares vendidos, um guia para mães e famílias sobre o 1 ano do bebê. Com milhares de seguidores no Instagram (@drajannuzzi), a especialista também é palestrante e referência no mercado de cursos on-line sobre saúde materno-infantil, onde aborda temas como gestação, parto e puerpério, alimentação descomplicada, amamentação e sono infantil. Destaque para a capacitação em “Sono e Rotina”, em parceria com a Faculdade de Brasília. Único curso do Brasil que oferece certificado registrado pelo Ministério da Educação (MEC) sobre o assunto e que já assistiu mais de 15 mil alunas.  Atualmente, cursa pós-graduação em “Sono na Infância e Adolescência” pela Escola Superior de Saúde Cruz Vermelha.