Objetivo é conscientizar as pessoas que apresentam doenças como hipotireoidismo, hipertireoidismo e, entre outras, a condição rara, doença ocular da tireoide (DOT)
Há mais de uma década maio é marcado pelo mês de conscientização da tireoide[1] (25), com o objetivo de promover a conhecimento sobre as doenças relacionadas à glândula e seus sintomas. Localizada no pescoço e com um formato semelhante ao de uma borboleta, a tireoide é essencial para a regulação do metabolismo de todos os sistemas do corpo humano.
A tireoide é responsável pela produção dos hormônios T3 e T4 (triiodotironina e tiroxina, respectivamente), e tem influência em diversos momentos, como no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, na regulação dos ciclos menstruais, no controle do peso, da memória e no equilíbrio emocional, por exemplo. “Quando a tireoide está desregulada, ela pode liberar hormônios em excesso, provocando o hipertireoidismo, ou em quantidade insuficiente causando o hipotireoidismo. Já a doença ocular da tireoide (DOT), doença inflamatória nos olhos, é uma condição rara e o quadro pode ser progressivo, com riscos à visão”, explica o Dr. Helton Estrela Ramos, médico endocrinologista Chefe do Laboratório de Estudo da Tireoide e Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A DOT é uma patologia extremamente heterogênea, na qual os sintomas podem variar de pessoa para pessoa de maneira leve, moderada ou grave. Além das manifestações mais comuns, os indivíduos com esta doença podem apresentar irritação nos olhos, lacrimejamento, fotofobia (intolerância a luz) e inchaço nas pálpebras.1
Foram esses os primeiros sinais sentidos por Carloneide Souza, de 68 anos, residente de Santo Antônio de Jesus, na Bahia. “Comecei a sentir os olhos inchados e estufados, mas como moro em uma cidade pequena, tinha acesso apenas ao clínico geral. Depois de alguns meses sentindo esses incômodos, fui encaminhado para um endócrino em Salvador para confirmar a suspeita de algum desequilíbrio na tireoide. Após dois anos, veio o diagnóstico de DOT.”
O endocrinologista explica que a causa da DOT é autoimune, estando mais comumente associada à Doença de Graves – causa mais comum do hipertireoidismo. “Na DOT, os anticorpos que reconhecem a tireoide atacam estruturas presentes na órbita (olhos), causando as manifestações clínicas de inflamação e acometimento dos músculos das pálpebras (retração das pálpebras) e glândulas lacrimais (olho seco). A projeção do globo ocular para fora do olho (exoftalmia) ocorre quando existe grande acúmulo de gordura nas porções posteriores do olho, pois, na doença, células conhecidas como fibroblastos transformam-se em células gordurosas (adipócitos).”
Quanto ao tratamento, a DOT associada a doença de Graves são doenças diferentes, mas que devem ser tratadas ao mesmo tempo. “O diagnóstico precisa ser precoce, antes que ocorra danos à córnea, perda da visão e visão dupla – sintomas muitas vezes não reversíveis. É comum, como no caso relatado, que muitos pacientes sejam tratados como portadores de alergia, conjuntivite e outras alterações oculares, ficando sem o diagnóstico preciso por meses e anos”, complementa o médico.
Embora 90% dos pacientes com a DOT tenham hipertireoidismo concomitante, a doença também pode ocorrer em pacientes com a tireoide normal ou com hipotireoidismo.[2] A DOT pode levar a significativas complicações oculares, podendo causar alteração significativa da aparência e forte impacto na autoestima e capacidade de socialização, com queda progressiva na qualidade de vida. Portanto, estar atento aos sinais é muito importante. Na presença de sinais de doença da tireoide (tremores, insônia, palpitações, irritabilidade e perda de peso) um médico endocrinologista deve ser procurado. Relate se há, concomitantemente, queixas oculares como sensação de ciscos nos olhos, vermelhidão e borramento visual. Reconhecer a doença precocemente pode aumentar as chances de boa resposta ao tratamento e evitar sequelas.
[1] Ministério da Saúde: Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em: Link. Acesso em 16 de maio de 2023.
[2] Men CJ, Kossler AL, Wester ST. Updates on the understanding and management of thyroid eye disease. Ther Adv Ophthalmol. 2021 Jun 30;13:25158414211027760. Doi: 10.1177/25158414211027760. PMID: 34263138; PMCID: PMC8252358.