A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) acaba de aprovar a imunoterapia pembrolizumabe (Keytruda®), anti PD-1 da MSD, para o tratamento de pacientes adultos com Linfoma de Hodgkin clássico refratário (quando a doença não responde ao tratamento prévio) ou recidivado (quando a doença volta a aparecer após o término do tratamento prévio) à partir da 2º linha de tratamento. A ANVISA também aprovou pembrolizumabe para o tratamento de pacientes pediátricos, com idade igual ou superior a 3 anos, com Linfoma de Hodgkin clássico refratário, ou que tenham recidivado após 2 ou mais linhas de terapia.

A aprovação para a população adulta é baseada nos resultados do estudo de Fase 3 KEYNOTE-204 que atingiu o objetivo primário com pembrolizumabe, reduzindo significativamente o risco de progressão da doença ou morte em 35% em comparação com o brentuximabe vedotin (BV). Além disso, a mediana de sobrevida livre de progressão foi de 13,2 meses para pacientes tratados com pembrolizumabe e 8,3 meses para pacientes tratados com BV.

O KEYNOTE-204 (1) é um estudo clínico randomizado, aberto e controlado, que incluiu 304 pacientes com LHc recidivado ou refratário. O estudo envolveu adultos com doença recidivada e ou refratária após pelo menos um regime de tratamento quimioterápico. Os pacientes foram randomizados 1: 1 para receber a cada três semanas por via intravenosa com pembrolizumabe 200 mg ou BV 1,8 mg / kg.

O tratamento foi continuado até toxicidade inaceitável, progressão da doença ou um máximo de 35 ciclos (até aproximadamente dois anos). A avaliação da doença foi realizada a cada 12 semanas. A randomização foi estratificada por transplante autólogo prévio e estado da doença após a terapia de primeira linha. A principal medida de eficácia foi a sobrevida livre de progressão, avaliada por revisão central independente cega.

A aprovação para a população pediátrica, é baseada no estudo KEYNOTE-051, que incluiu 161 pacientes pediátricos (62) pacientes com idade entre 6 meses e menos de 12 anos e 99 pacientes com 12 a 17 anos) que receberam pembrolizumabe 2 mg/kg a cada 3 semanas. A duração média da exposição foi de 2,1 meses (intervalo: 1 dia a 24 meses).

As reações adversas que ocorreram em uma taxa ≥10% em pacientes pediátricos quando comparados aos adultos foram: febre (33%), vômitos (30%), leucopenia (30%), infecção do trato respiratório superior (29%), neutropenia (26%) , dor de cabeça (25%) e anemia de grau 3 (17%).

O tratamento de LHc refratário ou recidivado em crianças e adolescentes segue estratégias baseadas em adultos, com poliquimioterapia seguida de Transplante Autólogo de Células Tronco (2;3). Em pacientes que foram anteriormente refratários ou recidivados à 1ª ou 2ª linha de quimioterapia, especialmente aqueles com doença de alto risco, as opções existentes de tratamento não são satisfatórias, deixando pouca expectativa de benefício e toxicidade adicional.

“A imunoterapia para o tratamento da doença refratária bem como a indicação para pacientes pediátricos era muito esperada no Brasil. “Os pacientes com Linfoma de Hodgkin que não alcançam remissão após o tratamento inicial ou que recaem após o transplante tem um prognóstico ruim, refletindo a necessidade não atendida de terapias melhores no cenário de recidiva / refratário”, explica o Onco-hematologista Dr Guilherme Perini, que completa: “Com esta aprovação, pembrolizumabe tem o potencial de mudar o padrão atual de tratamento e ajudar esses pacientes a obter melhores resultados”.

Linfoma de Hodgkin
O linfoma de Hodgkin é um tipo de câncer relativamente raro, que se origina no sistema linfático, conjunto composto por órgãos (linfonodos ou gânglios) e tecidos que produzem as células responsáveis pela imunidade.

A doença surge quando um linfócito (célula de defesa do corpo) se transforma em uma célula maligna, capaz de multiplicar-se descontroladamente e disseminar-se. Quando não tratadas, essas células malignas podem atingir outras partes do corpo. A doença origina-se com maior frequência nas regiões do pescoço e tórax, denominada mediastino
.
Segundo a American Cancer Society (4), o linfoma de Hodgkin pode acometer crianças e adultos, mas é mais comum no início da idade adulta, especialmente na faixa dos 20 anos. O risco de desenvolver a patologia aumenta novamente ao final da vida adulta, após os 55 anos. Em geral, a idade média do diagnóstico é 39 anos .

No Brasil, são estimados 2.640 novos casos de linfoma de Hodgkin em 2020, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) (5). Vale ressaltar que a maioria dos pacientes com a doença podem ser curados devido ao avanço dos tratamentos disponíveis atualmente.

Referência:
1 – National Library of Medicine. Acessado em 14/10/2020. Disponível em: https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT02684292

2;3 – Shankar A, Hayward J, Kirkwood A, McCarthy K, Hewitt M, Morland B, et al. Treatment outcome in children and adolescents with relapsed Hodgkin lymphoma-results of the UK HD3 relapse treatment strategy. Br J Haematol. 2014 May;165(4):534-44.

4 – American Cancer Society. Acessado em 15/10/2020. Disponível em https://www.cancer.org/cancer/hodgkin-lymphoma/about/key-statistics.html#written_by Shankar A, Hayward J, Kirkwood A, McCarthy K, Hewitt M, Morland B, et al. Treatment outcome in children and adolescents with relapsed Hodgkin lymphoma-results of the UK HD3 relapse treatment strategy. Br J Haematol. 2014 May;165(4):534-44.

5 – Instituto Nacional de Câncer (INCA). Acessado em 14/10/2020. Disponível em https://www.oncoguia.org.br/conteudo/estatistica-para-linfoma-de-hodgkin/7705/321/