O IGCC pretende tornar-se referência na América Latina no tratamento do câncer, servindo de modelo a ser replicado em outras cidades do mundo

Com uma alarmante realidade, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) registram a estimativa da incidência de 625 mil novos casos da doença no Brasil a cada ano do triênio 2020-2022. Comportamentos não saudáveis como fumar, consumir bebidas alcoólicas, sedentarismo e manter dieta desprovida de vegetais também aumentam a ameaça de diferentes tipos da enfermidade. Além da obesidade, que está entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de 11 das 19 espécies mais frequentes de cânceres na população brasileira.

Assim, diante deste cenário que urgentemente necessita de transformação, nasce o Instituto de Governança e Controle do Câncer — IGCC — em Porto Alegre/RS, a partir da iniciativa global City Cancer Challenge (C/Can), fundação autônoma que apoia cidades de todo o mundo para alcançarem acesso equitativo, célere e de qualidade no controle e tratamento da doença. Ação esta que a capital gaúcha integra desde 2018, tornando-se a primeira e única cidade brasileira a fazer parte do C/Can.

Criado para ser o parceiro de sustentabilidade do C/Can em Porto Alegre, o IGCC é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos. Seu propósito é articular, propor e apoiar iniciativas governamentais, das Universidades e da sociedade civil que colaborem para a promoção de um tratamento oncológico direcionado à melhoria da gestão, prevenção, acesso, rastreamento e diagnóstico do câncer em âmbito nacional.

Através da qualificação das políticas públicas, implementação de projetos que melhorem a gestão da saúde e o fornecimento de dados que auxiliem na tomada de decisão sobre a doença, o Instituto buscará apoiar as cidades do país que desejam desenvolver projetos de enfrentamento ao câncer. A meta, segundo a organização, é tornar o IGCC referência na América Latina no tratamento da doença. Além disso, a experiência e o legado do C/Can, juntamente com a instituição do IGCC em Porto Alegre, devem servir de modelo a ser replicado em outras cidades do mundo.

Lançamento IGCC – A cerimônia de lançamento do Instituto de Governança e Controle do Câncer, que ocorreu de forma híbrida, contou com a participação da CEO global do C/Can, Susan Henshall, diretamente de Genebra, onde fica a sede do C/Can, da presidente do Conselho de Administração do Instituto, a mastologista Maira Caleffi, do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, de Brasília, e autoridades presentes no Salão Nobre da Prefeitura Municipal da capital gaúcha.

Na ocasião, Maira enfatizou que o acordo entre Porto Alegre e C/Can proporcionou um modelo inovador e sustentável que pode ser ampliado e aplicado nacionalmente. “Na cidade é onde se precisa fomentar as parcerias e as iniciativas, pois, se o problema é global, as soluções são locais. Nossa dificuldade não é somente termos o aparecimento de mais casos de cânceres, e sim a morte por essa doença que pode ser curada, controlada e até prevenida”, disse ela.

A presidente manifestou ainda sua inconformidade com aspectos como o local onde a pessoa mora, sua capacidade econômica e seu nível educacional determinarem se sobreviverá ou não quando acometida por um câncer. “Temos que dar voz ao paciente e isso não estamos conseguindo no sistema público de saúde. E essa é a luta que me move”, falou emocionada.

A CEO global do C/Can afirmou ser de extrema importância o esforço conjunto da entidade com o forte trabalho realizado em Porto Alegre desde 2018 para melhorar a situação do câncer e diminuir a alta mortalidade registrada na capital gaúcha pela doença. “Temos visto mais de 160 profissionais envolvidos de 33 instituições de saúde da cidade para melhorar esta situação. Sabemos que o objetivo não é fácil, tem que se trabalhar duro, mudar alguns conceitos, ter políticas públicas e atuar conjuntamente para encontrar as soluções”, disse ela. Susan também evidenciou o trabalho do Comitê Executivo da cidade, que tem sido brilhante, bem como o apoio político, fundamental para o projeto. “Porto Alegre agora está na fronteira da mudança do cuidado com o câncer. A cidade está num modelo de futuro a este tema e o IGCC é parte importante deste processo”, enfatizou.

Já o Secretário Municipal de Saúde de Porto Alegre, Mauro Sparta, enfatizou o trabalho multissetorial que tem sido desenvolvido com o C/Can desde 2018. “É importante ver como Porto Alegre tem o apoio do 3º Setor em enfrentamento ao tema do câncer. Temos que fazer a prevenção e no momento em que a doença aparece, realizar o diagnóstico e seu tratamento. Esse é o grande desafio do país inteiro e não só da capital gaúcha.

Ele comentou ainda que a cidade conta com o Estatuto da Pessoa com Câncer e seu cuidado de forma integral, ressaltando o objetivo central de diminuir a mortalidade de câncer na capital entre os anos de 2022 a 2025. Sparta evidenciou também que com a unificação da fila de espera pelo SUS para o primeiro atendimento dos pacientes de Porto Alegre e do restante do RS, ação que se tornou possível por meio de um convênio com a Secretaria Estadual da Saúde, em apenas 25 dias a partir dessa iniciativa, já houve redução de cerca de 44% no quantitativo total de pacientes na fila de consultas oncológicas com referência em Porto Alegre.

Projetos – Dentre todo o trabalho desenvolvido com o apoio do C/Can, que terá continuidade com a implantação do IGCC, destacam-se alguns projetos. O Manual da Qualidade: Patologia em Foco, já está sendo utilizado para unificar a forma como os laboratórios locais realizam seus serviços. O projeto sobre Registro de Dados de Câncer de Base Populacional, finalizado em 2021, capacitou as equipes de vigilância sanitária responsáveis pela coleta e divulgação dos dados. Por fim, Radioterapia: estudo sobre o acesso ao tratamento para o câncer de próstata, com entrega prevista para abril de 2022, entre outras ações.