Por Roberta Von Zuben (*)
Vencer, literalmente, um preconceito, pode ser a grande resposta para a melhora da saúde mental coletiva. Em tempos de Janeiro Branco, de conscientização sobre o problema, a atitude individual de se deixar de lado certa hostilidade diante da necessidade de qualquer pessoa de se fazer um tratamento adequado, sem ser (auto) taxada de “louca”, é o início de algo extremamente promissor.
Hoje em dia, temos uma sociedade, amplamente falando, cada vez mais preocupada com a saúde física: regrando rotinas alimentares, de exercícios físicos e de desligamento de vícios tóxicos e prejudiciais. O que explica, portanto, o tabu de não se ter a mesma consideração quanto à saúde mental? A resposta é simples: o estereótipo citado acima.
Por que um cardiologista, apenas para citar um exemplo dentre tantas especialidades importantes, pode indicar ao paciente um tratamento psicológico? A resposta também é simples: além de a saúde mental ter o mesmo peso da física na hora de cuidar-se, a primeira pode interferir na segunda. Doenças mentais, como ansiedade, depressão, pânico, burnout e outros transtornos, podem atingir qualquer pessoa, em qualquer idade, e são como quaisquer outras patologias: ninguém “pede” para tê-las, ou está “maluca”, ou “com frescura”. Os sinais de que uma pessoa está tendo sua saúde mental afetada aparecem, geralmente, de forma sutil, e reverberam negativamente na integridade física do ser humano. A saúde mental descarrega e somatiza no corpo.
Por isso, é importantíssimo que escolhamos a empatia em detrimento dos julgamentos e de rótulos descabidos. A todo momento precisamos estar em alerta sobre como estamos emocionalmente, quais são os nossos gatilhos, como pensamos e agimos diante de situações específicas (seja em casa, socialmente, no trabalho ou no lazer) e, ainda, fazer o mesmo por todos aqueles que queremos bem. Atente a eventuais mudanças na forma de se expressar, de sentir; alterações de humor e físicas, por exemplo. Não é preciso ser da área da saúde, mas sim sensível, a fim de identificar quando amigos, colegas, familiares, funcionários, colaboradores, quem quer que seja, incluindo nós mesmos, precisamos de ajuda.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar sua própria habilidade para se recuperar do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com sua comunidade, seja em casa, no trabalho ou na sociedade de maneira geral.
Para que isso seja possível, é preciso encontrar um equilíbrio: de nada adianta estar bem financeiramente, em um trabalho maravilhoso, com a saúde física em dia se há depressão, ansiedade, burnout… As coisas boas para a mente têm a mesma relevância de se praticar exercícios todos os dias. Quem estiver em equilíbrio terá a saúde prolongada por meio da qualidade de vida.
É importante, porém, entender a dinâmica de cada família, de cada rotina, de cada indivíduo. Há pessoas, por exemplo, que trabalham à noite e descansam de dia; outras, puxam dois turnos; algumas têm até três empregos para garantir o sustento. Mas alguns hábitos podem ajudar no alívio das tensões: ter momentos de tranquilidade, seja sozinho ou com uma companhia leve; ouvir músicas que gosta, ver filmes, programas de TV, ir ao cinema, passear ao ar livre, participar de algum momento na cozinha, regular o sono. Pequenas atividades propiciam momentos de alegria, descontração, desestresse e ajudam a relaxar a mente. Temos que buscar o que gostamos de fazer para amenizar o processo pesado do trabalho, do cuidado com os filhos, do trânsito, das doenças com as quais precisamos lidar (sejam nossas ou de familiares), entre outros exemplos. Podem ser pequenas coisas, mas efetivas e constantes.
Não há um momento certo específico para se buscar ajuda. Ao perceber que você não tem mais empatia com determinados compromissos, tem dificuldade em ficar algum tempo em comunidade e em interação pessoal, mesmo que do seu círculo próximo, que o trabalho está causando ansiedade ou mal-estar, é preciso ficar atento. Se esse comportamento se tornou rotineiro, o ideal é procurar um profissional especializado para verificar se é algo que necessita de cuidados. Algo simples pode se tornar uma patologia grave. O Janeiro Branco serve justamente para conscientizar sobre isso.
Com a disseminação de informações cada vez mais ágeis, avançamos muito nesse sentido. Preocupados com as doenças do século, executivos municipais, estaduais e federais, além do segundo setor, promovem cada vez mais ações de apoio ao ser humano, agregando profissionais especializados na área. Não se trata de ajudar o “contribuinte” ou o “funcionário”, mas sim a figura humana. Quanto mais isso crescer nas empresas, nas escolas, nos nichos governamentais, melhor para o futuro, principalmente no Brasil, um país de população muito emotiva. Caso seja fomentado, isso pode firmar cada vez mais a saúde mental no país.
O indivíduo não nasceu para ficar sozinho, ele precisa de auxílio e essa mudança de visão, de quebrar tabus e avançar contra os preconceitos por meio da disseminação de informações confiáveis e de conhecimento real sobre o que é cuidar da mente, é de extrema relevância para quebrar paradigmas do tipo “se não tem remédio, não resolve”. A mente é subjetiva e isso pode acontecer com qualquer um. A sociedade, de forma geral, beneficia-se quando todos estão bem.
(*) Roberta Von Zuben é psicóloga do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP)