Por conta das vacinas e sintomas mais leves, pacientes estão deixando de buscar atendimento. Mas pacientes com risco devem ser avaliados por um especialista a fim de evitar casos graves, alerta Cid Pitombo, médico e pesquisador do tratamento da obesidade
As vacinas trouxeram importante redução nos casos graves e óbitos por covid-19, mas pessoas que são do grupo de risco, como imunossuprimidos, obesos, pacientes renais em estágios avançados, portadores de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, fumantes, idosos, gestantes, puérperas e crianças menores de 5 anos, devem procurar atendimento médico, caso sejam contaminadas. O alerta vem do médico Cid Pitombo, especialista em tratamentos para obesidade e cirurgião bariátrico.
Nesta semana, o Brasil registrou aumento de mais de 600% de contaminados pelo novo coronavírus, atingindo a maior média móvel desde julho de 2021. No entanto, os óbitos permaneceram estáveis. No entanto, unidades hospitalares do país começam a indicar aumento de internações; a maioria de pacientes não vacinados.
“A vacina de Covid teve um resultado além das expectativas nos obesos e em outros grupos de risco. Consideramos muito boa a eficácia para que não tivessem complicações da doença, mas isso não significa que eles não devam ser acompanhados por um médico desde o aparecimento dos sintomas, mesmo que pareçam leves. Às vezes, a progressão da doença é imperceptível. A pessoa não tem falta de ar, mas pode estar com a oxigenação baixa. Acompanhamento, mesmo que seja à distância, se o paciente tem um oxímetro em casa para medir a quantidade de oxigênio que está chegando no sangue, é fundamental. O médico sabe a hora que é necessário pedir, por exemplo, um exame de sangue que mostra se está iniciando outras complicações, como o risco de trombose por coagulação sanguínea. Tem sido muito mais raro, mas ainda ocorre e todo cuidado preventivo pode fazer a diferença”, alerta Cid Pitombo, médico e pesquisador da obesidade. O especialista acompanha de perto há mais de duas décadas a realidade da obesidade com maior agravamento em doenças como influenza, diabetes, câncer, etc. Ele foi também o médico responsável pelo tratamento dos atores André Marques e Leandro Hassum.
Outro ponto de atenção para o médico é avaliar quando a pessoa necessita ou não de medicamentos como antibióticos e corticóides.
“É natural que a inflamação da mucosa da garganta por um vírus como o Sars Cov 2 produza dores fortes, a pessoa fica sem conseguir engolir, e os pacientes já correm para a farmácia para tentar comprar antibiótico sem receitas. Os médicos somente receitam antibióticos para pessoas que estão com febre alta de 39° e persistente, que não está baixando mesmo com o uso de antitérmicos.
Nesses casos, mesmo que não haja pus na parte visível da garganta, é recomendável entrar com uma medicação para combater possíveis infecções secundárias ao vírus, por bactérias. Porque isso pode ocorrer após o acúmulo de secreção na garganta, as bactérias podem se desenvolver também. Mas é necessário cautela. Não precisa ser no primeiro dia que a febre aparece no portador de Covid, porque em alguns ela chega alta, mas em dois dias já até some de vez. No dia seguinte já fica mais baixa. O médico avalia todo o quadro de sintomas do paciente antes de prescrever remédios que podem trazer outros problemas de saúde. Uma piora depois de alguns dias, por exemplo, pode ser uma infecção secundária”, explica.
Também são considerados grupo de risco para agravamento da COVID-19 pessoas que possuem enfermidades hematológicas, incluindo anemia falciforme e talassemia, imunodepressão provocada pelo tratamento de condições autoimunes, como o lúpus ou câncer, exceto câncer não melanótico de pele, ou doenças cromossômicas com estado de fragilidade imunológica.
O médico Cid Pitombo pede também que pessoas do grupo de risco não desistam de ser atendidas por um profissional de saúde, já que a demanda aumentou e a espera, até mesmo na telemedicina, tem sido maior.
“A gente sabe que o doente tem dificuldade de levantar para buscar atendimento, quer ficar na cama. Por isso a telemedicina ou atendimento por telefone tem sido tão boa. Pode até demorar um pouco mais, mas o atendimento vai chegar. Não pode é se cuidar sozinho, achando que porque vacinou não vai ter nada”.
Por fim, o apelo do médico é que as pessoas acompanhem as datas de vacinação e fiquem atentas às doses de reforço. “Muitas pessoas que podiam ter ido tomar a quarta dose ou a terceira, por exemplo, não foram e acabaram contraindo Covid nas festividades de fim de ano. E os relatos são de que tiveram sintomas mais fortes do que os vacinados com mais doses. Ou seja, foram sintomas que podiam ter sido evitados, como a forte inflamação na garganta e dores pelo corpo. A vacina é o que está evitando os óbitos nesse momento”.
Perfil do especialista – O médico Cid Pitombo é especialista em tratamentos de obesidade e cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, tendo se tornado referência nacional em seu segmento de atuação, com 30 anos de experiência, sendo 22 com bariátricas. Ao longo de sua carreira, realizou cerca de 5,5 mil cirurgias. Entre elas, 3,5 mil foram pelo Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica do Estado do Rio de Janeiro entre 2010 e 2020, coordenado pelo médico. É proprietário da Clínica Cid Pitombo, onde realiza atendimento multidisciplinar para tratamento de obesidade, com acompanhamento psicológico e nutricional para cerca de 100 pacientes por mês, de todo o Brasil. Tornou-se ainda mais conhecido ao operar os atores André Marques e Leandro Hassum, que contribuíram fortemente para disseminar a importância da cirurgia bariátrica. Tem mestrado e doutorado em temas ligados a obesidade e é editor do livro Obesity Surgery: Principles and Practice.