Interrupção precoce do uso de aspirina nos primeiros meses após infarto não é segura, conclui estudo inédito do Einstein

–  Retirada precoce da aspirina reduz sangramentos, mas não propicia proteção suficiente para infarto, AVC e trombose, mostra pesquisa com mais de 3.400 pacientes;

–  Estudo é destaque no principal congresso de cardiologia do mundo e foi selecionado para publicação na revista New England Journal of Medicine.

O Einstein liderou um dos maiores estudos clínicos já realizados no Brasil sobre tratamento pós-infarto agudo do miocárdio. A pesquisa NEO-MINDSET, que acompanhou por 12 meses mais de 3.400 pacientes com síndromes coronarianas agudas, é um dos destaques do congresso anual da European Society of Cardiology (ESC), em Madrid, que termina nesta segunda-feira (1/9). Além disso, foi escolhida para publicação no New England Journal of Medicine (NEJM), uma das revistas científicas mais influentes do mundo.

Coordenado pelo Einstein em parceria com o Ministério da Saúde, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), o estudo avaliou se seria seguro suspender o uso da aspirina após a angioplastia com stent, mantendo apenas um antiplaquetário potente (prasugrel ou ticagrelor). Hoje, o tratamento padrão combina aspirina com outro antiplaquetário — a chamada dupla anti-agregação plaquetária. Porém, como a aspirina pode aumentar o risco de sangramentos, havia dúvidas sobre sua continuidade.

Estudos prévios indicavam que é possível retirar a aspirina após alguns meses, mantendo-se um período inicial de dupla anti-agregação. Mas permanecia incerto se a retirada poderia ser realizada logo após o infarto. Os resultados da pesquisa do Einstein demonstram que, na maioria dos casos, manter a dupla medicação desde o início é mais seguro, reforçando o protocolo tradicional e influenciando práticas médicas no mundo todo.

Os pesquisadores observaram que a retirada precoce da aspirina resultou em uma redução significativa nos sangramentos, com uma incidência de 2,0% no grupo que não utilizou aspirina, em comparação a 4,9% no grupo que manteve a terapia dupla. Por outro lado, a alteração no protocolo padrão não manteve a proteção contra eventos cardiovasculares graves — como infarto, acidente vascular cerebral ou necessidade urgente de nova revascularização — no grupo sem aspirina (7,0% versus 5,5%). Além disso, o número de casos de trombose de stent, uma complicação séria desse tipo de procedimento, pareceu maior entre os pacientes que não receberam aspirina (12 casos contra 4 no grupo controle).

“O artigo confirma que a monoterapia antiplaquetária, ou seja, o não uso da aspirina, reduz sangramentos, mas ainda não alcança a segurança necessária para substituir completamente a estratégia padrão nas primeiras semanas ou meses após o infarto”, explica Pedro Lemos, diretor do programa de cardiologia e pesquisador do Einstein, autor sênior da publicação. O cardiologista destaca que os achados são importantes, no entanto, para garantir cada vez mais protocolos embasados em evidências científicas.

Academic Research Organization (ARO) do Einstein foi o centro coordenador nacional do projeto, responsável pela condução regulatória, operação do ensaio clínico e análise estatística. O estudo, que envolveu 50 centros hospitalares de diversas regiões do Brasil, contemplou 3.400 pacientes, sendo a maior parte do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A publicação no New England Journal of Medicine e a seleção como destaque no principal congresso de cardiologia do mundo reforçam a maturidade da pesquisa clínica conduzida no Brasil. Trata-se de uma contribuição relevante para a prática médica global, que projeta a cardiologia e a ciência médica brasileira no geral em um cenário de excelência científica internacional. O estudo exemplifica como a pesquisa científica de qualidade influencia positivamente a assistência à saúde, mas também que o rigor necessário para a geração de evidências é contemplado com respeito e relevância”, avalia Luiz Vicente Rizzo, diretor executivo de Pesquisa do Einstein.

A ARO é referência em pesquisa clínica de excelência, com infraestrutura completa e equipes especializadas que garantem rigor metodológico em todas as etapas dos estudos, desde o desenho até a análise estatística e farmacovigilância. Atua em projetos estratégicos privados e públicos, por meio do Proadi-SUS, promove parcerias com indústria, governo e academia, e investe na formação de profissionais, fortalecendo a pesquisa clínica no Brasil com impacto internacional.