Marcelo Fanganiello*

É mais do que desnecessário enfatizar o papel que a tecnologia tem conquistado no Setor Saúde nos últimos anos. As facilidades, as vantagens e os benefícios já foram exaustivamente comprovados. Suas aplicações são diversas e distintas, indo desde o atendimento clínico ao apoio diagnóstico e até mesmo na gestão. Porém, mesmo assim, ainda existem alguns paradigmas a serem quebrados. Um deles é a falácia de que a telemedicina, a inteligência artificial e a inteligência aumentada tornam a relação médico-paciente robotizada e distante. 

Não é bem assim. Aliás, é exatamente o contrário: essas tecnologias ajudam a humanizar e tornar a relação médico-paciente ainda mais próxima. Todos sabemos que a Medicina tem mudado muito ao longo dos anos. Todos os dias, surgem novos tratamentos, novos protocolos clínicos etc. Sem falar que, a cada dia, é preciso lidar com novas doenças, como foi o caso da Covid-19, que ainda trouxe consigo uma necessidade de isolamento social.  Essa velocidade com que tudo acontece torna bem difícil, para o médico, manter-se atualizado, acompanhar e, principalmente, absorver todas essas mudanças e informações. 

Pois bem, é aí que entram a inteligência aumentada e as tecnologias de suporte à decisão clínica. Mas, não era inteligência artificial? Por que agora estamos falando de inteligência aumentada? Vou explicar.  Embora estejamos habituados a escutar o termo inteligência artificial, estamos falando de duas coisas distintas. 

A inteligência artificial é resolutiva por ela mesma. Por exemplo, um algoritmo criado para interpretar um eletrocardiograma é capaz de gerar um laudo de forma automatizada cada vez mais assertiva e funcional. Já a inteligência aumentada é quando, a partir desse algoritmo criado, o profissional tenha subsídio para tomar uma decisão clínica ou pedir outro exame. Enfim, conduz o profissional ao pensamento cognitivo com o intuito de maximizar a assertividade humana.

Dessa forma, acredito que a inteligência artificial seja utilizada em poucas áreas da Medicina hoje (por enquanto), mas, em muitas delas ou em todas, a inteligência aumentada pode ser empregada. Já existem algumas tecnologias que trazem insights dos caminhos a serem seguidos no processo de conclusão de diagnóstico; outras são capazes de analisar resultados de exames laboratoriais com grande assertividade. Claro que a opinião e a experiência do médico sempre irão prevalecer, mas estas tecnologias agilizam a obtenção de informações e trazem mais precisão para todo o processo de atendimento.

O resultado esperado? O médico passa a ter mais tempo durante a consulta para ouvir, entender, analisar e, principalmente, aproximar-se de seu paciente, voltando-se àquela relação mais próxima e humana entre médico e paciente. O que também está em total aderência ao que se prega hoje: paciente no centro do cuidado e Medicina baseada em valor.

Outro exemplo clássico de tecnologia que também já quebrou alguns paradigmas com a pandemia é a telemedicina que, especialmente no Brasil, não era vista com bons olhos.  Costumo fazer uma analogia bem descontraída: era como o Voldemort, nos filmes da série Harry Potter, aquele que não pode ser nomeado. 

Embora já existisse um movimento forte em outros países e já estivéssemos  trabalhando com tecnologias inovadoras de telemedicina por aqui há mais de 15 anos, não víamos avanços. Só se pensava no lado negativo: a tecnologia substituiria a figura do profissional da saúde. O que sabemos, agora, ser algo totalmente falso.  

Além da falta de demanda por parte do paciente, não estava muito claro, para o profissional de saúde brasileiro, como essa tecnologia seria capaz de aumentar sua produtividade e capilaridade em relação ao seu atendimento e aos procedimentos.

A verdade é que a telemedicina amplia a capacidade de atendimento do médico e permite que ele assista um número maior de pacientes, remotamente e até de diferentes localidades geográficas, em um único dia de trabalho. Além disso, pacientes que, por vezes, moram em regiões mais distantes, podem ter acesso a especialistas que antes não tinham. 

E se combinarmos as duas coisas (telemedicina e inteligência aumentada), certamente chegaremos a um atendimento não só mais humano, mais próximo, como também mais completo e com alto nível de excelência. Ou seja, todos saem ganhando. 

* Diretor da GetConnect, divisão de Telemedicina, Integração e Conectividade da OxySystem.