Levantamento da rede Dasa, incluindo Hospital São Lucas Copacabana e Sérgio Franco, com mais de 1,24 milhões de pessoas com indicação clínica, comprova o impacto da pandemia no rastreamento da doença no país

O diabetes afeta 12 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes. Em um levantamento realizado pela Dasa – a maior rede de saúde integrada do Brasil, da qual o Hospital São Lucas Copacabana faz parte – identificou em seu universo de 1,24 milhão de pacientes pré-diabetes que se relacionam com a rede, 57% deixaram de realizar exames de rotina no período de outubro de 2020 a setembro de 2021. No caso de pacientes com diabetes, cadastrados na base de dados da Dasa, essa proporção sobe para 64%.

Segundo Fernando de Barros, cirurgião geral do Hospital São Lucas Copacabana, especialista em cirurgia bariátrica, o diabetes mal controlado e sem os cuidados adequados pode ser um grande complicador para a saúde do paciente, causando consequências graves e irreversíveis como insuficiência renal, problemas oculares, incluindo a cegueira, danos aos nervos dos membros inferiores e má circulação nas pernas e nos pés.

Um desses casos é das irmãs gêmeas univitelinas (ou idênticas) Cristina e Cristiana, de 39 anos, pacientes do Hospital São Lucas Copacabana. Ambas descobriram diabetes tipo 2 em 2017, com quadro associado de obesidade e hipertensão. Em 2019, Cristiana chegou a realizar uma consulta com Fernando de Barros para iniciar o tratamento cirúrgico, mas só retornou ao hospital em 2021, após isolamento social. “A paciente já apresentava quadro moderado da doença, com início da insuficiência renal e perda da acuidade visual. Para casos como esse, a indicação é a cirurgia metabólica, com objetivo de controlar a síndrome metabólica quanto antes”, explica Barros. Já sua irmã gêmea, Cristina, precisou iniciar as sessões de hemodiálise, durante a pandemia, devido ao agravamento da doença.

Os números da Dasa revelam ainda que o gap de cuidado de pacientes com diabetes ou pré-diabetes foi maior na capital paulista (63,8%), no Distrito Federal (69,8%) e no Centro Oeste (72,7%). No Rio de Janeiro (capital), das 260 mil pessoas elegíveis para acompanhamento laboratorial do diabetes, 38% deixaram de realizar os exames no último ano.

Sobre a cirurgia metabólica

Um dos tratamentos recomendados para alguns quadros de diabetes tipo 2 é a cirurgia metabólica, cujo objetivo é o controle da síndrome metabólica, que contempla o diabetes tipo 2. Nesta cirurgia, há diversas técnicas disponíveis na medicina, sendo as mais conhecidas e atuais a sleeve e by-pass – ambas autorizadas pelo Conselho Federal de Medicina. Enquanto na sleeve, o procedimento retira uma parte do estômago, onde o alimento passa pelo órgão direto para o intestino; na técnica by-pass, o estômago é separado e o alimento vai direto para o intestino, estimulando a produção maior de insulina pelo pâncreas. “Ambas as técnicas já são realizadas no Brasil com esta finalidade, obtendo excelentes resultados pós-cirurgia”, explica Fernando de Barros.

A paciente Josyenne Machado, de 34 anos, descobriu a diabetes durante a primeira gestação, há doze anos. Porém, o quadro agravou após a terceira gestação, apresentando alto índice glicêmico no organismo e início da perda visual, mesmo com uso contínuo de insulina e medicamentos. Após a cirurgia metabólica, realizada em julho de 2021 pelo Fernando no Hospital São Lucas Copacabana, a paciente já apresenta remissão da doença, sem necessidade insulina. “Estava correndo risco de morte, com níveis difíceis de controlar, já perdendo a visão. Após a cirurgia, em apenas poucos meses já tenho outra qualidade de vida, com a diabetes controlada”, ressalta Josyenne.

Diagnóstico precoce favorece tratamento do diabetes

A medida inicial para o tratamento do diabetes tipo 2 é a mudança de estilo de vida, incluindo adesão a uma dieta saudável combinada com atividade física regular. Segundo a endocrinologista Paula Bruno Araújo, gerente médica de Análises Clínicas do Sérgio Franco, unidade diagnóstico da Dasa, a pesquisa de diabetes deve ser feita em qualquer paciente que apresente sintomas sugestivos, como excesso de sede, excesso de urina, fome aumentada e perda de peso em qualquer idade. Durante a gestação também é indicada a pesquisa entre 24 e 28 semanas da gestação.

“Além disso, é recomendado o rastreamento para todos os indivíduos com 45 anos ou mais, mesmo sem fatores de risco. Também é indicado o diagnóstico para pessoas com sobrepeso ou obesidade, que tenham pelo menos um fator de risco adicional, como histórico familiar, doença cardiovascular, passado de diabetes gestacional, hipertensão, síndrome de ovários policísticos, pacientes com HIV e pré-diabetes”, explica a especialista. Aos que apresentam histórico familiar da doença, a médica completa que o rastreamento deve se iniciar ainda na infância, com 10 anos, ou após início da puberdade, quando apresenta sobrepeso ou obesidade.

Já para os pacientes com diabetes, o controle glicêmico deve ser individualizado de acordo com a situação clínica. “É recomendada a realização de exames de glicemia de jejum e HbA1C duas vezes ao ano, quando o paciente se encontra com a meta glicêmica estabelecida. Já para casos em que esta meta de HbA1C está acima de 7%, esta avaliação deve ser feita a cada três meses”, ressalta a médica do Sérgio Franco.

Além do controle glicêmico, o paciente com diabetes deve realizar o rastreio para as complicações crônicas, como retinopatia, nefropatia, neuropatia e doenças cardiovasculares. Segundo a especialista, os exames de sangue, de urina e ocular, além de exames de imagem auxiliam nesse acompanhamento, de acordo com cada caso.