Janeiro Branco: unidos em prol da saúde mental

Petrus Raulino, médico psiquiatra pela Unicamp e responsável pelos Serviços de Interconsulta em Psiquiatria do Hospital Vera Cruz e do Vera Cruz Casa de Saúde, rede Hospital Care HUB Campinas

Precisamos começar pelo mais importante: não há saúde sem saúde mental. A saúde mental é a base para nossa capacidade humana de pensar, emocionar, interagir, apreciar e ganhar a vida. Cada vez mais a sociedade toma consciência de sua suprema importância. Temos que falar mais dela, especialmente em ano de pandemia em que há uma crise global de saúde.

Certamente, a saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais. Mas os transtornos mentais, incluindo crises emocionais ou comportamentais, corroem profundamente a saúde. As mais recentes evidências científicas apontam os transtornos mentais como causa significativa de ônus por doença no mundo, afetando mais de 1 bilhão de pessoas por ano.

O ônus por doença é medido pelo número de anos de vida perdidos para uma doença. É calculado somando-se os anos de vida perdidos por incapacidade aos anos de vida perdidos devido à mortalidade prematura para uma dada doença. Os transtornos mentais são a causa de 13% de todo o ônus por doenças no mundo e 32% dos anos perdidos por incapacidade. A depressão é associada à maioria dos anos perdidos por doença, principalmente devido à sua natureza cronicamente incapacitante.

As estatísticas colocam os transtornos mentais em um distante primeiro lugar no ônus por doença em termos de anos perdidos por incapacidade, e no nível das doenças cardiovasculares e circulatórias em termos de ônus por doença no mundo. Tais estimativas têm chamado a atenção para a importância do impacto dos transtornos mentais para a saúde. Ainda assim, é provável que o ônus dos transtornos mentais seja subestimado por causa da frequente desconsideração que é feita sobre a conexão entre transtorno mental e outras condições de saúde, juntamente com a ideia falsa de que fatores contextuais ou mentais não alteram o organismo biologicamente.

Há muitos mitos em torno da natureza dos transtornos mentais. Um deles é que a atividade mental e o cérebro são separáveis, mas eles são interconectados. Erramos menos quando entendemos isso. Atividade mental tem lastro no cérebro biologicamente ativo, portanto, os fatores externos são gatilhos para o organismo ativar (ou não) processos biológicos que podem se converter em transtornos como depressão ou ansiedade.

Outro mito frequente: a identidade de alguém com transtorno mental é só o transtorno e nada mais. Não há nada mais longe da realidade. A identidade total de uma pessoa vai muito além do transtorno. É perfeitamente possível alguém ter sintomas compatíveis com um transtorno e, ao mesmo tempo, ter qualidades, capacidades positivas ou competências. Um processo terapêutico adequado leva em conta a identidade total da pessoa.

Perdemos muito com transtornos mentais não tratados. São 30% dos adultos afetados por algum transtorno mental ao longo da vida. Com informação adequada, precisamos combater o estigma que leva à falta de tratamento adequado. A saúde mental é um pilar fundamental para a saúde global.

(Foto: Matheus Campos)