Todos os anos, o Novembro Azul surge como um lembrete de que prevenir o câncer de próstata salva vidas. Mas a verdade é que o problema da saúde masculina no Brasil vai muito além desse exame. Mesmo com campanhas massivas de conscientização, homens continuam morrendo mais cedo, adoecendo mais e procurando menos ajuda médica — tanto para o corpo quanto para a mente.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, os homens vivem em média sete anos a menos que as mulheres. E a principal razão não é biológica, mas comportamental. Quase 60% dos homens brasileiros não realizam consultas médicas de rotina, e 70% só procuram um especialista quando os sintomas já estão avançados. O resultado é um cenário preocupante: as doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte entre homens, seguidas por cânceres evitáveis e transtornos mentais não diagnosticados.
“Existe uma crença cultural muito forte de que o homem precisa ser invulnerável, produtivo e racional o tempo todo — e isso o afasta do cuidado”, explica a Dra. Thais Moreno, cardiologista e Head de Saúde da Starbem, healthtech especializada em saúde e bem-estar corporativo. “Essa cultura do ‘não posso adoecer’ faz com que sintomas importantes sejam ignorados. Quando eles chegam ao consultório, muitas vezes já é tarde demais.”
A médica alerta que o autocuidado masculino precisa ser encarado como prioridade de saúde pública e também como uma questão de saúde corporativa. De acordo com um levantamento recente da Starbem, empresa que hoje atende mais de 5 mil empresas em todo o país, o perfil masculino ainda demonstra maior resistência em aderir a programas de bem-estar, especialmente aqueles ligados à saúde emocional.
“Homens são minoria entre os que buscam apoio psicológico nas empresas. Isso mostra como o estigma da vulnerabilidade ainda é um obstáculo real”, observa Thais.
A consequência é direta: a falta de cuidado integral tem reflexos no desempenho e na produtividade. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que o estresse e a depressão já reduzem em até 4% o PIB de países emergentes, e no Brasil, o índice de afastamentos por transtornos mentais entre homens cresce mais rápido do que entre mulheres.
Para a especialista, é hora de ressignificar o que significa “ser forte”. “Prevenção é liberdade. Consultar-se regularmente é um ato de coragem, não de fraqueza. E o homem que cuida da própria saúde física e emocional vive melhor, trabalha melhor e inspira outros a fazerem o mesmo”, reforça.
Dentro das empresas, o Novembro Azul também vem ganhando um novo papel: o de promover ambientes mais acolhedores e saudáveis. A Starbem, que combina psicologia, nutrição e mais de 15 especialidades médicas em um ecossistema digital, defende que o cuidado deve ser contínuo — e não restrito às campanhas de conscientização.
“Cuidar da saúde do homem é cuidar de todo o sistema que o cerca — da família ao ambiente de trabalho. O desafio agora é fazer com que esse cuidado deixe de ser exceção e se torne hábito”, conclui Thais Moreno.