Outubro Rosa e Setembro Amarelo: a atenção à saúde mental de mulheres que enfrentam a jornada do câncer de mama

Paciente diagnosticada com a doença antes dos 40 anos se apegou à fé e à rotina para se manter forte durante o tratamento

Elaine Ribeiro tinha 34 anos quando recebeu por e-mail o diagnóstico de câncer de mama. A mamografia foi realizada por insistência de Elaine, pois o médico que a atendeu em consulta de rotina havia minimizado as chances do diagnóstico positivo, em razão de sua pouca idade.  A incidência do câncer de mama tende a crescer progressivamente a partir dos 40 anos.

De acordo com o oncologista e coordenador do Centro de Oncologia da Dasa em Brasília, Fernando Vidigal, especialistas têm notado um aumento da incidência de câncer de mama em mulheres com idade entre 30 e 35 anos. “O tipo de câncer que acometeu Elaine, o tipo her2+, era uma doença de prognóstico muito ruim e de difícil tratamento. Entretanto, nos últimos anos os tratamentos direcionados a este tipo específico de Câncer de Mama avançaram consideravelmente, revertendo o prognóstico”, explica o médico.

Hoje enfermeira, à época Elaine cursava o segundo semestre da graduação e havia passado por um processo de divórcio. Ela conta que só insistiu no exame porque estava cercada por campanhas do Outubro Rosa, ainda assim, a notícia foi um choque. “O diagnóstico veio como uma sentença de morte. Meu filho tinha 9 anos e eu só sabia pedir a Deus que não me levasse, porque eu sabia como ele ficaria sem mim. Naquele momento quem me acalmou e tranquilizou foi a médica que solicitou os exames. Ela explicou o que precisava ser feito e que, por mais agressiva que a doença fosse, havia sido diagnosticada precocemente, então as chances de recuperação eram maiores”, conta.

Após realizar a cirurgia para remover parte da mama esquerda e o equivalente simétrico da mama direita, Elaine iniciou a quimioterapia em fevereiro de 2016 e optou por dar continuidade à formação enquanto realizava o tratamento. “Continuei porque, para mim, naquele momento, se eu parasse, morreria. Precisava manter uma rotina o mais normal possível. A faculdade e os professores foram incrivelmente compreensivos. Sempre fui orientada a não ir além da minha capacidade.  Houve dias em que fui fazer prova sofrendo os efeitos colaterais da quimio. Ainda assim, pude contar com o apoio de muita gente ao meu redor”, explica.

Durante essa fase do tratamento, Elaine e o filho passaram a fazer acompanhamento com psicólogo. Após pouco mais de 1 ano de sessões, ela recebeu alta da terapia. “A psicóloga estava surpresa. Não vivenciei dificuldades mentais profundas depois de entender que aquele diagnóstico não era uma sentença de morte. Mas meu maior problema nesse período foram os efeitos colaterais do tratamento. O que me fez sofrer foram os sinais físicos, que nunca diminuíam, só surgiam novos a cada semana, me fazendo ir atrás de especialistas para cuidar de cada efeito colateral”, relata ela.

Para a enfermeira, sua fé e os profissionais pelo caminho foram essenciais para manter a esperança. “A fé me fez ir em frente. Acreditar que tudo aquilo tinha um propósito e que eu precisava aprender alguma coisa com aquele problema para sair logo dele, me fazia continuar. Eu só posso agradecer o tratamento humanizado vindo de todos os profissionais por quem passei. Ter informações claras sobre cada etapa do tratamento também me deixou mais tranquila apesar de tudo”, relata ela.

Elaine ainda não recebeu alta. Neste momento o tratamento segue com comprimidos orais e sob a supervisão da equipe de oncologia do Hospital Brasília. “Ainda restam alguns anos de acompanhamento médico até podermos dizer que ela venceu o câncer”, explica o médico que a acompanha, Dr. Fernando Vidigal.

Mas a lição que já ficou marcada na vida da enfermeira foi a necessidade de ter empatia com o próximo. “É muito comum as pessoas perguntarem se você está bem e não se importarem de fato com a resposta, com o que você está sentindo verdadeiramente. A pessoa que está tratando um câncer sente na pele e no coração. É importante olhar para as pessoas e enxergar além da boa educação, é preciso ter empatia e enxergar as pessoas de verdade”, conclui.

O oncologista destaca a importância do diagnóstico precoce para a recuperação da paciente. “Apesar da pouca idade, Elaine logo foi atrás de exames específicos. Podemos dizer que a atitude foi essencial para podermos iniciar o tratamento o quanto antes, aumentando significativamente as chances de recuperação. É muito importante que essa mensagem fique clara: exames de rotina e atenção aos sintomas, mesmo que leves, faz toda a diferença no combate ao câncer de mama. É preciso que esse cuidado se estenda durante todos os meses do ano, não apenas no mês de conscientização sobre o Câncer de Mama. O Outubro Rosa é o ano todo”.

Desde agosto passado, a Dasa começou uma grande campanha de conscientização para prevenção e detecção precoce do câncer de mama. “Outubro Rosa Agora” quer lembrar as mulheres a importância do tema em todos os meses do ano.