* Vinicius Bagnarolli
Mudanças radicais estão chegando à cadeia de suprimentos farmacêuticos do Brasil. Desde 2009, a Anvisa vem aprimorando o Sistema Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM), destinado a estabelecer mecanismos e procedimentos de rastreamento e serialização de remédios. Após várias alterações e resoluções e uma fase-piloto de um ano, SNCM entrará em vigor em abril de 2022, mas a adequação precisa ser iniciada até dezembro de 2020. Porém, a indústria farmacêutica atuante no Brasil está, de fato, preparada para esse novo ciclo?
Dois anos podem parecer muito tempo, mas não são. O SNCM exige que as farmacêuticas coloquem em prática muitos métodos e comportamentos novos. Isso inclui a implementação do nível de unidade de serialização, além de rastrear produtos à medida que elas se movem pela cadeia de suprimentos. As empresas também terão que enviar dados detalhados de transações entre si e para o governo.
O SNCM é, essencialmente, um sistema de modernização e todo ator da cadeia de suprimentos deve ser capaz de capturar, armazenar e trocar dados eletronicamente. Todos os produtos devem ter um código de barras GS1 DataMatrix, que contenha um Número Global de Item Comercial (GTIN), um Número de Registro de Medicamentos da Anvisa, um número de série exclusivo, uma data de validade e um número de lote. Tais medidas, aceitas internacionalmente, permitirão ao Brasil proteger seus quase 190 milhões de cidadãos contra problemas comuns na cadeia de fornecimento de drogas, incluindo medicamentos falsificados e roubo de carga.
Este é um grande passo para o país, a exemplo do que já ocorreu com sucesso na Europa e nos Estados Unidos. O SNCM deve ser celebrado como uma declaração de intenção de que a indústria farmacêutica brasileira seguirá as tendências globais de qualidade. E é preciso ter uma clara consciência de que a Anvisa não “tomará conta” da indústria farmacêutica e que as partes interessadas devem ser proativas agora para evitar, mais tarde, complicações com infraestrutura, logística e meio ambiente.
A implantação do SNCM é desafiadora, mas abre um campo de oportunidades para aprimorar a segurança e a confiança do paciente, uma tarefa há anos delicada para os laboratórios. A eficiência da cadeia de suprimentos e sua conformidade com padrões de rastreabilidade aplicados em todo o mundo também poderão escancarar portas para internacionalização da indústria farmacêutica.
Esse modelo auxilia a cadeia produtiva do início ao fim. Os fabricantes tornam-se mais preparados para lidar com deficiências no estoque e ganham elementos para selecionar seus fornecedores de maneira mais assertiva. O setor de distribuição aprimora suas ferramentas de controle e reforça a fidelização dos varejistas, que por sua vez conquistam mais confiança por parte dos consumidores. O cliente que se dirigir a uma farmácia terá a certeza de que o medicamento que procura é genuíno.
Um ponto de partida fundamental para iniciar e acelerar essa lição de casa é se fazer seis perguntas:
1. Como você desenvolverá sua estrutura de integração com parceiros comerciais e com a Anvisa?
2. O que você deve fazer entre agora e 2022, antes que a adoção seja mandatória?
3. Qual é a melhor maneira de incorporar códigos GS1 DataMatrix e números de série?
4. Quais são suas opções de colaboração com parceiros comerciais para garantir que você atenda a todos os requisitos em dezembro de 2020 e, posteriormente, em abril de 2022?
5. Como você pode garantir a conformidade para evitar multas, atrasos na cadeia de suprimentos, confiscos de produtos e perdas financeiras?
6. Quais áreas internas devo alocar para liderança e colaboração no que se refere à serialização e à rastreabilidade?
O mercado farmacêutico brasileiro movimenta em torno de US$ 31 bilhões anualmente, o que o credencia como sexto maior do mundo. Mas se não houver um entendimento claro de que a adoção desse sistema representará um selo de credibilidade, responsabilidade e transparência, o relógio poderá correr contra a indústria. Mais do que uma mudança nos processos operacionais, o Sistema Nacional de Controle e Medicamentos pressupõe um novo olhar sobre o negócio e sobre a integração com os parceiros comerciais, com um pensamento realmente coletivo.
* Vinicius Bagnarolli é diretor de operações na América Latina da rfxcel, empresa global especializada em soluções de rastreabilidade e serialização