Apesar disso, mais de 10% dos participantes da pesquisa ainda dizem não saber o que fazer para cuidar da saúde emocional e 15% diz não fazer nada

O Instituto Oncoguia, organização de apoio ao paciente com câncer, completou a segunda fase de um levantamento de dados com pacientes para conhecer os impactos do coronavírus em suas vidas e em seus tratamentos. Na primeira fase, realizada entre abril e maio, 53% dos participantes declararam que uma das áreas mais impactadas pela pandemia foi a emocional. Na nova rodada, realizada em julho, este número subiu para 58%. Dentre os sentimentos mais presentes na vida destas pessoas, medo e ansiedade lideraram a lista nas duas etapas do levantamento.

“Podemos dizer que o paciente oncológico está duplamente impactado: pelo diagnóstico do câncer e agora pela pandemia. Sem dúvida nenhuma temos que garantir e oferecer formas para que ele consiga cuidar também da sua saúde emocional”, comenta a fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz.

E como estes pacientes estão se cuidando?

Nas duas fases da pesquisa realizada, a espiritualidade apareceu como a principal forma de auto cuidado por 52% na primeira etapa e 57% na segunda. Em seguida vem a prática de atividades físicas, meditação e relaxamento, grupos de apoio, cursos on-line e conversas temáticas.

O que chama a atenção é que, além dos 10% que não sabem o que fazer, cerca de 15% dos participantes disseram não estar fazendo nada para cuidar da saúde emocional.

“Na assistência prestada às pessoas que sofrem enquanto enfrentam uma doença que ameaça seus planos e sonhos, a espiritualidade desponta como um importante fator de humanização. Neste momento, quando as adversidades trazidas pela pandemia parecem somar às dores já existentes, as pessoas sentem-se mais vulneráveis. O uso da religião, da espiritualidade ou da fé tem sido, cada vez mais, primordial para lidar com o estresse e as suas consequências”, afirma Regina Liberato, psicóloga e psico-oncologista, coordenadora do Comitê de Saúde Emocional do Oncoguia.

Outros dados importantes

Na etapa realizada entre abril e maio, 41% dos participantes declararam que a pandemia havia impactado diretamente em seus tratamentos oncológicos. Na nova rodada, realizada em julho, este número caiu para 31%, mostrando que, aos poucos, a rotina do paciente oncológico começa a ser retomada.

Tanto o impacto quanto a diferença da primeira para a segunda fase foram maiores em pacientes do SUS. Destes, 59% tiveram alguma alteração no tratamento no início da pandemia e 41% declararam que ainda estão sendo impactados. Na saúde privada, esses números passaram de 30% para 24%.

Chama a atenção o aumento no número de pacientes que responderam que a decisão de cancelamento ou adiamento do tratamento foi resultado de uma decisão compartilhada entre médico e paciente. Na primeira fase, só 5% marcaram essa alternativa. Agora, subiu para 19%. Ainda assim, a decisão institucional segue sendo a maioria (72% na primeira fase e 66% na segunda).

“O paciente continua com medo, mas já entendeu que seu tratamento não pode ser interrompido. Para que se sinta seguro, vemos como necessário o conhecimento sobre protocolos e medidas de segurança adotadas pelas instituições onde se tratam”, destaca Luciana.

Quando questionados na pesquisa sobre quais protocolos de segurança foram adotados pelos locais onde se tratam, as principais respostas foram: medição de temperatura na porta de entrada (SUS 53%, saúde privada 70%); solicitação para não levar acompanhante (SUS 41%, privado 50%); perguntas sobre estado geral de saúde na entrada da instituição (SUS 39%, privado 55%) e área separada para oncologia e/ou quimioterapia (SUS 37%, privado 51%).

Apesar da importância, ainda existem pacientes (16% no SUS e 7% na saúde privada) que não tem conhecimento sobre as práticas de segurança, ou que ficaram sabendo somente na chegada da instituição (57% no SUS e 32% da saúde privada). “Acreditamos que as instituições precisam melhorar essa comunicação com o paciente, deixando claro que estão totalmente preparadas para recebê-los”, comenta Luciana Holtz.

Metodologia

A primeira rodada do levantamento foi realizado num período de 55 dias entre abril e maio, e contou com 562 respostas. Na segunda fase, foram 9 dias de pesquisa em julho, com 439 respostas. Somando as duas etapas, 1.001 pessoas responderam ao levantamento. Cerca de 84% dos respondentes eram pacientes oncológicos, a grande maioria mulheres e pacientes de câncer de mama, com mais de 50% dos participantes entre 40 e 59 anos de idade. Além disso, 52% eram usuários de planos de saúde e 34% pacientes do SUS. Tanto a primeira quanto a segunda fase foram feitas por formulário on-line divulgado nos canais de comunicação do Instituto Oncoguia.

Sobre o Instituto Oncoguia

O Instituto Oncoguia é uma associação civil sem fins lucrativos fundada em 2009. Tem como missão ajudar o paciente com câncer a viver mais e melhor por meio de ações de educação, conscientização, apoio e defesa dos direitos dos pacientes.