Estudo alemão publicado na revista Nature Communications fornece informações importantes para diagnosticar o câncer de pulmão

Os diagnósticos de câncer são feitos hoje da mesma maneira que há 100 anos: colhem-se amostras de tecido de pacientes, que são colocadas em formol para exame microscópico. Nos últimos 20 anos também foram estabelecidos métodos genéticos que permitem caracterizar mais detalhadamente as mutações em tumores, ajudando os médicos a selecionar a melhor estratégia de tratamento.

Um novo estudo, publicado na revista Nature Communications, parece dar novas informações que podem mudar um pouco essa história. Um grupo de pesquisadores do Max Delbrück Center for Molecular Medicine da Helmholtz Association (MDC), do Berlin Institute of Health (BIH), Charité – Universitätsmedizin Berlin e do German Cancer Consortium (DKTK) conseguiu analisar em detalhes mais de oito mil proteínas em amostras fixas de tecido de câncer de pulmão usando espectrômetros de massa. “Essas análises tornam possível lançar uma nova luz sobre o curso clínico de vários tipos de câncer”, diz o oncologista torácico Carlos Gil Ferreira, Presidente do Instituto Oncoclínicas.

A equipe de pesquisadores, liderada pelo Dr. Phillip Mertins e o professor Frederick Klauschen, conseguiu mostrar que as proteínas – ao contrário das moléculas de RNA frequentemente estudadas, mas bastante sensíveis – permanecem estáveis nas amostras por muitos anos e podem ser precisamente quantificadas. Além disso, as proteínas que estão presentes no tecido do tumor mapeiam a progressão da doença especialmente bem, pois fornecem informações sobre, por exemplo, quais genes que promovem ou inibem o crescimento do tumor são particularmente ativos nas células.

Os novos métodos tornaram possível conduzir uma análise aprofundada dos processos moleculares em células cancerosas no nível de proteína – e fazê-lo em amostras de pacientes arquivadas que são coletadas e armazenadas em grande número na prática clínica diária. Mesmo amostras de tecido muito pequenas, como as obtidas em biópsias por agulha, são suficientes para os experimentos.

A equipe obteve imagens de duas formas de câncer de pulmão – adenocarcinomas e carcinomas de células escamosas – e fornece uma boa base para obter uma melhor compreensão da progressão da doença no câncer de pulmão e também em outros tipos de câncer. Os métodos desenvolvidos também prometem explicar melhor no futuro porque uma terapia muito específica funciona para alguns pacientes, mas não para outros. “Isso tornaria mais fácil encontrar a melhor opção de tratamento para cada paciente”, afirma Carlos Gil.

Sobre Dr. Carlos Gil Ferreira

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1992) e doutorado em Oncologia Experimental – Free University of Amsterdam (2001). Foi pesquisador Sênior da Coordenação de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) entre 2002 e 2015, onde exerceu as seguintes atividades: Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica, Chefe do Programa Científico de Pesquisa Clínica, Idealizador e Pesquisador Principal do Banco Nacional de Tumores e DNA (BNT), Coordenador da Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos Anticâncer (REDEFAC/SCTIE/MS) e Coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC/SCTIE/MS). Desde 2018 é Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo Oncoclínicas. No âmbito nacional e internacional foi Membro Titular da Comissão Científica (CCVISA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). No âmbito internacional é membro do Career Development and Fellowship Committee e do Bylaws Committee da International Association for the Research and Treatment of Lung Cancer (IALSC), da qual faz parte do comitê diretivo; Diretor no Brasil da International Network for Cancer Treatment and Research (INCTR); Membro do Board da Americas Health Foundation (AHF). Editor do Livro Oncologia Molecular (ganhador do Prêmio Jabuti em 2005) e Editor Geral da Série Câncer da Editora Atheneu. Já publicou mais de 100 artigos em revistas internacionais.