Ivam Cavalcante Pereira Jr.*

O ano de 2020 foi ímpar, com nossos olhos voltados quase exclusivamente para a pandemia de Covid-19. Mas a grande verdade é que há anos convivemos com uma pandemia silenciosa e que se espalha pelos serviços de saúde do mundo todo. São as chamadas infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) ou, em termos simples, infecções hospitalares.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil tem taxa prevalente de IRAS de 14%, ou seja, a cada 100 cirurgias realizadas, 14 têm infecções hospitalares. Segundo o DATASUS, foram realizadas, no país, de janeiro a outubro de 2020, 3,2 milhões de cirurgias. Em rápido cruzamento de dados (OMS x DATASUS) encontramos que mais de 460 mil cirurgias (ou seja, pessoas) foram acometidas por IRAS.

Comparativamente, vivemos a pandemia de Covid-19 e nos chocamos quando a taxa de infecção pessoa a pessoa supera 1. Contudo, a taxa de infecções hospitalares no Brasil supera essa marca, alcançando, surpreendentemente, 1,4 – ou seja, 40% superior. E por que não nos preocupamos publicamente, como temos feito com a pandemia de Covid-19? A resposta, aparentemente simples, é que os casos de IRAS podem ter tratamento ou tentativas de tratamento com os medicamentos existentes. 

Tratamos com medicamentos isolados ou combinando todos na desesperada ação de eliminar as infecções hospitalares. Contudo, nesta ação de salvar vidas, os micro-organismos aprendem e se tornam resistentes e multirresistentes, ocasionando o invariável falecimento de pacientes. De acordo com a Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), 100 mil pacientes morrem todos os anos devido às IRAS.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em seus recentes alertas (GVIMS/GGTES nºs 01/2020 e 02/2020), confirmou a presença do “superfungo” Candida auris em paciente internado em hospital privado de Salvador, Bahia. O tema não é novo, só que, por aqui, nunca se havia feito a identificação positiva deste micro-organismo.

Os micro-organismos envolvidos em IRAS nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e mais frequentes no Brasil, segundo a Anvisa, já são resistentes e multirresistentes. Entre eles estão superbactérias como KPC (2º lugar), e, surpreendentemente, bactérias de água, como a Serratia (10º lugar), também estão presentes. E o que está levando Serratia aos pacientes? 

Se as instituições hospitalares têm tantos recursos (intelectuais, tecnológicos, estruturais, financeiros, entre outros), fica a pergunta: por que há tantos desafios para se evitar, a todo custo, as IRAS? Estamos perdendo a luta e, cada vez mais, vidas são acometidas por essas infecções a cada ano. 

Apesar de se ter a comprovação de que quaternários de amônio não são recomendados para a desinfecção de superfícies contaminadas por Candida auris (causaram infertilidade em ratos e há estudos de micro-organismo de resistência e relatos de asma ocupacional),  estes continuam a ser largamente utilizados no Brasil, pois são tidos como baratos. O custo-benefício de desafiar o cuidado e a vida, certamente, tem de ser avaliado. Está valendo a pena? 

Mesmo com todos esses desafios, a cultura de processos de limpeza manual (concorrente e terminal) continua sendo o padrão, e estudos demonstram que é, frequentemente, inadequada, levando riscos e IRAS a pacientes. Se temos opções automatizadas, validadas e eficazes, por que continuar fazendo o de sempre, acreditando que se obterá o melhor resultado?

Soluções de peróxido de hidrogênio com prata (hospitalar) e sem prata (alimentícia), por intermédio de tecnologias proprietárias de vaporização seca validadas por meio de normativas e estudos in vivo, têm se demonstrado extremamente superiores a outras soluções desinfetantes e tecnologias no combate a micro-organismos, na redução do risco de IRAS e na desinfecção de ambientes, superfícies e artigos nesses locais.

Evoluir é uma escolha, muitas vezes disponível, e que custa tempo e recursos, só que também poupa vidas. Vidas não têm preço: isto é consenso mundial e é a base do cuidar. Cabe a nós fazer o correto, sem a necessidade de leis, pelo simples fato de termos bom senso.

* Graduado em Administração de Empresas. Possui diversos cursos, como Marketing, Startups e Dados de Clientes, Inovação em Modelo de Negócios, Administração Estratégica, Liderança em Negócios, Planejamento Logístico. É Blue Belt em Six Sigma. Atualmente, é diretor executivo da DeVant Care.